Sanções contra o setor aéreo poderá forçar a Rússia a reativar a produção de aeronaves soviéticas
A Rússia deverá retomar a produção de aeronaves com tecnologia própria e promete avançar no desenvolvimento do regional SSJ100 construído apenas com componentes russos.
O governo russo ainda promete resolver o impasse do MS-21, que foi desenvolvido utilizando a maior parte de seus sistemas e componentes fornecidos por fabricantes ocidentais.
Há vários anos Moscou tem anunciado que estava trabalhando na nacionalização completa do SS100, conhecido como Superjet, e que contava com participação da indústria ocidental, sobretudo da França e Itália. O movimento ocorreu logo após os primeiros embargos após a anexação da Criméia, antigo território ucraniano, em 2014.
O projeto estava já em andamento, ao contrário do MS-21 que foi projetado para utilizar a maior parte de seus sistemas de fornecedores europeus e norte-americanos. Por ora, a UAC, conglomerado estatal que é responsável pelo projeto, afirma que está avaliando uma solução de curto prazo para o avião. O entrave é que o MS-21 foi certificado pelas autoridades russas em dezembro do ano passado, e uma mudança de fornecedores significa reiniciar do zero toda a campanha de ensaios.
“Na prática a Irkut [empresa do grupo UAC] terá que reprojetar o avião. Mudar os sistemas significa redesenhar o avião quase do zero. Vai além de uma atualização de aviônicos ou motores, o projeto é quase todo sustentado em sistemas importados”, explicou Marcelo Andrade, engenheiro aeronáutico.
A Rússia ainda afirma que poderá retomar produção dos veteranos Ilyushin Il-96 e Tupolev Tu-214, que tiveram poucas unidades produzidas e destinadas basicamente ao próprio governo.
O Il-96 é um quadrimotor de fuselagem larga desenvolvido nos anos 1990 a partir do Il-86, este na década de 1980 ainda na União Soviética. As duas gerações do avião eram consideradas bastante obsoletas na época de seu lançamento, fazendo com que a Aeroflot, na época a empresa aérea estatal soviética, logo após o fim da União Soviética se desfizesse dos quadrimotores. O Il-96 chegou a operar comercialmente nas empresas aéreas russas ao longo dos anos 2000, mas também foram substituídos por modelos ocidentais mais eficientes e modernos, como a família A330 e A340, da Airbus, e os Boeing 767 e 777 da Boeing.
Em 2015, a UAC anunciou o desenvolvimento do Il-96-400M, uma versão atualizada e voltada para competir diretamente com os 777 e A350, mas não houve interesse de nenhuma empresa aérea russa no modelo.
No ano passado, os dois protótipos que chegaram a cumprir a maior parte da campanha de ensaios em voo foram desativados e passaram a ser convertidos como posto de comando aéreo avançado, e destinados a força aérea da Rússia.
Outro modelo local que não despertou o interesse do mercado local foi o Tupolev Tu-214, versão modernizada do também soviético Tu-204, que foi criado para competir na faixa de mercado dos Boeing 757 e mais tarde dos Airbus A321. Porém, a família Tu-204 e Tu-214 teve uso limitado com menos de 90 aviões produzidos. Os poucos modelos em serviço na Rússia foram destinados a força aérea. Um dos destaques é o Tu-214ON, utilizado pelo programa Treaty on Open Skies, que previa o uso de uma aeronave de monitoramento de armas nucleares e autorizado a voar sobre os Estados Unidos e seus aliados, sem a necessidade de autorizações especiais. O avião é equipado com sensores para monitorar o arsenal atômico dos países membros da Otan. Da mesma forma os Estados Unidos utilizavam seus aviões para o mesmo tipo de missão sobre a Rússia.
Os embargos e sanções impostos ao setor aeroespacial russo devem trazer graves consequências a indústria aeronáutica do país, em especial ao programa MS-21 que tinha condições de rivalizar com os Airbus A320neo e 737 MAX.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 18/03/2022, às 17h40
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