A ALTA alerta que a América Latina é a região com as passagens aéreas mais caras do mundo devido a altos impostos e regulamentação excessiva
A América Latina continua sendo a região com os custos mais elevados do mundo em taxas e encargos sobre o transporte aéreo de passageiros, segundo executivos reunidos no ALTA AGM & Airline Leaders Forum 2025, realizado em Lima.
As companhias aéreas alertaram que essas cobranças, que podem representar até dois terços do valor total de uma passagem, comprometem a competitividade, o crescimento e a acessibilidade do setor na região.
De acordo com Peter Cerdá, novo CEO e diretor executivo da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA), as taxas e tarifas incidentes em bilhetes aéreos podem representar até dois terços do valor total de uma passagem na região — em média US$ 44 (R$ 237) por passageiro, o que equivale a 29% do custo total. Em comparação, esse percentual é de 17% na Ásia-Pacífico e 15% na América do Norte.
Gargalos como infraestrutura deficiente, aeroportos congestionados e falta de conectividade entre grandes centros e terminais regionais, também afetam a capacidade da América Latina em desenvolver uma aviação robusta. A margem média das companhias latino-americanas é de apenas US$ 3,40 (R$ 18,30) por passageiro, um dos menores índices globais. Além disso, a instabilidade política e regulatória cria um ambiente de incerteza e eleva os custos operacionais.
Apesar dos obstáculos, a aviação comercial latino-americana apresentou forte recuperação em 2024, alcançando recordes de tráfego e ampliando sua malha com 194 novas rotas desde outubro do mesmo ano. O número de pares de aeroportos únicos cresceu quase 70% desde 2023, impulsionado principalmente por Argentina, Brasil, Colômbia, México e Panamá — hoje considerados vetores de desenvolvimento da aviação regional.
O transporte de cargas também registrou expansão, consolidando-se como elo essencial para exportações de produtos perecíveis, bens de alta tecnologia e minérios.
Durante os painéis do fórum, presidentes de grandes companhias aéreas expressaram insatisfação com a estrutura de custos e políticas públicas consideradas “miopes”. Frederico Pedreira, CEO da Avianca, classificou como “absurda” a proporção de taxas e impostos embutidos nos bilhetes, enquanto Roberto Alvo, CEO da Latam Airlines, ressaltou que tais políticas são um dos principais fatores limitantes ao crescimento sustentável das empresas.
Estuardo Ortiz, CEO da JetSmart, reforçou a necessidade de uma reforma ampla na cobrança de tarifas aeroportuárias e tributos, argumentando que o passageiro tem sido onerado de forma desproporcional.
Cerdá concluiu defendendo a revisão dos modelos regulatórios e tributários, afirmando que o excesso de regulação “não protege, mas sufoca o desenvolvimento”.
Além das questões locais, as empresas aéreas da região enfrentam atrasos na entrega de novas aeronaves e problemas com motores de última geração.
Executivos alertaram para a falta de confiabilidade nos prazos de fabricação e manutenção, destacando que a busca por eficiência de combustível e redução de emissões tem transformado as operadoras em “campos de teste” para tecnologias ainda em maturação. Um dos entraves obervados é que os motores atuais não têm apresentado a durabilidade esperada e defendeu maior rigor nas garantias oferecidas pelos fabricantes.
O consenso entre os participantes do fórum reforçou que a sustentabilidade do transporte aéreo na América Latina depende de uma revisão profunda de políticas fiscais, regulatórias e de infraestrutura.
Enquanto o setor demonstra resiliência e potencial de expansão, os custos operacionais elevados e a instabilidade política continuam a limitar investimentos e a conectividade regional. Para as lideranças da aviação, reduzir encargos e modernizar os marcos regulatórios são passos essenciais para transformar o crescimento recente em desenvolvimento duradouro.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 22/10/2025, às 09h45
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