A decisão de operar em pistas molhadas – na verdade, contaminadas, no jargão aeronáutico – requer uma criteriosa avaliação
Em um país tropical como o nosso, a operação de aeronaves em condições de chuva chega a ser quase inevitável. O Brasil possui grandes regiões úmidas, como a floresta amazônica (internacionalmente conhecida como rain forest ou, em tradução livre, floresta de chuva), áreas cujas estações do ano são bem definidas entre verão seco e inverno chuvoso, como o Nordeste, e microclimas em que as quatro estações do ano podem ocorrer em um período de 24 horas, como acontece na cidade de São Paulo, com dias que começam frios e úmidos e passam a ser quentes e secos.
Com isso, o desafio dos pilotos, principalmente os de avião, é saber exatamente qual a condição do aeródromo no momento de sua operação para garantir um pouso seguro quando se deparar com uma pista contaminada por água (existem outros elementos de contaminação, como lama, gelo e neve).
Em uma analogia, seria o mesmo que acontece quando estamos dirigindo um automóvel em uma estrada com chuva e nos deparamos com algum perigo que exija uma forte frenagem. Em pistas molhadas, as chances de derrapagem aumentam e, por esse motivo, a distância para nossa frenagem é maior, pois aplicaremos menos curso no pedal de freio.
Outro problema em condições de chuva na estrada são os pequenos bolsões de água que se formam, aumentando o risco de aquaplanagem, que ocorre quando o pneu perde totalmente o contato com o asfalto, ocasionando derrapagens após as quais é difícil de se retomar o controle do veículo. Grosso modo, o mesmo acontece com aeronaves.
A ICAO considera uma pista contaminada quando mais de 25% de seu tamanho está sob a incidência de algum agente contaminante, tendo mais de três milímetros de espessura. Mas também pode ser considerada contaminada uma pista em que seu ponto mais importante de toque ou de saída do solo possua algum desses agentes.
A Anac considera que a pista está contaminada quando a profundidade média de água ou outro agente contaminante sobre a pista é igual ou maior do que três milímetros em uma região de 150 metros de comprimento por 12 metros de largura na porção central em relação ao eixo da pista.
Em aeroportos controlados, a torre sempre informará a condição da pista caso esteja contaminada e os pilotos poderão realizar os cálculos de frenagem após o toque ou de distância para uma aceleração e parada em caso de decolagem abortada.
Mas, como na grande maioria dos aeroportos do Brasil não há torres de controle, caberá aos pilotos observar e avaliar as condições e, na dúvida, aplicar a maior restrição operacional para não ser pego de forma desprevenida e sempre manter elevado os padrões de segurança de voo.
Redação
Publicado em 14/08/2024, às 15h00
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