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Do helicóptero ao eVTOL

Diego Medeiros anuncia um novo projeto, o Instituto Brasileiro de Asas Rotativas

Instituto Brasileiro de Asas Rotativas surge para discutir desafios do mercado de helicópteros e chegada dos eVTOL


Imagem Diego Medeiros anuncia um novo projeto, o Instituto Brasileiro de Asas Rotativas

A história do carioca Diego Medeiros com a aviação tem entretons surpreendentes. Ainda jovem, perto de se formar no colégio e influenciado por um amigo, encantou-se pelo voo ao frequentar o aeroporto de Jacarepaguá e decidiu que queria pilotar helicópteros. O desafio seria conseguir arcar com os custos de instrução.

Não teve dúvidas, recorreu à avó, que era pensionista justamente da Força Aérea Brasileira e poderia ajudá-lo. Qual não foi sua surpresa ao ouvir dela uma resposta quase impiedosa: “Nunca, já perdi um grande amor da minha vida para a aviação; não vou perder mais um”. O neto descobriu naquela conversa que o avô havia morrido em um acidente aéreo quando seu pai ainda era criança.

Depois do baque, o garoto acabou se tornando contador e fez carreira no mercado de auditoria, trabalhando para algumas das principais consultorias do mundo e se tornando um executivo bem-sucedido lidando com finanças.

Passados alguns anos, no início dos anos 2010, quis o destino que aquele menino que queria se tornar piloto aos 17 anos de idade fosse chamado para administrar uma operadora de táxi-aéreo, a Bristow, com atuação na indústria de petróleo e gás, o chamado offshore.

Mais recentemente, em plena pandemia, Diego Medeiros assumiu o cargo de CEO do Helipark, entrelaçando de vez a sua vida à rotina dos helicópteros: “Uma ironia... um garoto que sonhava ser piloto de helicóptero aos 17 anos se tornar presidente do maior centro de serviços especializados para aeronaves de asas rotativas da América Latina”.

Em 2024, atento aos movimentos do mercado, Diego Medeiros anuncia um novo projeto, o Instituto Brasileiro de Asas Rotativas (IBAR), que surge com o objetivo de reunir representantes de mobilidade aérea vertical para discussões de aspectos e desafios do setor.

Empresas, associações, profissionais e autoridades vão ter no instituto um elo para debater uma pluralidade de ideias sobre o desenvolvimento e a segurança no segmento. Nesta entrevista exclusiva à AERO Magazine, Medeiros fala sobre as expectativas de uma maior união dos vários vértices do mercado de asas rotativas, o futuro do setor no Brasil, a importância do IBAR como palco de debates e a chegada dos eVTOL. 

  • Como surgiu a ideia de criar o IBAR?

Surgiu em conversas dentro do Helipark. Há dois anos, ao lado da Andreia Zwetsch, nossa diretora Comercial e de Marketing, comecei a plantar a semente. A gente conversava muito sobre as mudanças e os desafios pelos quais a aviação de asa rotativa passaria, e já está passando... E o setor tem um grave problema: é muito pulverizado. De um lado, você tem os fabricantes, que idealizam o produto e têm expectativa de que ele vai sair voando, vai ser absorvido pelo mercado rapidamente. De outro lado, você tem os pilotos, que ficam preocupados com o futuro, já que em algum momento teremos aeronaves que não precisarão de piloto. Tem ainda o lado da infraestrutura, o lado da manutenção… então, você consegue olhar isso por várias óticas diferentes, e falta um ente que permita a convergência de todos os lados, um caminho comum que seja benéfico para a sociedade. 

  • Acha que falta união ao setor?

Essa foi a grande questão. Daí que surgiu o IBAR, como um pool de ideias. Queremos trazer todo o mundo para a mesma página, discutir os assuntos e, se possível, chegar a um alinhamento. Temos o apoio da Vertical Association International (VAI), a antiga HAI. O presidente e CEO da VAI, James Viola, já confirmou a parceria para iniciativas adotadas pelo IBAR no Brasil.  

  • Quem vai integrar o instituto?

Será o mais aberto possível, para todas as pessoas, as empresas, as associações representativas de cada área. Todo o mundo que tiver representantes para se sentar em volta de uma mesa e interesse em discutir as questões poderá participar, para termos pluralidade de ideias. A ideia é reunir empresas, associações, autoridades e profissionais do setor em uma discussão abrangendo os múltiplos aspectos do desenvolvimento sustentável e seguro da mobilidade aérea vertical. Queremos unir as principais mentes do setor para refletir sobre as dificuldades e buscar soluções que contribuam para uma transição segura, considerando as questões de infraestrutura, mão de obra, pesquisa, tecnologia e assim por diante. Toda inovação gera inicialmente algum desconforto e até desconfiança. Queremos usar o nosso networking e conhecimento em favor da união e desenvolvimento do mercado, favorecendo a indústria e a sociedade. O Instituto atuará na promoção de um debate profundo e abrangente por meio de eventos, como seminários, palestras e workshops. Atuaremos como um think tank, uma organização independente e plural, que contribuirá para a segurança e acessibilidade da aviação vertical no Brasil. 

  • Sobre a questão da segurança de voo, como o instituto pode contribuir para que haja um incremento da segurança das asas rotativas? 

Todo o mundo que está na indústria tem de levantar essa bandeira, inclusive o instituto e outras associações. O IBAR pode ter um papel muito relevante ao se sentar à mesa com todos os players e propor medidas que possam, de certa forma, organizar o cenário, conversando com todos os envolvidos. Vamos discutir, juntos, a criação de horários, corredores e altitudes em prol da segurança de voo. Até o final do ano, queremos fazer alguns eventos virtuais de discussão e pelo menos dois presenciais, onde consigamos justamente unir todos em busca de denominadores comuns. 

  • E quanto aos eVTOL, os veículos aéreos elétricos de pouso e decolagem verticais. O que se imagina são aeronaves cumprindo missões urbanas de táxi-aéreo, provavelmente acionadas por aplicativo, a um custo mais acessível em comparação ao dos helicópteros. Em sua opinião, os eVTOL serão uma realidade no médio prazo? Sabemos que há o desafio tecnológico na eficiência energética, a questão da regulamentação, a concorrência com os helicópteros nos grandes centros, o problema ambiental associado ao descarte das baterias e os custos.  

Acho que é um processo irreversível. Tem muita gente investindo, apesar do custo alto para se obter qualquer evolução em tecnologia. A gente discutia carro elétrico há dois anos e muita gente achava que era inalcançável. Hoje, o que mais se vê é carro elétrico na rua, a um custo muito mais acessível do que era. Se você juntar toda a tecnologia disponível em um produto só, de forma segura, creio que vai acontecer. E tem a vantagem de ser bem mais barato para o usuário final do que o helicóptero, por causa da quantidade de peças, por exemplo, mas existe um caminho até se provar ser tão seguro quanto um helicóptero.  

  • Você consegue imaginar um tempo para que isso aconteça? 

Olha, todos os anos, os prazos dos cronogramas são adiados. Mas acredito que, em 2026, já vai ser uma realidade muito próxima. Talvez já operando aqui no nosso quintal, mas não ainda tão popular quanto a gente gostaria que fosse. Existem muita empresa desenvolvendo soluções e tentando chegar a um modelo. Em algum momento essas tecnologias vão convergir ou teremos uma combinação de empresas. 

  • Mudando de assunto, como está o mercado de helicópteros no Brasil hoje?

Continua sendo um mercado comprador, com aeronaves chegando no Brasil, mas não saindo. Pode ser que a gente tenha chegado no platô? É difícil saber. Mas o mercado em si ainda vai muito bem. 

Por Giuliano Agmont, de Carapicuíba
Publicado em 05/11/2024, às 14h00


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