Perseverança, estudo, dedicação e patriotismo marcaram a vida do engenheiro e piloto
Ozires Silva ajudou a consilidar o setor aeroespacial no Brasil
Há 90 anos o Brasil ganhava uma de suas estrelas mais brilhantes. Nascido no interior paulista, na cidade de Bauru, no dia 8 de janeiro de 1931, Ozires Silva se tornou um dos brasileiros que mais contribuiu para o sucesso do país. Desde criança frequentando o aeroclube da cidade e grande entusiasta da aviação, Ozires Silva sonhava em produzir aviões no Brasil.
Sua relação profissional com a aviação começou em 1948, quando ingressou na Escola Preparatória da Aeronáutica, da Força Aérea Brasileira. Como piloto militar serviu aos então 1º e 2º Grupo de Aviação de Transporte, em Belém. Voando principalmente missões de integração na amazônica, ainda hoje considerada uma das regiões mais desafiadoras do mundo. Atou ainda no projeto Correio Aéreo Nacional, que ampliou a interligação do vasto território brasileiro nos anos 1950.
Em uma viagem ao Rio de Janeiro, em 1958, para a revalidação do certificado técnico de piloto, Ozires Silva soube da criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o famoso ITA, a primeira escola superior de formação de engenheiros aeronáuticos no Brasil. No ano seguinte ingressa no instituto, se formando cinco anos depois, aos 31 anos.
Imediatamente após obter o diploma de engenheiro aeronáutico, Ozires Silva ingressou no Departamento de Aeronaves do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), vinculado ao então Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos. Enquanto conduzia os trabalhos de manutenção dos aviões da FAB, notou a carência de uma aeronave de transporte moderna, robusta e que pudesse voar rotas regionais de baixa demanda, ao mesmo tempo que fosse capaz de atender as necessidades da força aérea. Enquanto trabalhava no projeto, foi enviado para estudar na prestigiosa Caltech (California Institute of Technology), aliás, berço inclusive de projetos avançados da Nasa.
O convite para estudar na Caltech era mais político do que técnico, pois sua ambição de projetar um avião no Brasil esbarrava nos interesses de grupos contrários ao uso de dinheiro público na empreitada. Ciente dos desafios, aceito ou convite para estudar na Califórnia em 1965, retornando no ano seguinte com novas ideias.
O projeto IPD-6504 (referência a ser o projeto número 4 de 1965) foi aprovado para ser desenvolvido nas instalações do CTA. O pioneiro avião recebeu o sugestivo nome de Bandeirante, referência aos desbravadores da integração nacional. O pequeno avião era exatamente o que o engenheiro Ozires Silva e a equipe do CTA buscavam, uma aeronave que nenhum fabricante mundial tinha interesse em produzir. Porém, isso levou a um novo problema, nem mesmo empresários brasileiros acreditaram no projeto. Ainda assim, o IPD-6504 realizou seu primeiro voo em 22 de outubro de 1968, comprovando a viabilidade do projeto.
Após uma série de aperfeiçoamentos e a criação de uma fábrica de capital misto, ou seja, iniciativa privada e o Estado teriam participação, o avião foi rebatizado como EMB-110 e surgiu a Embraer.
Após estabelecer as bases da Embraer, liderando seu crescimento ao longo de mais de uma década, Ozires Silva aceitou, em 1986, o convite do então presidente José Sarney, para presidir a Petrobras. A gigante petrolífera brasileira avançava rapidamente na criação de tecnologias de ponta para exploração de petróleo e gás em alto mar. Em 1990, Ozires Silva assumiria Ministério da Infraestrutura e Comunicações, do governo Fernando Collor.
A segunda metade dos anos 1980 ficou marcada pela hiperinflação e uma crise econômica sem precedentes na história brasileira. O governo Collor iniciou um processo de eliminação de ativos estatais, que passaram a ser encerrados ou leiloados conforme o interesse político da época. Sem capital e sem despertar interesse político, a Embraer entrou em declínio nos primeiros anos da década de 1990, chegando próximo da falência. Após um estudo foi comprovada da viabilidade da fabricante brasileira, que na época estudava o desenvolvimento de um jato regional, substituindo o turbo-hélice avançado CBA-123.
O retorno de Ozires Silva ao comando da Embraer ocorreu em 1991, quando preparou a empresa para ser privatizada. O leilão ocorreu em de 7 de dezembro de 1994, ainda na gestão do presidente Itamar Franco. O controle foi assumido Banco Bozzano, como sócios minoritários os fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil) e Sistel (da Telebrás), além do grupo norte-americano Wasserstein Perella.
Com seu legado salvo, Ozires Silva deixou a Embraer, que assistiu um crescimento constante ao longo das décadas seguintes. Mais tarde assumiu a presidência da Varig, em 2000, onde iniciou um processo de reestruturação da combalida empresa aérea. Todavia, forças internas não permitiram a continuidade dos trabalhos, afastando Ozires Silva da empresa dois anos depois. Mais tarde, em 2006, a Varig entrou em colapso, sendo vendida em partes.
Ao se afastar da aviação, Ozires Silva criou a Pele Nova Biotecnologia, focada no desenvolvimento de inovações terapêuticas e dermocosméticas a partir da biodiversidade do Brasil. Na sequência passou a trabalhar em projetos educacionais, onde comandou universidades e atualmente preside o Conselho de Inovação da Ânima Educação.
Ao 90 anos, o engenheiro e aviador Ozires Silva tem 53 prêmios e condecorações nacionais e internacionais em quinze países.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 08/01/2021, às 14h30 - Atualizado às 15h07
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