AERO Magazine
Busca

Desafios com novos talentos

Alexandre Peronti detalha a estratégia da LATAM para formar profissionais de manutenção

O diretor do Centro de Manutenção da LATAM Airlines fala sobre os investimentos em capacitação técnica, no programa Mantra e em automação de processos com IA


Imagem Alexandre Peronti detalha a estratégia da LATAM para formar profissionais de manutenção

Durante o MRO Brasil 2025, em São Paulo, Alexandre Peronti, diretor do Centro de Manutenção da LATAM Airlines, detalhou à AERO Magazine as principais transformações em curso na manutenção aeronáutica, com ênfase na ampliação da formação técnica, no papel da Escola LATAM na qualificação de novos profissionais, na adoção da filosofia lean, no programa Mantra e na aplicação de inteligência artificial nos processos de inspeção e manutenção.

  • A competição de manutenção promovida pela LATAM foi o grande destaque da feira. Como surgiu essa iniciativa?
    A competição é a novidade deste ano. Queríamos criar algo que despertasse o interesse dos alunos e do público pela aviação. As provas foram elaboradas pelos nossos instrutores e inspetores do MRO em São Carlos, simulando situações reais de trabalho na manutenção aeronáutica. Além de técnica, a competição é divertida e ajuda a identificar talentos que poderão integrar o setor no futuro.
  • Como vocês equilibraram o nível técnico das provas para torná-las acessíveis aos participantes?
    Buscamos adaptar tarefas do nosso dia a dia no cheque C, de complexidade variada, para o nível de conhecimento dos alunos. A ideia foi manter o desafio, mas sem perder o caráter formativo. Assim, o participante vivencia atividades reais e fundamentais à rotina de um mecânico de aviação.
  • A LATAM também criou sua própria escola de formação. Você pode contar mais sobre esse projeto?
    A Escola LATAM nasceu da necessidade de formar profissionais qualificados para sustentar o crescimento da companhia, que vem aumentando entre 9% e 10% ao ano no Brasil. Para garantir essa expansão de forma sustentável, precisamos investir em capacitação. Começamos o projeto internamente, oferecendo formação em mecânica para colaboradores de outras áreas que demonstravam interesse em migrar para a manutenção. A iniciativa teve resultados tão positivos que decidimos abrir vagas para o público externo. Inicialmente foram 20 vagas, mas a procura foi tão alta que ampliamos para 60. O curso ocorre nas nossas próprias instalações, com estrutura idêntica à usada pelos mecânicos da empresa. Nosso propósito é abrir caminho para quem sonha em trabalhar com aviação, mostrando que é possível construir carreira em um setor técnico e inovador. Além disso, a escola cria um ecossistema que integra ensino, prática e cultura corporativa, fortalecendo toda a cadeia de manutenção.
  • Qual é o principal atrativo para quem deseja ingressar na manutenção aeronáutica?
    A aviação é fascinante e tecnologicamente avançada. O profissional trabalha com equipamentos de ponta e tem a chance de atuar em um setor globalizado. Operamos desde narrowbodies, como o A319, até widebodies, como o Boeing 787, o que amplia o leque de oportunidades para quem busca especialização técnica. Além disso, é uma carreira que oferece estabilidade, aprendizado contínuo e a satisfação de contribuir diretamente para a segurança e a operação das aeronaves — algo que poucos setores proporcionam.
  • Quais são hoje os maiores desafios do MRO brasileiro?
    O principal gargalo é a formação de novos profissionais. Precisamos garantir mão de obra qualificada para acompanhar o crescimento do setor. Por isso, aproximamos o MRO das instituições de ensino e criamos nossa escola própria. Queremos mostrar que, embora a aviação exija estudo e dedicação, ela é acessível a quem tem interesse e comprometimento.
  • A LATAM implantou o programa Mantra. Qual é a proposta dessa iniciativa?
    O Mantra — manutenção e transformação — foi lançado em 2022 e busca formar mecânicos que também sejam agentes de melhoria. Baseado na filosofia Lean, o programa incentiva cada colaborador a propor soluções mais eficientes e seguras. Com 4 mil funcionários no Brasil, imagine o impacto de todos atuando com essa mentalidade.
  • Como a inteligência artificial está sendo aplicada nas operações do MRO?
    Desde 2019 utilizamos drones com IA para inspeções externas de aeronaves. O sistema identifica danos e cruza as imagens com um banco de dados, tornando o processo até 12 vezes mais rápido. No entanto, sempre há validação humana. A IA é uma ferramenta de apoio, e seu avanço depende também da atualização dos regulamentos aeronáuticos.
  • A formação técnica também pode se beneficiar da IA?
    Sem dúvida. Hoje já é possível usar IA para criar conteúdos complementares, como podcasts gerados a partir de manuais técnicos, auxiliando na aprendizagem. A combinação entre tecnologia, educação e prática profissional torna a formação mais dinâmica e moderna. O futuro da manutenção está nessa integração entre pessoas qualificadas e ferramentas inteligentes.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 22/09/2025, às 08h00


Mais Entrevista