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PC-24 levanta voo

Com capacidade de operar em pistas sem pavimentação, jato da Pilatus promete inaugurar nova categoria na aviação de negócios, a dos Super Versatile Jets


Projetado com objetivo de oferecer a versatilidade de um turbo-hélice, o espaço de cabine de um jato médio e a performance de um jato leve, o PC-24 recebeu da Pilatus Aircraft a classificação de Super Versatile Jet, inaugurando uma nova categoria para a aviação de negócios. A ambiciosa proposta prevê a homologação de um avião capaz de operar em pistas de terra, mesmo com motores a reação, e transportar mais carga do que qualquer outro jato leve, com grande potencial em países como o Brasil.

Lançado em maio de 2013, o PC-24 promete inserir a suíça Pilatus, reconhecida por suas aeronaves turbo-hélices de alta performance, no mercado de jatos leves. Ou seja, a proposta representa um embate direto com Cessna, Embraer e Bombardier no competitivo mercado dos medium light jets, segmento em que fabricantes tradicionais como a Hawker não sobreviveram. Sem grandes tradições no mercado, possuindo um portfólio da aviação de negócios que inclui apenas o PC-12, a Pilatus teve de buscar inspiração em sua própria gama de aeronaves, composta pelos treinadores militares PC-21, PC-9 e PC-7 e pelo STOL PC-6. Utilizando a expertise obtida em mercados completamente distintos, os engenheiros sugeriram um avião a jato com a flexibilidade reconhecida do PC-12, com a possibilidade de operar em ambientes extremos para um avião de negócios a jato.

PC-24
PC-24 possui capacidade de decolar em pistas curtas

Terra batida

Se na aviação militar é lugar comum um jato operar em pistas de terra batida, o mesmo não acontece na aviação civil em que esse tipo de operação sempre foi um dilema. Alguns operadores, em especial no continente africano, operam aeronaves a reação em pistas de terra batida, como o caso da Transafrik International, que se notabilizou após um documentário francês mostrar as operações com o Boeing 727 em pistas sem qualquer condição de receber uma aeronave a jato.

No dia a dia de uma operação com um mínimo de segurança, porém, poucos sugeririam colocar aviões a reação em pistas curtas, de terra e com obstáculos. Ainda assim, estudos de diversos fabricantes apontavam para a existência de um mercado nesse segmento, que covenientemente era servido por turbo-hélices, como os robustos Beechcraft King Air, ­Cessna Caravan, Pilatus PC-12, TBM 900 e Piper Meridian. A oferta de modelos consagrados, com baixo custo tanto operacional quanto de produção, levaram a indústria a desconsiderar a aventura de projetar um jato capaz de operar nas mesmas condições. Segundo a Pilatus, o PC-24 é resultado de dez anos de pesquisa com clientes sobre suas necessidades. “O PC-24 vai oferecer aos futuros proprietários uma combinação de versatilidade e desempenho inigualáveis, se comparado a qualquer outro jato de negócios”, destaca Oscar J. Schwenk, presidente do Conselho de Administração da Pilatus.

Novo segmento

Ao ingressar no mercado de jatos, a Pilatus pode não apenas tornar viável seu produto, mas, também, criar um novo segmento, batizado justamente SVJ (Super Versatile Jet). Após o anúncio do avião, analistas chegaram a considerar a empreitada um devaneio, muitos apostando no encerramento do programa já na fase inicial. Mas na edição de 2014 da EBACE (European Business Aviation Conference & Exhibition) foram comercializadas 84 unidades do PC-24, carteira que garantiria a produção até meados de 2019. Na ocasião, para assegurar uma posição, os clientes teriam feito um depósito total de US$ 250 mil, algo em torno de 3% do valor final da aeronave.

Os primeiros clientes devem cumprir uma vasta gama de missões, sejam privadas, comerciais ou especiais, como aeronaves corporativas, táxis-aéreos ou públicas, fazendo desde voos em condições extremas até aeromédico e transporte VIP. “Nossos primeiros clientes planejam utilizar seus PC-24 num amplo e variado espectro de missões, com suas características únicas. Acreditamos que nossa aeronave se adéqua a cada caso”, acredita Schwenk.

Para atender aos requisitos do programa, o PC-24 conta com uma série de inovações, como os motores Williams International FJ44-4A, que fornecem 3.435 lbf (ISA+8C) e possuem um adicional de 5% de potência graças ao novo recurso Automatic Thrust Reserve. Como parte de um módulo de propulsão integrado, a ­Williams desenvolveu novos sistemas antigelo e antirruído. É o primeiro motor da série FJ44 a contar com o Quiet Power Mode, que permite eliminar o uso de uma APU tradicional, reduzindo os custos e o peso total da aeronave, além de proporcionar uma operação em solo com maior eficiência e baixa emissão de poluição sonora. Também foi desenvolvido um novo pré-resfriador, que melhora a eficiência da sangria de ar e reduz as perdas de eficiência.

Empuxo vetorado

A maior inovação do PC-24 é o uso da tecnologia EXACT de vetorização passiva, que prometem favorecer decolagens curtas do novo jato. Embora seja similar ao sistema de vetoramento de empuxo (manipulação do impulso do motor) utilizado em caças como o Lockheed Martin F-22 Raptor, que tem sistema móvel, o recurso do Pilatus emprega o efeito Coandă (tendência de um fluído permanecer unido a uma superfície curva) para proporcionar até 3 graus de empuxo vetorado em operações que exijam elevada potência do motor, com bocal fixo.

A tecnologia foi originalmente desenvolvida para o monojato Piper PA-47 Altaire. Ela permitiria até 7 graus de vetorização e melhoraria a performance de decolagem em pistas curtas. No caso do PiperJet, o uso de empuxo vetorado era particularmente eficaz para manter o centro de gravidade na aeronave, que tinha a tendência de baixar o nariz por causa da montagem do motor na parte superior da fuselagem (acima da linha central). No PC-24, a variação do ângulo de empuxo muda de acordo com a potência, incluindo temperatura dos gases de escape (EGT), altitude e Mach. Esse recurso permite à aeronave obter melhor desempenho e eficiência do motor sem agregar maior peso ou complexidade mecânica.

Os flaps foram desenhados de forma a oferecerem melhor eficiência, independente da condição de voo, e ficarem longe da zona de detritos em operações em pistas não preparadas – assim como os motores.  Na maior parte dos aviões de negócios da mesma categoria os flaps estão posicionados próximos ao trem de pouso, o que torna problemático seu uso em pistas de terra, por exemplo. Além disso, a Pilatus optou por empregar novos sistemas na atuação de flaps e spoliers, que possuem controles eletrônicos e atuadores eletromecânicos, fornecendo melhor desempenho, mais confiabilidade e menor peso, além de reduzir o custo de manutenção em comparação ao dos sistemas hidráulicos tradicionais. O conjunto foi desenvolvido pela Curtiss-Wright Actuation Systems, que também fornece o sistema de geração de força hidráulico. As novas tecnologias o tornam mais leve e eficiente, podendo fornecer a pressão e a vazão necessárias para o freio principal, o anti-skid e os freios de emergência e de estacionamento.


Honeywell desenvolveu suíte ACE especialmente para o jato da Pilatus

Caso seja confirmada após os testes, a performance do PC-24 será uma das mais surpreendentes da aviação de negócios. Destacam-se a velocidade de estol, de apenas 81 nós (MLW, ISA e Nível do mar), e uma distância de decolagem de apenas 820 m em pistas pavimentadas com MTOW, ISA e nível do mar, ou de 1.350 m com MTOW em uma pista de 5.000 pés de elevação com ISA +20o C. Embora os dados de performance em pistas não pavimentadas não tenham sido confirmados, acredita-se num valor próximo aos 950 m ao nível do mar. O que, na prática, torna o PC-24 apto a operar na maior parte das pistas de pouso do mundo.

Dados da Pilatus dão conta de que o PC-24 poderá operar em mais que o dobro de pistas na América do Sul em comparação a seus concorrentes. Seriam 3.282 pistas cobertas pelo Pilatus contra 1.501 de modelos similares no continente sul-americano. Na América do Norte esse número é ainda mais favorável ao modelo suíço, que poderia operar em 8.383 aeródromos enquanto seus rivais decolariam de 4.397. Nesse contexto, a África pode se tornar um importante mercado para o PC-24, visto que a maior parte das pistas do continente é semipreparada e de terra batida. Existem apenas 815 aeroportos africanos aptos a receber aviões de negócios da categoria, enquanto o PC-24 poderia teoricamente operar em mais de 2.400.

Painel personalizado

Os dados iniciais preveem uma razão de subida do PC-24 de até 4.075 pés/min, podendo acender para o nível de cruzeiro (FL450) a partir do nível do mar, em apenas 30 minutos. No cokcpit, o jato suíço conta com uma suíte de aviônicos desenvolvida com exclusividade pela Honeywell Aerospace. O ACE (Advanced Cockpit Environment) dispõe de quatro telas de 12 polegadas, sendo considerado um dos elementos-chave para a performance do PC-24. O sistema tem como base a suíte Primus Apex, incluindo os recursos Honeywell SmartView Synthetic Vision System, Protected Mode-Controller Pilot Data Link Communication, Required Navigation Performance Authorization, TCAS II e Wide Area Augmentation System-Localizer Performance com orientação vertical (WAAS-LPV). Eles fornecem aos pilotos mais consciência situacional.

Embora não seja incomum a personalização de uma suíte de aviônicos, essa é a primeira vez que a Pilatus trabalha em parceria com um grande fabricante para desenvolver um sistema customizado, visando obter o máximo desempenho dos dispositivos embarcados. O emprego de uma suíte de prateleira personalizada para determinado avião permite ao fabricante obter melhor integração entre os sistemas, tornando o conjunto mais eficiente e simplificando a operação, além de reduzir drasticamente os riscos durante o desenvolvimento.

Outro diferencial do PC-24 é a porta de carga com dimensões de um pallet padrão (1,25 m x 1,30 m) de série, algo inédito na categoria. Segundo a Pilatus, “cada produto icônico incorpora pelo menos uma característica que o diferencia de forma dramática da concorrência”. Além disso, o interior do avião pode ser facilmente convertido numa ampla gama de configurações, desde interior VIP até uma opção para cargas leves ou aeromédico.

Numa configuração padrão o bagageiro possui 1,40 m³ enquanto numa configuração de carga pode ocupar todo o volume de cabine, que é de 14,20 m³.  A cabine ainda é uma das mais espaçosas da categoria, com 7,01 m de comprimento, 1,69 m de altura e 1,55 m de largura, oferecendo diversas opções de layout. Embora o programa PC-24 esteja em fase inicial, com o primeiro voo realizado no dia 11 de maio último, quase seis meses após o cronograma inicial, as perspectivas para o modelo são bastante atraentes e já chamam a atenção do mercado.

O desafio da Pilatus é colocar em prática sua capacidade industrial e de gestão para efetivamente criar um novo nicho de mercado. Muitos modelos que possuíam boas perspectivas de vendas e prometiam revolucionar o mercado levaram seus fabricantes a situações delicadas. Da mesma forma, modelos que conseguiram cumprir seus objetivos ajudaram seus fabricantes a se estabelecerem no mercado e criaram novos padrões em suas categorias.

Pilatus PC-24

Dimensões Externas

Comprimento    16,8 m
Envergadura    17 m
Altura    5,3 m

Dimensões Internas

Cabine    7,01 m
Altura    1,69 m
Largura    1, 55 m
Volume de cabine    14,20 m3
Compartimento de bagagem     1,4 m3

Pesos (máximo)

Rampa    8,050 kg
Decolagem    8.005 kg
Pouso    7.370 kg
Zero combustível    6.100 kg
Payload    1.135 kg
Payload com máximo combustível    415 kg

Motor

Fabricante    Williams International
Modelo    FJ44-4A
Potência Máxima    3.400 lbf
Potência com reserva automática    3.600 lbf
TBO – HSI – Inspeção    5.000 h – 2.500 h – 300 h

Performance

Altitude Máxima Certificada    45.000 pés
Altitude Monomotor    26.000 pés
Razão de subida*    4.075 pés/min
Velocidade Máxima de Cruzeiro    425 KTAS
Alcance**    1.950 nm
Distância de pouso***    770 m
Velocidade de estol*    81 nm

* Nível do Mar
** LRC, reserva NBAA IFR com 100 nm + 30 min VFR, LRC, single pilot
*** Com obstáculo de 50 pés

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 11/06/2015, às 00h00


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