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Fim da independência

Rússia diz adeus a Sukhoi e MiG

Governo russo fundiu Sukhoi, MiG e UAC sob uma mesma estrutura organizada pelo conglomerado Rostec


Nova empresa terá sob sua gestão a divisão de aviões militares e civis da Rússia - UAC/Oleg Belyakov
Nova empresa terá sob sua gestão a divisão de aviões militares e civis da Rússia - UAC/Oleg Belyakov

A Rússia diz adeus a Sukhoi e MiG após unificar os dois lendários fabricantes sob uma mesma corporação, dentro do conglomerado militar Rostec.

O processo de fusão estava em andamento há vários meses, com a Rostec trabalhando para assumir a totalidade do controle e gestão de basicamente toda a base industrial aeroespacial e militar da Rússia.

A Sukhoi e a MiG Corporation fundiram-se com a United Aircraft Corporation (UAC) no dia 1º de junho, com suas respectivas inscrições correspondentes alteradas no Cadastro Estadual Unificado de Pessoas Jurídicas.

A fusão dos três fabricantes foi aprovada pelo Conselho de Administração em novembro de 2021, e em janeiro desse ano foi apoiada pelos acionistas das empresas. Ainda que formalmente tenha ocorrido uma fusão, a gestão das empresas já era centralizada. A diferença é que agora as empresas deixam de ter escritórios de estudos e desenvolvimento independentes, na prática se tornando apenas nomes fantasia dentro da UAC.

No início dos anos 2000 a Rússia reorganizou sua indústria aeroespacial, que estava fragmentada em diversos birôs de desenvolvimentos, dentro ainda do modelo concebido na era soviética. Um dos destaques do sistema era permitir que escritórios de cada fabricante tivesse recursos e soluções próprias, muitas vezes concorrendo entres eles por importantes projetos militares e civis ao longo de toda a história da União Soviética.

"A reorganização completa uma das etapas importantes da transformação corporativa da UAC, o que implica, entre outras coisas, a transição de uma estrutura de gestão de nível 3 para uma estrutura de gestão de dois níveis na corporação”, explicou Sergey Chemezov, presidente da Rostec State Corporation.

Embora a MiG e Sukhoi estejam agora dentro do guarda-chuva da UAC, na prática são empresas do conglomerado Rostec, que é controladora da UAC. No futuro não é descartado inclusive que a UAC seja absorvida como marca pela Rostec. Porém, as autoridades russas descartam retirar do mercado as marcas Sukhoi e MiG, mantendo ambas apenas como nomes fantasia, como ocorre em grandes conglomerados industriais ao redor do mundo. Atualmente a Irkut e Tupolev já estão sob o controle a UAC, mas suas respectivas marcas e história são mantidas de forma independente.

“As fortes e mundialmente famosas marcas Sukhoi e MiG permanecerão nas aeronaves produzidas e as escolas de design continuarão desenvolvendo. Assim, a PJSC UAC passa a ser não apenas o centro corporativo do Grupo UAC, mas também uma empresa operacional que gerencia diretamente os bureaus de produção e design, implementa programas de aviação e desenvolve equipamentos promissores", disse Chemezov.

O projeto prevê reduzir os custos e centralizar as decisões, dentro de uma estrutura estatal ainda fortemente atrelada aos humores e definições do Kremlin. A indústria aeroespacial russa é considerada um ativo estratégico pelas autoridades, mantendo assim total controle do Estado sobre as empresas.

"Quando a UAC foi formada em 2006, a principal tarefa era preservar os [ativos] potenciais de pessoal, científico, e de produção, de diferentes empreendimentos de fabricação de aeronaves. Essa tarefa foi resolvida, é hora de dar o próximo passo – para se tornar uma única empresa operacional, disse o diretor-geral da UAC, Yuri Slyusar.

Um dos obstáculos históricos para consolidação das empresas era o temor de perder as escolas de pesquisa, desenvolvimento e produção criada por cada fabricante. Com conceitos e soluções independentes, cada empresa mantinha uma filosofia de trabalho quase única dentro da indústria de defesa da Rússia. O conceito, pouco ortodoxo, carrega um importante simbolismo histórico, ao mesmo tempo que ainda permite algum grau de independência na concorrência de novos projetos, em especial de aviões de combate de nova geração, como o Sukhoi Su-75. Ainda assim, no lançamento havia a expectativa que o avião, desenvolvido pela Sukhoi, seria fabricado pela MiG.

“Com máxima atenção à preservação de designers e outros especialistas valiosos, com ênfase no uso ideal de instalações de design e locais de produção, seguimos o caminho de melhorar a eficiência operacional, criando aeronaves do futuro, incluindo sistemas não tripulados, soluções híbridas. A fusão da UAC, Sukhoi e MiG deve dar um poderoso impulso ao desenvolvimento de toda a indústria”, defende Slyusar.

A consolidação e centralização da gestão também está em andamento em outras áreas de atividades da UAC. Assim, em novembro de 2021, foi concluída a adesão ao conglomerado da fábrica de aeronaves Voronezh (VASO) e da Aviastar-SP. A UAC também assumiu o controle da Tupolev, que inclui, além do escritório de design em Moscou, a planta industrial de Kazan.

A transformação corporativa da UAC visa reduzir o número de níveis de gestão, simplificar a estrutura corporativa, eliminar funções administrativas duplicadas e reduzir custos gerais de negócios. Ao mesmo tempo, há o desenvolvimento de centros de competência e serviços corporativos, a expansão da cooperação entre os locais de produção para uma implementação mais eficaz dos programas de fabricação de aeronaves. Essas e outras medidas visam aumentar a eficiência, a estabilidade financeira e a atratividade dos investimentos da UAC.

A mudança ocorre em um momento que a Rússia passa pelo maior isolamento econômico e industrial de toda a sua história. Ainda assim, o governo russo acredita que em uma futura normalização das tensões internacionais poderão beneficiar a companhia.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 02/06/2022, às 18h55


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