Com ganhos de peso, modificações no jato PC-24 garantem incrementos de desempenho, além da opção de colocar uma galley traseira ou um divã na cabine de passageiros
No final de 2023, durante a NBAA-BACE, a Pilatus anunciou que havia obtido consideráveis ganhos de desempenho para o PC-24, com ampliação da carga útil e alcance, além de melhorias no interior.
O aumento nos números ocorreu após um aprimoramento de elementos estruturais de asa e fuselagem, permitindo reduzir o peso de aproximadamente 700 componentes, que foram redesenhados ou tiveram seu método construtivo aperfeiçoado.
Assim, o PC-24, a partir das primeiras entregas de 2024, teve um alcance máximo com seis passageiros ampliado para 2.000 milhas náuticas (3.704 quilômetros), uma melhora sensível de 200 milhas náuticas (370 quilômetros), o que ocorreu após um aumento de 600 libras (272 quilos) na carga útil total de combustível e na capacidade de carga paga.
Com as melhorias, o PC-24 agora oferece uma carga útil total de combustível, em operação single-pilot, adicional de 1.315 libras (596 quilos) e apresenta uma capacidade de carga útil máxima de 3.100 libras (1.406 quilos).
As melhorias ainda permitiram ao PC-24 manter suas capacidades operacionais em pistas curtas ou não preparadas, podendo no peso máximo de decolagem, ao nível do mar, exigir apenas 941 metros de pista.
“O aumento da carga útil foi alcançado por meio do refinamento dos elementos estruturais da asa e da fuselagem para reduzir o peso vazio da fuselagem e, ao mesmo tempo, aumentar o limite máximo de peso bruto de decolagem”, destacou Bruno Cervia, vice-presidente de engenharia da Pilatus.
Para validar as mudanças de quase 1.000 itens, a Pilatus teve de realizar uma extensa campanha de testes e ensaios em voo para permitir expandir o novo envelope de voo considerando pesos operacionais maiores e a redução no peso estrutural da aeronave. Informalmente, executivos da Pilatus passaram a considerar o PC-24 não como um jato leve, mas um jato muito leve, em uma brincadeira com o fato de a redução de peso ter tornado o avião mais capaz.
Para o Brasil, a expectativa é que a nova geração agregue mais capacidade, especialmente em operações no interior do país, onde a maioria dos aeródromos é bastante limitada em questão de comprimento de pista e infraestrutura de apoio. Não por um acaso, a Synerjet, representante da Pilatus no Brasil, realizou um tour com um PC-24 por alguns países na América Latina, demonstrando as melhorias no projeto.
O que mais chama atenção é o novo interior, que recebeu uma série de melhorias. Embora as mudanças de peso e desempenho sejam importantes, para muitos operadores, o novo interior, que inclui opção de divã, é um destaque adicional, quando não o principal.
Embora o PC-24 já tenha o maior volume de cabine da categoria, a Pilatus conseguiu com alguns ajustes pontuais melhorar o layout do interior, além de oferecer novos acabamentos. E aqui vale um adendo, a Pilatus desde os seus robustos monoturboélices, como o PC-6 Porter, que pese ter sido projetado como um avião robusto e simples, sempre se destacou pela qualidade construtiva e acabamento, o que no fundo é uma tradição suíça. O país é famoso por sua indústria de alta precisão e produtos de elevada qualidade, indo desde relógios, passando por café torrado, até aviões.
O avião apresentado pela Synerjet não dispunha do divã, mas a própria empresa destacou sua presença e, em recente entrevista à norte-americana Aviation Week, o CEO da Pilatus, Markus Bucher, disse que a procura pelo acessório é um grande sucesso, e que a empresa não esperava que “as pessoas ficassem tão loucas por isso”.
A justificativa é plausível, o grande sofá lateral, com 1,98 metro de comprimento, pode ser convertido em cama durante o voo, além de acomodar três pessoas confortavelmente. O divã usualmente é um item comum em jatos médios ou supermédios, oferecendo um maior nível de conforto e um ambiente mais leve a bordo.
Em viagens com maior duração, especialmente no final de um dia de reuniões, o divã oferece ao passageiro uma oportunidade de descansar durante o voo. Para famílias, é uma opção para aumentar o conforto de crianças, seja em um espaço mais amplo para distração ou para permitir uma acomodação mais fácil durante o sono. E mesmo em reuniões a bordo o sofá lateral convida para uma atmosfera mais intimista, que pode ser um diferencial em determinadas conversas e acordos.
A Pilatus ainda oferece ao todo seis opções de configuração interna, desde o layout clássico, passando pelo club seat até o divã. Outra mudança importante foi a possibilidade de uma galley traseira, que, na verdade, são dois armários adicionais instalados no local dos dois assentos padrões, chamados de commuter, no final da cabine.
Uma das vantagens é a flexibilidade, permitindo retirar os dois últimos assentos, instalando as galleys, ou ainda usando a área livre para transporte de carga adicional. “Geralmente os clientes optam pelos cabinets ou pelos assentos commuter, porém, é possível comprar os dois e trocá-los”, explicou Priscila Belo, consultora de vendas da Synerjet.
Além disso, alguns usuários brasileiros optam por instalar os assentos executivos em todo o avião, evitando os dois finais no estilo padrão. O contra é que não é possível remover os bancos executivos apenas retirando uma trava, exigindo assim um trabalho em oficina e com maior tempo de parada. “Como a maioria desses clientes usa avião para transporte executivo, eles preferem que todos tenham o mesmo assento, evitando uma espécie de ‘menor prestígio’ para quem viaja nos últimos [assentos]”, pontou Belo.
Outro destaque do projeto atual é a declarada melhoria nos níveis de ruído ambiental pela otimização dos dutos da unidade de serviço de passageiros, dos painéis de absorção de ruído e dos dutos de entrada de ar acessórios do motor ajustados. Embora nossa equipe não tenha viajado no novo PC-24, o modelo anterior, onde fizemos um ensaio exclusivo na edição 330, já tinha um ruído interno bastante baixo.
Ainda assim, durante nossa visita, a apresentação do modelo 2024, pedimos para apenas fechar a divisória entre a galley e a cabine de passageiros, o que por si só apresentou uma nítida redução do barulho externo.
Chama atenção ainda as melhorias nas áreas de armários e nos móveis, que ganharam novo acabamento e um refinamento adicional, otimizando o espaço de cabine e ainda a percepção visual.
A Pilatus fez parceria com a Lufthansa Technik para incorporar um novo sistema integrado de gerenciamento de cabine (iCMS) com um controlador de tela sensível ao toque de 10" com mapa móvel em 3D, quatro alto-falantes de cabine de alta fidelidade com opção de subwoofer, iluminação ambiente, portas USB e armazenamento de mídia.
No cockpit, uma das melhorias mais visíveis é a introdução do FMS sensível ao toque, tornando a operação mais simples e seguindo à tendência adotada em aeronaves maiores, como os modelos topo de linha de Gulfstream e Dassault.
Aliás, essa é uma característica cada vez mais presente nos jatos de negócios, o uso de aviônica com telas sensíveis ao toque e que oferecem a eliminação de diversos botões, o que na prática torna a operação mais simples e reduz o peso. Por menos que um botão pese, o sistema analógico todo somado adiciona alguns quilos a mais ao avião. Além disso, o uso de tecnologias como smartphones tornou usual e simples absorver a ideia de funções na tela.
Por fim, segundo a Pilatus, todos os PC-24 a partir do número de série 501 serão equipados com um novo recurso para permitir serviços preditivos. A transmissão automatizada de dados importantes da aeronave diretamente para a Pilatus no momento do pouso será analisada e, se necessário, uma recomendação preditiva será feita ao operador.
“Mais alcance, maior carga útil, maior conforto e maior operabilidade foram o foco principal deste importante programa de melhoria do PC-24. A atualização do PC-24 inclui mais de 1.000 modificações em toda a aeronave. Mais uma vez, fomos até ao limite do possível, fazendo uso máximo das nossas capacidades de engenharia”, destacou Bucher.
O Brasil segue sendo um dos mercados com maior potencial para o PC-24, que já opera em regime de propriedade compartilhada e também com operadores privados, em especial atendendo voos de curta e média duração, voando entre centros urbanos e cidades do interior com pistas curtas.
Por Edmundo Ubiratan, de São Roque
Publicado em 27/08/2024, às 13h00
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