O blimp completa 100 anos e AERO Magazine revive a história com essa experiência exclusiva de voo a bordo do Wingfoot 3 da Goodyear
O blimp chega ao centenário mantendo vivo o encanto dos grandes aeróstatos. Símbolo da aviação e da cultura popular, segue despertando fascínio em grandes eventos ao redor do mundo. Durante a AirVenture de 2021, em Oshkosh, a AERO Magazine embarcou no Wingfoot 3 da frota da Goodyear. Uma experiência rara de voo que revela por que essas aeronaves continuam a despertar fascínio ao longo de um século.
Foi a partir desse momento que a narrativa se transformou em uma imersão pessoal, revelando não apenas a dimensão técnica da aeronave, mas também o impacto emocional de estar tão próximo de um ícone da aviação.
Nunca tinha visto um dirigível de perto antes da edição 2021 da AirVenture, em Oshkosh. Observar o blimp da Goodyear ali, a poucos metros de distância, é uma experiência reveladora. Este ano, esteve presente no evento o Wingfoot 3, o mais novo modelo dos três dirigíveis da empresa que voam nos Estados Unidos.
O aeróstato faz parte da estratégia de relações públicas da Goodyear há 100 anos como ferramenta de comunicação da empresa. Os blimps se fazem presentes em diversos grandes eventos, sendo amplamente utilizados por veículos de comunicação na cobertura de importantes acontecimentos esportivos, como as 500 Milhas de Indianapolis, o Super Bowl, o U.S. Open Tennis e os jogos olímpicos de Los Angeles, em 1984.
Os três dirigíveis (Wingfoot One, Wingfoot Two e Wingfoot Three) atuais foram anunciados pela Goodyear em 2011, como substitutos da veterana frota em serviço. Os GZ-20, por exemplo, haviam sido construídos em 1969 e, embora tivessem recebido algumas melhorias, contavam com sistemas de pilotagem ainda similares àqueles instalados nos primeiros dirigíveis rígidos, com “volantes”, além de motores e sistemas de voo carentes de uma modernização.
Após considerar uma série de opções, a Goodyear optou pelo LZ N07-100, da alemã Luftschiffbau Zeppelin, cujo projeto recebeu algumas modificações, dando origem a um novo modelo, o LZ N07-101.
Tecnicamente, a nova série não é um blimp tradicional e, sim, um dirigível semirrígido. Optou-se por utilizar a nomenclatura blimp por sua importância cultural nos Estados Unidos e para a própria Goodyear. Os novos balões possuem 74,9 metros de comprimento, ou seja, 15,8 metros a mais do que os da série GZ-20, com um formato mais esguio do que o de seus antecessores, o que lhes permitiu voar com uma velocidade máxima de 70 nós – ante 50 nós do GZ-20.
A nova gondola ficou maior, com o dobro da capacidade do GZ-20, saltando de sete para catorze pessoas, incluindo um banheiro. Parece um detalhe irrelevante, mas não para os ocupantes, já que, por diversas vezes, o blimp permanece no ar por longos períodos durante os eventos.
Houve uma época em que a espera por uma carona no dirigível chegava a sete anos. Conseguir um voo é um desafio, pois eles não são oferecidos ao público em geral. Os passeios estão disponíveis apenas para pessoal corporativo e membros da imprensa, todos apenas por convite. Conversando com a equipe de comunicação em Oshkosh, descobri que havia um assento disponível e me convidaram para embarcar. Amo experimentar coisas novas e desejo voar quase tudo que me faça decolar. Foi um sonho tornado realidade!
Enquanto esperava pela viagem, conheci um dos tripulantes e aprendi um pouco mais sobre o que é preciso para ser piloto da Goodyear. Fiquei realmente intrigada com o balão e queria saber mais. O interessante é que os pilotos que voam o blimp não são desportistas, mas, sim, pilotos comerciais com as mesmas licenças de um piloto de avião.
Por se tratar de um dirigível, o piloto deve ter conhecimentos nas áreas de navegação, tráfego aéreo, operação multimotor e assim por diante. A Goodyear faz internamente todo o treinamento, que exige cerca de 400 horas, o que costuma durar de seis e doze meses.
Havia muito mais a aprender antes de embarcar no dirigível. A equipe da Goodyear alertou os passageiros sobre as restrições e explicou como funcionaria o processo de embarque. Assim como em qualquer aeronave, o peso é um fator importante em voos com os dirigíveis. Eles não apenas armazenam hélio, mas, também, transportam até 185 galões (700 litros) de água para permitir que os pilotos reduzam o peso durante o voo, se necessário.
Durante o embarque entre voos, a equipe faz o possível para que dois passageiros saiam enquanto outros passageiros de peso igual embarquem, mantendo o equilíbrio do balão.
Como se pode imaginar, o dirigível é bastante sensível às mudanças de peso. O pré-voo é similar ao de um avião, com o piloto dando uma volta ao redor do blimp para fazer a inspeção externa, conferindo 44 itens no total.
No Wingfoot 3, tudo é elétrico e controlado por um sistema fly-by-wire. A cabine de comando dispõe de uma tela que exibe o desempenho dos três motores. O sistema de navegação conta com dois monitores Garmin 500H, série voltada para helicópteros, montados em ambos os lados da cabine. No centro, estão os sistemas de indicação e alerta da tripulação, assim como os parâmetros de motor, permitindo que os pilotos monitorem todos os sistemas da aeronave de forma eficiente. Existem 20 itens no painel de instrumentos que os pilotos olham antes da decolagem.
A dupla de pilotos comanda a aeronave por meio de sidesticks laterais e não mais com volantes. No modo de voo, as pequenas alavancas controlam as superfícies aerodinâmicas externas. Embora os controles funcionem de forma semelhante aos de um avião, as respostas são muito diferentes devido ao fator flutuação do dirigível.
Existem três bolsas de ar no interior do balão para manter sua forma e auxiliar no ajuste e na distribuição de peso, bem como válvulas de ar que atuam mantendo a pressão durante as variações de altitude. À medida que o aeróstato sobe, os gases se expandem, o que significa que, às vezes, é necessário aliviar ou adicionar ar. Caso ganhe altitude rapidamente, as válvulas de ar permitem que o gás escape, evitando o rompimento do invólucro.
Todo o sistema funciona de forma automática, embora existam controles manuais, permitindo que os pilotos se concentrem nos procedimentos de decolagem e pouso. Ainda existem as válvulas de hélio, usadas principalmente para emergências ou em terrenos elevados.
O console central contém os manetes de potência dos três motores, praticamente idênticos aos de aviões, garantindo que o piloto controle empuxo, rotação e velocidade. Existem três geradores a bordo, que suportam todos os sistemas de aviônicos e iluminação, incluindo o painel de LED externo usado para exibir mensagens para o público.
O blimp tem capacidade para 1.147 litros de combustível, mas a quantidade transportada é determinada pelo perfil de voo. Essenciais, o abastecimento e o peso a bordo têm suas particularidades, de modo a garantir o equilíbrio da aeronave.
O blimp conta com três motores Lycoming IO-360, de 200 cavalos de potência cada. Dois deles foram montados na lateral do invólucro. Estes dois motores contam com três pás de 2,74 metros de diâmetro e são conectados através de uma seção transversal de fibra de carbono, que cruza todo interior do balão, com funcionamento basculante, podendo variar seu ângulo de acordo com a fase de voo. O motor traseiro chama atenção por sua configuração incomum, com dois propulsores. Um fixo, tripá, fica montado na lateral esquerda do motor, enquanto, ao centro, está outro conjunto tripá basculante.
O funcionamento do conjunto lateral tem um princípio similar ao de um rotor de cauda de helicóptero, ao passo que o central pode movimentar até 90 graus para baixo, para permitir uma decolagem semelhante à de um helicóptero, mas atuando também na propulsão e nas manobras em voo.
Do lado do blimp, há o que os projetistas chamam de ruddervators, que seriam uma combinação de leme e elevador. Eles trabalham em combinação com o leme superior. O painel de LED lateral pesa aproximadamente 180 quilos (400 libras) e, para ser montado ao lado do blimp, exige aproximadamente quatro horas de trabalho e uma equipe de doze pessoas.
A gôndola tem dez metros de comprimento. No momento do embarque, os passageiros são recebidos pelo piloto, com o objetivo de manter o equilíbrio e o balanceamento de peso. A bordo há um sofá na parte traseira da gôndola, junto com um banheiro, uma característica que os modelos anteriores não tinham.
Com capacidade para até 14 passageiros, acomodam confortavelmente dez pessoas. As configurações dos assentos foram alteradas diante das necessidades de um evento como a AirVenture, além de limitar o número de passageiros durante os meses de verão para manter o limite de peso baixo.
A equipe de solo é uma parte muito importante da operação do dirigível Goodyear, usando uma van, um ônibus e um trailer de 18 rodas.
A operação de movimentação e atracamento do blimp ao trailer é menos complexa do que foi no passado, especialmente ao se considerar os dirigíveis rígidos, mas ainda exige uma completa coordenação entre os tripulantes e a equipe de solo.
A decolagem foi muito suave e muito parecida com a de um jato comercial, embora a velocidade seja muito mais lenta. O pouso é um pouco mais duro do que a decolagem. Para mim, foi como pousar em um helicóptero.
Voar a bordo do dirigível foi um privilégio de uma vida. Foi especialmente emocionante sobrevoar os terrenos da EAA e o aeroporto de Oshkosh. Gostei de acompanhar trechos dos shows aéreos durante o final da tarde, bem como ver os acampamentos e tudo abaixo de mim.
Gostei muito de cada momento do meu tempo com a equipe Goodyear e serei eternamente grata por essa lembrança!
Por Taylor Peeff, de Oshkosh
Publicado em 02/09/2021, às 08h00 - Atualizado em 17/09/2025, às 16h53
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