As vantagens da aviação de negócios vão além da flexibilidade de partir para qualquer destino com uma pista de pouso sem as limitações do transporte aéreo regular
Em momentos de crise, rondam os pensamentos de acionistas e funcionários uma premissa errônea, injusta e infundada acerca do uso de aeronaves pela companhia. Tomados por um raciocínio preconceituoso, tendem a considerar aviões e helicópteros bens supérfluos, associados ao desperdício, sem perceber que a prática mostra o contrário. Mais que luxo ou símbolo de poder e ostentação, a aeronave privada, própria ou fretada, deve ser encarada como uma ferramenta de ganho de eficiência de empresas e empresários, que conseguem se deslocar para mais lugares em menos tempo e ainda aproveitar a malha aeroportuária de um país continental como o Brasil desatendida pela aviação regular.
Atrativos da aviação de negócios: agilidade, segurança pessoal, privacidade, conectividade e conforto
De imediato, a aeronave de negócios exclui da vida de seus passageiros, normalmente com tempo extremamente curto, as filas de check-in e o tempo perdido com os procedimentos de embarque cada vez mais congestionados. Com isso, poupa-se pelo menos uma hora em cada viagem. Se for uma ida e uma volta, há um ganho de duas horas do precioso tempo de quem opta pelo voo privado (sem considerar ainda o tempo para desembarque, restituição de bagagem, atrasos e demais entraves).
Muitos ainda consideram as capitais brasileiras os grandes polos tomadores dos serviços aéreos. Deixam de considerar que o país possui uma economia diversificada e, de certa forma, pulverizada por todas as suas regiões. Um exemplo disso é o sucesso que uma empresa aérea teve em iniciar as operações no aeroporto de Viracopos. À época do início das atividades da companhia em Campinas, um dos diretores justificou a escolha do aeroporto com as seguintes palavras: “Imagine um país como o Chile com apenas oito voos diários. Pois esse é todo o fluxo de tráfego da região do principal aeroporto de Campinas”. Sim, essa era a realidade de Viracopos até dezembro de 2008.
De lá para cá, muito desenvolvimento ocorreu na região e o fluxo de movimentos do aeroporto mais que quadruplicou, passando de 32.399 operações de aeronaves em 2008 para 131.531 operações em 2014. Esses números denotam o represamento da demanda aérea no país, pois, junto com o aumento das operações da aviação regular, houve também desenvolvimento na região e aumento das operações da aviação privada no entorno. Juntos, os aeroportos dos Amarais, Sorocaba e Jundiaí, os três com vocação para a aviação de negócios, movimentaram 162.181 aeronaves em 2008, ano de início do que se pode chamar de “boom” das operações em Viracopos. Em 2014, o número subiu para 210.492 operações, ou seja, um aumento de 30% no fluxo de aeronaves privadas na região.
Os empresários que tiverem o bom senso e a coragem de continuar usando a aviação de negócios sairão da crise mais rapidamente
As estatísticas reforçam a tese de que o usuário da aviação “não regular”, além de ganhar produtividade ao evitar filas de embarque, tem um incremento de eficiência por poder embarcar de aeroportos mais próximos ao seu negócio ou à sua casa. Um empresário de regiões com poucos voos regulares que precise seguir viagem para fechar negócios no interior de São Paulo pode optar pelos aeroportos mais convenientes se tiver sua própria aeronave, ou contratar os serviços de um táxi-aéreo, sem a necessidade de desembarcar em Congonhas e Guarulhos para depois fazer a conexão aérea ou buscar outro modal de transporte.
Em outras palavras, as opções de destino representam mais um ganho de produtividade à operação aérea privada. Poder voar direto às cidades desejadas ou chegar mais próximo a elas torna a atividade econômica mais eficiente. Das quase 2.500 pistas de pouso registradas no país, menos de 10% são atendidas pela aviação regular. Além disso, para chegar a alguns destinos da aviação de grande porte, o passageiro se depara com muitas paradas e perda de tempo constante, sobretudo em regiões mais remotas ou de baixo fluxo de passageiros.
A dificuldade de voar para alguns destinos revela-se mais uma trava no desenvolvimento econômico do país e um obstáculo para o investimento de empresas e empresários em determinadas regiões onde somente a aviação de negócios pode solucionar de maneira eficiente. Regiões importantes para o agronegócio brasileiro não podem ser acessadas tão facilmente pela aviação regular. É o caso de Barreiras, na Bahia, Tangará da Serra, no Mato Grosso, ou Petrolina, em Pernambuco. O exemplo de Tangará da Serra é revelador. Nem sequer voos regulares o aeroporto da cidade possui, ainda que seja um estratégico polo produtor brasileiro da soja.
Uma virtude adicional é que a aviação privada sempre espera por seu passageiro. A aeronave própria ou contratada evita que encontros de negócios durem menos tempo do que o necessário ou se alonguem demasiadamente em função do horário de decolagem dos voos comerciais. Reuniões para decisões importantes podem durar o tempo necessário para melhores resultados e ainda fazer com que os envolvidos retornem aos seus escritórios a tempo de continuar seu trabalho, o que significa menos estresse para os funcionários e mais eficiência e produtividade para a empresa.
A confidencialidade em determinados negócios é essencial para o seu sucesso. Nesse quesito não há melhor definição para o voo corporativo do que “privado”. Somente estarão a bordo da aeronave as pessoas que realmente forem designadas a acompanhar a viagem sem pessoas de “orelha em pé” nas poltronas ao redor tentando captar conversas com viés confidencial, como pode acontecer na aviação comercial.
As companhias que utilizam aviões e helicópteros tendem a ser mais eficientes e lucrativas do que as que não usam
Com as facilidades hoje disponíveis no mercado, o grupo de passageiros pode trabalhar de forma ininterrupta durante o voo com acesso a telefone, internet, fax e videoconferência para meetings em pleno voo. Reuniões de negócio também podem ser feitas entre os passageiros para discutir os resultados das visitas que acabaram de realizar e, dessa forma, já chegar aos seus escritórios com diretrizes determinadas para o seu trabalho. Novamente, ganho de produtividade e eficiência.
Múltiplos destinos podem ser visitados em um único dia aumentando ainda mais as possibilidades de aproveitamento de uma viagem nas empresas. Dois exemplos reais confirmam o aumento de produtividade da aviação privada. Em 1992, um grande empresário do setor têxtil comprou um helicóptero. Na época, ele possuía sete fábricas espalhadas pelo estado de São Paulo, sendo três na cidade de São Paulo, uma em Suzano, duas em Sorocaba e uma em Americana. Com o aumento das atividades, a única maneira que o empreendedor tinha para visitar suas filiais era o deslocamento por helicóptero. O ganho de produtividade foi tamanho que já no primeiro mês de operação o investimento foi totalmente recuperado e esse empresário não só conseguiu aumentar seus lucros como também ganhou muito mais qualidade de vida, pois voltava para casa a tempo de jantar com a esposa e as três filhas.
Mais recentemente, outro grande empresário, este do setor financeiro, trocou sua aeronave com capacidade para voar distâncias entre Brasil e Europa sem escalas por uma aeronave similar, mas com chuveiro a bordo. O gasto nessa troca representou mais de US$ 15 milhões. Diante da “extravagância”, um leigo poderia perguntar: “Mas para que gastar tanto dinheiro para ter um chuveiro a bordo?”. Num pensamento simplista poderia parecer irracionalidade ou até esbanjamento, mas não é. Ter um chuveiro a bordo para esse empresário significou um ganho de produtividade de três horas nos voos que fazia. Isso porque já chegava ao seu destino pronto para suas reuniões de negócios, excluindo da sua agenda o deslocamento até hotéis somente para tomar banho ou trocar de roupa. Ao final de um ano, esse empresário registrou ganhos de eficiência. Em resumo, a aviação privada é uma poderosa ferramenta de trabalho que pode e deve ser usada por empresas e empresários para ganho de eficiência e também qualidade de vida. Um ativo que custa para a companhia apenas sua depreciação, já que pode ser revendido a qualquer tempo com preço em dólar.
Por Rodrigo Duarte
Publicado em 01/08/2015, às 00h00
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