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O piloto de testes

Frank Chapman


 Foto Giuliano Agmont

Ainda adolescente, o inglês Frank Chapman começou a voar aviões leves e planadores. Mais tarde, entrou para a Royal Air Force, e estudou engenharia. Chegou a ser piloto de Harrier e voar jatos Phantom na Alemanha. Tempos depois, tornou-se piloto de testes e mudou-se para França, onde se especializou em sistemas eletro-ópticos de aviões de caça. Esteve, ainda, nos Estados Unidos para participar do teste do sistema de armas do F-16, mas voltou para a Europa para pilotar aeronaves Airbus A330 e A320. Finalmente, após sete anos, em 2004, recebeu da Airbus um convite para integrar o time de testes de voo no programa A380. Atualmente, aos 54 anos de idade, Frank Chapman é um dos responsáveis pelo programa de testes de voo do Airbus A350 XWB. Em Toulouse, na França, sede do consórcio europeu para o qual trabalha, o piloto falou a AERO Magazine sobre o novo jato.

AERO - Como foi o processo antes do primeiro voo?
FRANK -
Enquanto o avião era montado, colocávamos nele todos os equipamentos de testes. É um processo complicado. Temos uma numerosa equipe de engenheiros que trabalhou para a instalação desses sistemas, sempre com a missão de deixar o A350 totalmente seguro para voar.

- Do ponto de vista do piloto, quais são as diferenças entre o A350 e os demais modelos Airbus?
-
Há uma grande comunalidade entre todos os produtos da Airbus. A filosofia é a mesma em termos de características de voo. Isso vale para a utilização de side sticks, manetes de potência, controle de flaps, entre outros. Ou seja, ao entrar na cabine de um A350, o piloto de qualquer outro Airbus atualmente em produção notará pequenas diferenças, que poderão ser apreendidas rapidamente com adaptação muito fácil.

- Mas qual é a principal diferença na cabine de comando do A350?
-
O que chama mais a atenção é o grande tamanho das telas. Estamos usando o mesmo sistema de imagens do A380, que diminuiu muito a carga de trabalho dos pilotos. Por outro lado, o sistema de checklists é muito mais simples.

"Ao entrar na cabine de um A350, o piloto de qualquer outro Airbus atualmente em produção notará pequenas diferenças, que poderão ser apreendidas rapidamente com adaptação muito fácil"

- Qual tem sido a importância dos simuladores de voo no programa de testes do A350?
-
A intenção do simulador foi aprender o máximo possível sobre a aeronave antes de realizar o primeiro voo. O sistema representa fielmente todos os aspectos do voo real. Ele conta com um hardware de cabine igual ao que será utilizado no avião real, os mesmos computadores nos controles de voo, os quais reproduzem exatamente todas as fases da operação do avião, tanto no solo quanto durante o voo e, com ele, é possível reproduzir quaisquer eventuais problemas e estudar a sequência de procedimentos para resolvê-los, tornando o primeiro voo e o programa de testes totalmente seguros.

- O que prevê o programa agora, na fase de testes em voo?
-
Após o primeiro voo, começam os verdadeiros testes. Os dez primeiros voos, pelo menos, são destinados a conhecer realmente a aeronave. Eles são muito importantes para o posterior desenvolvimento das características aerodinâmicas de voo do A350 que serão adotadas para o processo de certificação. Estudamos as características de decolagem e pouso da aeronave. E fazemos inúmeros testes antes de congelar totalmente o projeto e entregar o jato ao primeiro cliente.

- Que tipo de testes?
-
São inúmeros testes. Um exemplo é o de operações em pistas molhadas. Testamos o comportamento da borracha das rodas e, também, como a água afeta os circuitos hidráulicos, os freios, os motores e a célula. Basicamente, avaliamos como se comporta a aeronave em operações com mau tempo e confirmamos qual é a distância necessária para decolar e pousar com segurança nessas condições. Outro exemplo de teste seria o desvio de algum obstáculo na pista durante a corrida para a decolagem.

- O que mudou no cockpit dos aviões Airbus após o acidente do A330 do voo AF447?
-
É muito importante que as tripulações entendam o que está ocorrendo dentro do cockpit. No processo de certificação de uma aeronave, nós nos preocupamos com a interação homem/máquina. Na Airbus temos uma grande equipe especializada em fatores humanos, que está envolvida no processo de desenvolvimento de novas tecnologias. Na medida em que os aviões ficam cada vez mais complicados, é importante manter um cockpit simples para os pilotos. Até porque, é mais provável que os pilotos se confundam quanto maior for sua carga de trabalho. No que se refere especificamente ao acidente, a filosofia do cockpit continua praticamente a mesma, apenas foi aumentada a redundância dos sistemas, proporcionando ainda mais segurança.

- Em sua opinião, questões associadas à desorientação dos pilotos no cockpit representam um problema?
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Não, acredito que não, o treinamento é muito importante. Esse é o principal aspecto. No último ano, tem-se discutido muito a respeito de como e com que frequência devem ser realizados os treinamentos. Todo mundo concorda que os treinamentos devem ser melhorados e tenho certeza de que estamos no caminho certo.

Texto E Foto Giuliano Agmont, De Toulouse
Publicado em 11/07/2013, às 07h46 - Atualizado em 02/08/2013, às 23h53


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