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A evolução de uma lenda

MiG-35: Um caça russo pronto para a guerra

Projeto da MiG solucionou uma série de deficiências do MiG-29 e mirou o mercado internacional


MiG-35 é uma versão aperfeiçoada do lendário MiG-29 - MiG
MiG-35 é uma versão aperfeiçoada do lendário MiG-29 - MiG

O MiG-35 tem seu projeto derivado dos veteranos MiG-29M/M2 e MiG-29K/KUB, mas inclui uma complexa atualização dos sistemas e algumas melhorias aerodinâmicas. Após seis anos do primeiro voo, a Rússia revisou os pedidos, passando de 37 encomendas em 2013, para trinta aeronaves confirmadas 2021.

Com embargos no setor aeroespacial e com uma guerra em andamento, a Rússia mantém sua capacidade de combate com projetos próprios, muitos derivados da Era Soviética, mas com consideráveis melhorias, algo fundamental no cenário atual.

Um dos últimos da Era Soviética

Criado ainda na União Soviética, o MiG-29 Fulcrum, tornou-se um dos principais caças de múltiplo emprego das forças aéreas que o operaram.

Entre suas principais características estão a elevada manobrabilidade e a boa capacidade de armas. Ainda assim, o modelo não conseguiu se destacar nos conflitos dos quais participou. Grande parte da explicação não está só na aeronave em si, mas na falta de adestramento e recursos dos países que o empregaram em missões de combate. Ainda assim, o MiG-29 foi considerado limitado em combate de média e longa distância, além de sofrer com restrições técnicas, uma herança da doutrina militar soviética.

Pilotos com baixa experiência

MiG-35
Os engenheiros da MiG ampliaram a capacidade do caça e solucionaram problemas que eram crônicos no MiG-29

Durante a Operation Desert Storm, em 1991, e posteriormente na Operation Allied Force, em 1999, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) garantiu sua superioridade aérea desde o início do conflito, destruindo grande parte da infraestrutura e diversos MiG-29 ainda em terra, restando poucas operações aéreas ao modelo. Além disso, a defasagem tecnológica das versões iniciais dos MiG-29 operados por Iraque e Sérvia, na comparação com as aeronaves da Otan, também pesaram contra. Por fim, há a falta de adestramento adequado de diversos pilotos, que entravam em combate com pouca ou nenhuma experiência relevante.

Apesar dos reveses, a boa capacidade da plataforma básica do MiG-29 permitiu aos russos realizar uma série de atualizações importantes no modelo. As versões mais recentes, M e K, são mais capazes do que suas versões iniciais. Dentro de um programa de revitalização do arsenal, as forças armadas russas optaram por aperfeiçoar projetos consagrados, em vez de partir para projetos completamente novos. Entre as razões estão o baixo orçamento disponível e a excelente capacidade de modelos como o Su 27 e o MiG-29.

Uma versão melhorada

No início da década de 2000, Moscou autorizou o desenvolvimento de uma versão melhorada do MiG-29, dotada com nova suíte de aviônicos, novos sistemas de emprego em combate, radar AESA, Optical Locator System (OLS) e capacidade Ground-Controlled Interception (GCI). O programa conseguiu sua viabilidade quando a Índia se interessou pelo projeto, o que levou os engenheiros da MiG a trabalhar em novas soluções para o avião, como capacidade de integração com diversos tipos de armas, instalação de um novo sistema contra defensivo e sistema de geração de oxigênio.

MiG-35
Capacidade de armas quase dobrou, passando de 3,5 toneladas no MiG-29 para até 6 toneladas no MiG-35

O primeiro protótipo, ainda derivado de um MiG-29K, foi apresentado durante a Aero India 2007. A intenção russa era inserir o futuro MiG-35 como candidato ao programa indiano Medium Multi-Role Combat Aircraft (MRCA), que previa um caça multiemprego com opção para compra de até 126 unidades do modelo vencedor. Além disso, a concorrência previa a montagem de parte das aeronaves na Índia. O MiG-35 passou, então, a disputar o complexo programa indiano ao lado dos modelos Eurofighter Typhoon, Boeing F/A-18E/F Super Hornet, Dassault Rafale, Saab JAS 39 Gripen NG e Lockheed Martin F-16 E/F Falcon.

Em 2009, foram apresentados dois protótipos, o MiG-35 Bort 961 e o MiG-35 Bort 976, de um e dois assentos, respectivamente. Baseados na plataforma K, os dois novos aparelhos serviram para validar alguns parâmetros de voo, e sofreram algumas modificações, dentre as quais o radar AESA, montado no exemplar 976. Por ser considerado um projeto em desenvolvimento, o MiG- 35 foi descartado pelo MRCA em abril de 2011.

Todavia, o potencial do avião foi reconhecido pela força aérea russa, que se interessou pelo modelo. Após uma série de revisões de projeto, o conceito final foi estabelecido em novembro do último ano. No início de janeiro de 2017, a UAC e a MiG apresentaram a versão final do MiG-35, com o primeiro voo da versão de provas, que permitirá a condução dos ensaios em voo dos sistemas de armas, além da validação das características dos sistemas gerais e performance.

Fly-By-Wire

O MiG-35 adota controles de voo fly-by-wire de três canais digitais com redundância quádrupla. O avião também conta com o radar AESA Phazotron Zhuk- -AE, de 160 módulos, cada um com quatro grupos de recepção e transmissão. O radar permite localizar e mirar em até 30 alvos aéreos a uma distância de até de 85 nm (160 km) ou quatro alvos em solo a uma distância de 160 nm (300 km). Além disso, é possível detectar e mirar simultaneamente em até seis alvos aéreos e quatro em solo. O sistema NII PP OLS-35 permite ao avião apontar e travar em alvos com uma mira laser, que possibilita grande precisão de ataque, sem o risco das contramedidas comuns em sistemas de radar que contam com emissão magnética.

MiG-35
Os novos motores oferecem 7% mais potência do que sua versão anterior usada no MiG-29

Os engenheiros da NII PP optaram por um sistema laser de ondas curtas, o que permitiu aumentar a sensibilidade e a faixa de detecção, ao mesmo tempo que evitou problemas de refração por conta da atmosfera. O OLS-35 é tido pelos russos como fundamental para combater as aeronaves stealth, que são projetadas para reduzir a assinatura radar, mas são pouco eficientes contra sistemas laser.

Novos Motores

O MiG-35 ainda conta com os sistemas de contramedidas padrão, como radar warning, electro-optical missile launch warning, laser warning sensors, jamming, chaff e flare. Outra mudança na versão final do MiG-35 é o uso dos motores Klimov RD-33MK, de 11.900 lbf (53 kN) de empuxo seco e 19.840 lbf (88.3 kN) com pós-combustão. O motor oferece 7% mais potência do que sua versão anterior e pode ser equipado com o sistema de empuxo vetorado HL-33VR, que atua em todos os eixos. O sistema foi amplamente testado no MiG-29M OVT, permitindo grande capacidade de manobra, especialmente evasivas. O motor ainda dispõe de FADEC e maior vida útil, com estimativa de 4.000 horas. Uma das preocupações no novo motor foi reduzir a emissão de fumaça e também as assinaturas térmica e ótica, melhorando, assim, as contramedidas do projeto.

Por contar com uma asa com área total 10% maior do que a da versão anterior, os sistemas de armas contam com nove pontos duros, sendo oito sob as asas e um sob a fuselagem, o que permite transportar até 6 toneladas de armas, ante 3,5 toneladas da versão original do MiG-29. O avião é equipado ainda com um canhão GSh-30-1. A capacidade de combustível foi ampliada em 2 toneladas, o que, combinado com o maior peso de decolagem, aumentou o raio de ação sem penalizar a capacidade bélica.

Pistas não preparadas

Mesmo sendo um caça de geração 4++, equivalente a modelos como o Su-27, o Rafale, o Gripen E/F, o F/A-18 Super Hornet, o F-16E/F Fighting Falcon e o Eurofighter Typhoon, o MiG-35 se destaca por ser um dos poucos que podem operar em pistas não preparadas e situadas em grandes altitudes. O novo caça foi projetado para operar em altitudes de até 3.500 m independente das condições climáticas e disposição de armas. Outra inovação para a família MiG foi a ampliação da vida útil total da célula, que passou para 6.000 horas, enquanto o MiG-29 possui 2.500 h. Isso foi possível graças a um novo tratamento anticorrosivo, que permite reduzir as revisões de célula ao mesmo tempo que amplia a vida útil.

Um dos trunfos do MiG-35 é seu baixo custo de aquisição quando comparado a rivais ocidentais, podendo custar menos de um terço dependendo do competidor. Além disso, os engenheiros conseguiram reduzir pela metade os custos operacionais, que era considerado o maior entrave para o MiG-29.

* Texto publicado originalmente na edição 273 de AERO Magazine, sob o título MIG-35 PRONTO PARA A GUERRA

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Redação
Publicado em 03/06/2022, às 17h45


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