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Os tablets e a aviação leve

O Brasil tende a seguir o mesmo caminho dos Estados Unidos, que já aprovaram normas para uso dos novos dispositivos eletrônicos em voo


O crescimento do número de aeronaves, observado no Brasil nos últimos anos, tem sido puxado por um segmento discreto, porém, vigoroso. As pequenas aeronaves não homologadas, conhecidas como “experimentais”, lideram o número de entregas da indústria nacional há pelo menos cinco anos. Esse segmento é composto de aviões ultraleves e experimentais, com modelos mais velozes, e a novíssima categoria de aeronaves leves (ALE). As pessoas que adquirem essas aeronaves, normalmente, estão em busca de operações aéreas privadas, com menor custo do que os tradicionais aviões homologados. Embora alguns experimentais obtenham da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a aprovação para voarem por instrumentos (IFR), na maior parte das vezes, os operadores se limitam a operar segundo regras visuais para aeródromos menores e distantes dos grandes centros. Os proprietários normalmente buscam custos mais baixos e processos menos complicados para aprovação de aeronaves e obtenção e revalidação de licenças, além de sistemas de navegação e informação aeronáutica com melhores relações custo-benefício.

Uma pequena aeronave, desenvolvida para apenas dois ocupantes, com peso máximo de decolagem na casa dos 650 kg, não teria capacidade de carregar o mesmo material que uma aeronave homologada preparada para o voo IFR. Simplesmente porque uma pasta de navegação padrão pesa cerca de 5 kg e ocupa um espaço de uma poltrona. Se adicionarmos os regulamentos, tarifário, formulários, documentos obrigatórios e equipamentos de pernoite, não haverá espaço sequer para o piloto. Então, a novidade dos tablets chamou a atenção desses operadores. E o lançamento do mais conhecido deles, o iPad, da Apple, aguçou o desejo do mundo aeronáutico em usá-lo a bordo.

A coisa começou alguns anos atrás, nas grandes aeronaves, que passaram a utilizar tablets na apresentação de cartas e procedimentos ATS (Air Traffic Services), de forma destacada do painel. Posteriormente, as grandes empresas aéreas implantaram tablets homologados por meio de boletins de serviço, com mais funcionalidades para os pilotos, em substituição aos materiais informativos impressos. O crescimento do uso desses equipamentos prosseguiu e hoje o conceito está consolidado.

A nova ferramenta veio a calhar para a aviação leve, pelas virtudes que possui. Além de aliviar peso e volume a bordo, esses dispositivos eletrônicos oferecem a possibilidade de carregar documentos úteis. No solo, o piloto pode consultar o tarifário para conhecer os preços de operação de pouso e uso de serviços de tráfego aéreo. Tem condições de acessar facilmente o manual de plano de voo na hora do seu preenchimento. Se estiver distante de uma sala de tráfego, poderá avaliar a previsão do tempo pelos recursos de internet em rede 3G ou na futura rede 4G. No caso de uma pane na aeronave, que seja acompanhada de indícios visíveis, o tablet permite que se fotografe o problema, enviando a imagem para a oficina que vai fornecer a solução. As fotografias também serão úteis para registrar deficiências de infraestrutura e falhas no fornecimento de serviços ATS, caso ocorram. Em voo, o piloto tem em seu colo as edições eletrônicas do ROTAER, as regras de tráfego aéreo e as cartas de que precisa. Com poucos toques certeiros, as informações surgirão vivas à sua frente. Na hora da atualização, bastará substituir o arquivo digital vencido pelo novo.

Foto: Rodrigo Cozzato
ALÉM DE ALIVIAR PESO E VOLUME A BORDO, NOVOS APARELHOS ELETRÔNICOS PERMITEM CARREGAR DOCUMENTOS ÚTEIS E JÁ RIVALIZAM COM GPS PORTÁTEIS

Repleto de recursos, o uso de tablets a bordo de aeronaves leves, experimentais ou homologadas que operem sob regras da RBHA91 ainda não foi regulamentado pela Anac. Os inspetores (INSPAC) exigem que os pilotos tenham a bordo todo o material de apoio impresso em papel. As cartas e mapas de navegação, além dos procedimentos ATS, devem ser os impressos pelo Decea. Nos Estados Unidos, a FAA (autoridade aeronáutica norte-americana) já autorizou o uso desse material em formato eletrônico para operação sob regras FAR91 (aviação privada). A tendência é que a Anac siga o mesmo caminho, já que em várias oportunidades no passado, baseou-se no FAA para redigir regras para o Brasil.

Além disso, a cada dia surgem novos softwares de navegação, possíveis de serem rodados nos tablets. A maior parte dos pilotos que possuem iPhone já se acostumou aos applets desenvolvidos para aviação. Nos iPad, com suas telas maiores, os softwares de navegação passam a competir diretamente com os equipamentos GPS portáteis. Rodam em plataformas mais populares e de menor custo. Para tanto, basta que o tablet tenha uma pequena antena de GPS acoplada. Em especial, o Apple iPad 3 traz a novidade de possuir recursos de navegação pela constelação GLONASS, da Rússia. Ainda que não haja softwares de navegação aérea disponíveis para uso a partir dessa constelação, por enquanto, o surgimento de vários applets de navegação rodoviária por GLONASS prenuncia o seu uso como backup do GPS. E o mesmo equipamento de navegação servirá mais tarde para responder e-mails e acessar a internet.

Mais leves, compactos, funcionais e baratos, tudo indica que vieram para ficar. Resta que cada operador faça bom uso deles, e que sirvam para elevar a segurança de voo.

Jorge Filipe Almeida Barros
Publicado em 03/10/2012, às 07h28 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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