Manter aviões fora de operação exige manutenção constante e gera custos milionários — um desafio pouco conhecido que a indústria aérea enfrentou em larga escala
Durante a pandemia de covid-19, milhares de aviões comerciais foram estocados em aeroportos e hangares ao redor do mundo, gerando custos milionários e desafios logísticos para fabricantes e companhias aéreas.
O armazenamento prolongado exigiu manutenções constantes, cuidados rigorosos com os equipamentos e adaptações inéditas nos pátios das empresas. O episódio expôs a complexidade e o impacto financeiro de manter frotas inteiras fora de operação por meses ou anos.
Armazenar aeronaves por longos períodos — especialmente quando não há previsão de retorno imediato às operações — gera custos elevados para as companhias aéreas e operadores. Esses custos variam de acordo com o porte do avião, o local e o tipo de armazenamento.
Em média, manter um narrowbody, como um Airbus A320 ou um Boeing 737, custa entre US$ 2 mil e US$ 6,3 mil por mês, dependendo do nível de manutenção adotado — quanto maior o grau de prontidão para retorno imediato ao serviço, mais elevados os custos. Já os widebodies, como o A380, A350 ou o 777, podem ultrapassar US$ 10 mil mensais.
O armazenamento prolongado demanda inspeções frequentes, manutenção preventiva e controle ambiental rigoroso — fatores que aumentam os custos em comparação ao armazenamento de curto prazo. Hangar climatizado oferece maior proteção, mas é mais caro. A exposição a intempéries em áreas abertas, embora mais econômica, demanda inspeções e manutenção adicionais.
Quando a pandemia surgiu, em 2020, grande parte dos pátios de aeroportos e instalações de armazenamento nos Estados Unidos já estava ocupada por centenas de Boeing 737 MAX, que permaneciam estocados desde a suspensão global do modelo em 2019. Essa situação criou um desafio adicional para as companhias aéreas que precisaram encontrar espaço adequado para armazenar milhares de outras aeronaves que foram retiradas de operação devido à drástica queda na demanda por voos. A escassez de áreas apropriadas aumentou os custos logísticos e exigiu soluções improvisadas, como o uso de pistas de taxiamento e até estacionamentos de veículos, ampliando ainda mais a complexidade da gestão das frotas inativas.
A paralisação afetou cerca de quinhentos Boeing 737 MAX, incluindo cem unidades recém-saídas da fábrica, após dois acidentes fatais em um intervalo de cinco meses. A crise reduziu em US$ 41,5 bilhões o valor de mercado da Boeing e resultou em um prejuízo estimado de US$ 1,5 bilhão em voos cancelados.
Os custos de armazenamento variam conforme o modelo da aeronave. O 737 MAX 9, com peso vazio de 70.990 quilos, representava na época o maior custo entre os modelos da família. No entanto, companhias aéreas que armazenaram grandes frotas conseguiram negociar preços mais baixos por escala.
O armazenamento exige manutenção constante, mesmo quando planejado que as aeronaves permaneçam fora de operação por longos períodos. Motores precisam ser acionados semanalmente, sistemas eletrônicos verificados e superfícies de controle testadas. Além disso, a exposição ao calor, areia, insetos e até bactérias pode comprometer a vida útil dos componentes.
A paralisação prolongada também impôs desafios à retomada operacional. Ao final do período de armazenamento, cada aeronave exigiu uma revisão minuciosa que levou semanas, em comparação com os poucos dias exigidos após um armazenamento de curto prazo.
A crise também levou à suspensão temporária da produção do 737 MAX, em janeiro de 2020, devido à falta de espaço para novos aviões nos pátios da Boeing e nas instalações de armazenamento nos Estados Unidos. Na época, cerca de quatrocentas aeronaves já estavam estocadas, e algumas precisaram ser estacionadas até mesmo nas áreas destinadas aos automóveis dos funcionários na unidade de Renton.
A retomada das entregas ocorreu gradualmente após a aprovação da agência federal de aviação do Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) e de outros órgãos reguladores, e, até abril deste ano, 97 unidades seguiam armazenadas à espera de entrega, segundo estimativa da Flight Plan.
A crise que paralisou os voos do 737 MAX e a estocagem em massa de frotas durante a pandemia expuseram os altos custos e a complexidade logística envolvidos no armazenamento prolongado de aeronaves.
Por Marcel Cardoso e Edmundo Ubiratan
Publicado em 25/06/2025, às 09h14
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