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A conquista do ultralongo alcance

Global 7500 redefiniu o padrão dos jatos de ultralongo alcance

Com cabine de cinco zonas, alcance superior a 7.500 milhas náuticas e tecnologia de ponta, o Global 7500 consolidou a Bombardier entre os líderes da aviação de negócios


Bombardier
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O Global 7500 consolidou a Bombardier entre os líderes da aviação executiva ao combinar cabine larga e alcance superior a 7.500 milhas náuticas. O jato introduziu quatro zonas de cabine, incluindo suíte com chuveiro, assentos Nuage e sistema de entretenimento 4K, elevando o conforto a bordo. Suas asas redesenhadas e avanços aerodinâmicos garantem desempenho eficiente, enquanto o cockpit adota aviônicos Vision e controles fly-by-wire semelhantes aos do Airbus A220. O projeto posicionou a Bombardier no segmento de jatos ultralongos, impulsionando a concorrência com Gulfstream e Dassault e redefinindo o padrão de luxo e tecnologia na aviação executiva.

Há quase uma década, a Bombardier decidiu focar exclusivamente no segmento de aviação de negócios e defesa, encerrando todas as outras operações no setor aeroespacial. Como parte da reestruturação, apenas dois produtos permaneceram no portfólio: o jato médio Challenger e a família Global, que passou por uma transformação completa em termos de projeto e estratégia.

O objetivo era desenvolver uma família de jatos de cabine larga, com alcance longo e ultralongo, capaz de redefinir a categoria e posicionar a Bombardier à frente de concorrentes, especialmente a Gulfstream, que liderava as entregas com ampla vantagem. Inicialmente, a linha foi concebida com três modelos: Global 6000, Global 7000 e Global 8000.

Após ajustes de projeto e estratégia de marca, o Global 7000 foi rebatizado como Global 7500. Além do reposicionamento comercial, o programa incorporou mudanças relevantes, incluindo janelas maiores, alcance superior a 7.500 milhas náuticas e a possibilidade de configurar cinco zonas de cabine, com opção de suíte equipada com chuveiro.

À primeira vista, os atributos não parecem inovadores, uma vez que o Gulfstream G650 já oferecia alcance de 7.000 milhas náuticas e janelas panorâmicas com 71 por 52 centímetros, além da opção de suíte. No entanto, ao incorporar cinco zonas de cabine, o Global 7500 transformou o conceito de viagem.

Apesar de não ter a intenção de redefinir o mercado, a Bombardier buscou desenvolver um projeto inovador capaz de posicionar os modelos Global 7500 entre os principais concorrentes. Embora não confirme oficialmente a estratégia, adotou a mesma abordagem da Gulfstream, promovendo constantes quebras de recordes, especialmente de velocidade entre pares de cidades.

Grandes janelas

Bombardier Global 7500
Janelas do Global 7500 são 80% maiores do que da geração anterior

Além de proporcionar maior visibilidade e iluminação natural, as novas janelas — 80% maiores que as da geração anterior — conferem ao Global 7500 uma assinatura visual marcante, destacando-o no pátio e evidenciando tratar-se de uma versão atualizada, sobretudo em comparação aos veteranos Global Express e XRS.

As asas também receberam melhorias. Embora mantenham praticamente os mesmos 35,3 graus de enflechamento na linha do quarto de corda dos modelos anteriores, apresentam uma razão de corda mais fina, garantindo melhor desempenho aerodinâmico com menor arrasto. Os flaps Fowler, de abertura dupla, aumentaram em até 30% a eficiência em baixas velocidades. Já os winglets, redesenhados, tornaram-se mais eficazes, especialmente em voos curtos e médios.

Suíte Global 7500
A suíte com chuveiro ampliou consideravelmente o nível de conforto e flexibilidade

O Global 7500 foi projetado com cinco zonas de cabine e uma distribuição interna aprimorada. No lançamento, oferecia uma variedade de layouts superior à de qualquer outro modelo da categoria. À primeira vista, a diferença entre quatro ou cinco zonas pode parecer irrelevante, considerando os 40,47 metros quadrados de cabine, mas o impacto foi significativo e levou a Gulfstream a reagir com o G700, enquanto a Dassault avançou com o Falcon 10X.

A cabine pode ser configurada como sala de reuniões, sala de jantar, escritório, entre outras opções. Essa flexibilidade permite uma infinidade de combinações, desde as mais comuns para voos corporativos — especialmente entre empresas de fretamento — até versões que remetem a suítes presidenciais de hotéis cinco estrelas.

Um dos principais destaques no lançamento foi a suíte com chuveiro, que ampliou consideravelmente o nível de conforto. Embora seja um recurso opcional e sujeito a limitações — como a necessidade de um tanque de água pesado, que pode restringir o número de passageiros ou o alcance da aeronave —, oferece praticidade para clientes com agendas extremamente apertadas. É possível pousar, tomar banho, seguir direto para uma reunião, retornar ao avião e decolar para o próximo destino ou para a origem, sem perder tempo com deslocamentos até hotéis.

Cabine Global 7500

Ainda no quesito conforto, a Bombardier redesenhou os assentos sob o conceito Nuage (nuvem, em francês), tornando-os mais largos e com reclinação total, com atenção especial à ergonomia. O design acompanha as curvas naturais do corpo, permitindo longos períodos sentados de maneira confortável e anatômica. Quando convertidas em camas, as poltronas proporcionam espaço e configuração ideais para o descanso.

O entretenimento a bordo também se destaca com telas individuais em resolução 4K, capazes de reproduzir conteúdos de streaming, viabilizados pela conexão de internet via Banda Ka. Além disso, funções como iluminação, volume de som, abertura e fechamento das janelas e temperatura podem ser controladas por dispositivos pessoais, como smartphones e tablets. As mesmas operações também podem ser realizadas pelos controles a bordo ou pela central localizada na galley. Nas laterais dos assentos, há comandos individuais de iluminação para cada passageiro.

Cockpit

Global 7500

O amplo espaço da cabine de passageiros se reflete também no cockpit, um dos maiores da categoria, que inclui até um jump seat fixo no lado esquerdo. A suíte de aviônicos utiliza a versão mais recente do Bombardier Vision e incorpora um sistema fly-by-wire com CU control law, semelhante ao empregado no Airbus A220 e no Boeing 787.

O termo CU refere-se a uma lei de controle em que “C” combina a taxa de arfagem (pitch rate) com o retorno de força g (g-force feedback), enquanto “U” representa uma função que ajusta automaticamente a arfagem para restabelecer a velocidade de trim de referência. Em essência, o sistema governa a aeronave por meio do controle do eixo de arfagem. Outra inovação são os sidesticks semiativos: os controles laterais, direito e esquerdo, não são eletrônica ou mecanicamente interligados, sendo separados por um aumento na resistência da mola ao movimento. Com isso, o sistema fornece sinais táteis — por meio de detentores suaves e rígidos (soft e hard detents) — e permite que a autoridade de comando seja facilmente transferida entre os pilotos.

Global 7500

Como padrão na categoria, o Global 7500 traz tecnologias Enhanced e Synthetic Vision (EVS/SVS), mapas móveis, visualização vertical de condições meteorológicas e detecção preditiva de windshear, além de ADS-B In. Entre as inovações do lançamento destacam-se o autothrottle em operações monomotoras, checklists inteligentes com detecção automática e a sintonização simplificada de rádio, que possibilita selecionar a frequência diretamente no gráfico do aeroporto com um único clique.

O Global 7500 e o futuro Global 8000, ambos baseados na mesma plataforma, consolidaram a posição da Bombardier no segmento de jatos de negócios de cabine larga e ultralongo alcance. A resposta da Gulfstream e da Dassault Falcon confirma o êxito do projeto, que, apesar de alguns atrasos — especialmente no caso do Global 8000 —, permitiu à Bombardier concentrar suas operações no segmento mais lucrativo da aviação de negócios, consolidando sua posição entre os líderes do mercado.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 31/10/2025, às 13h00


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