Brasil bate recordes de insegurança com média de 3,4 ocorrências por semana em 2011 e precisa rever proficiência de pilotos e mecânicos
Jorge Barros |
O número de acidentes aeronáuticos vem aumentando no Brasil. Até o dia 10 de outubro, foram registrados 126 acidentes, envolvendo aviões, helicópteros e aeronaves experimentais. Temos 3,4 acidentes por semana. Foram dois acidentes com aeronaves operadas por empresas de linhas e os demais, com equipamentos da aviação geral. A Anac descreve em seu site 89 acidentes registrados até 9 de agosto. Foram 16 perdas de controle em voo, 15 perdas de controle no solo, 14 falhas de motor em voo, nove colisões em voo com obstáculo, cinco panes secas, dentre outros. Eles denunciam um forte viés de amadorismo na operação. O local onde os acidentes aconteceram são, em sua maioria, áreas rurais afastadas dos grandes centros, com 28 citações a fazendas, sítios ou usinas. E não é difícil deduzir que o ambiente cultural e econômico tem uma estreita relação com os fatores contribuintes. Com o crescimento da economia brasileira, a necessidade de pilotos aumentou. Desde então, vários deles estão migrando para aeronaves mais complexas e de melhor remuneração. E seus antigos postos de trabalho precisam ser preenchidos rapidamente. Isso acontece num momento em que a formação aeronáutica é alvo de críticas. Com raras exceções, as escolas de pilotagem utilizam instrutores inexperientes. Estão ali mais motivados pela oportunidade de obter horas de voo necessárias à progressão na carreira do que para ministrar uma boa instrução. Até agosto deste ano, aconteceram 22 acidentes com aeronaves operadas por escolas ou aeroclubes. Um número excessivo, considerando que a presença de um instrutor a bordo deveria evitá-los.
Também chama a atenção o número de eventos de falhas de motor em voo. Esse índice vem se mantendo alto nos últimos anos, ainda que historicamente a aviação geral sempre tenha ocupado as primeiras posições. Esse fator pode estar ligado à falta de cuidados na operação e à duvidosa qualidade de manutenção. Desde os tempos do extinto DAC, o órgão responsável pela fiscalização das oficinas atua com mais ênfase naqueles estabelecimentos que estão geograficamente mais próximos dos grandes centros. As mais distantes têm que desempenhar em um cenário menos favorável. Sofrem com a dificuldade de acesso a linhas de suprimento, além da falta de recursos humanos bem-preparados. Dificilmente encontram mecânicos com habilidades na língua inglesa, por exemplo. Soma-se a isso a má-fé de algumas oficinas, que permitem que peças não aprovadas sejam instaladas nos motores. Há casos conhecidos de adulteração de documentação para justificar serviços que não foram realizados. Completa o cenário a ausência da Anac na ação de orientar e fiscalizar. O órgão também padece de falta de pessoal qualificado para realizar auditorias periódicas e de boa qualidade.
Um cuidado maior na operação dos motores poderia reduzir os acidentes. No entanto, o conhecimento que muitos pilotos possuem se baseia mais na troca de informações verbais entre eles do que na leitura de manuais técnicos. Com frequência, as oficinas identificam danos causados principalmente por erros de operação. Mas esse parece ser um problema mundial, já que os fabricantes publicam rotineiramente material didático sobre técnicas de operação e cuidados para cada modelo. Infelizmente, permanecem em lojas e oficinas à espera de alguém que os leiam.
Desastres denunciam forte viés de amadorismo na operação e na manutenção de motores
Além de motores que falham, os acidentes deste ano têm alguma relação com deficiente planejamento de voo. Afinal, panes secas e colisões em voo com obstáculo são fatores cuja prevenção depende da ação direta do piloto. E isso levanta a questão sobre a necessidade de se introduzir o estudo do CRM no currículo dos pilotos. Atualmente, as técnicas de CRM para a prevenção de acidentes podem ajudar também num melhor desempenho do piloto solo. O SRM (Single Pilot Resource Management) dá foco na forma de conduzir um voo quando se está sozinho. O tema é bastante relevante já que a maior parte dos voos no Brasil é realizada por pilotos solo, e a nova geração de jatos executivos leves será voada por apenas um piloto.
Redação
Publicado em 04/11/2011, às 14h34 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
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