IATA define metodologia para contabilizar SAF e prevê aumento da produção, enquanto Brasil investe em programas e biorrefinarias.
A Associação do Transporte Aéreo Internacional (IATA) apresentou uma metodologia unificada para contabilizar e reportar a redução de emissões de CO₂ associada ao uso de combustível de aviação sustentável (SAF). A medida busca garantir precisão, consistência e transparência nos cálculos, permitindo que companhias aéreas em diferentes países comprovem seu desempenho ambiental.
O novo padrão antecede o lançamento do SAF Registry, previsto para abril, que funcionará como registro global para transações e créditos de SAF. De acordo com Marie Owens Thomsen, vice-presidente sênior de sustentabilidade e economista-chefe da IATA, a padronização dos critérios evitará a dupla contagem de emissões e facilitará o cumprimento de metas regulatórias e voluntárias, independentemente da localização do uso do combustível.
A metodologia define orientações técnicas para contabilização e conformidade regulatória, incluindo:
Cálculo de emissões com base nas compras de SAF, seguindo a abordagem Corsia da ICAO, independentemente da cadeia de custódia.
Fatores opcionais de contabilização tank-to-wake (TTW) e well-to-wake (WTW), adequados a diferentes requisitos regulatórios.
Critérios padronizados para garantir consistência no cumprimento de obrigações legais e voluntárias.
Cálculo das emissões evitadas por passageiro e por remessa de carga.
Os princípios fundamentais incluem igualdade na contabilização do SAF, prevenção da dupla contagem, integridade dos dados ambientais e transparência nos relatórios. O desenvolvimento envolveu mais de 40 especialistas do setor, com experiência em diversas tecnologias e matérias-primas.
A oferta de SAF continua limitada. Em 2024, a produção global somou cerca de 1,5 milhão de toneladas, equivalente a 0,3% do combustível de aviação e 11% do combustível renovável produzido mundialmente — abaixo das previsões iniciais. As estimativas indicavam volume três vezes maior que o registrado em 2023.
A IATA projeta para 2025 um crescimento para 2,1 milhões de toneladas, o que representaria 0,7% da produção total de combustível de aviação e 13% do combustível renovável global. Segundo o diretor-geral Willie Walsh, o avanço é prejudicado por subsídios concedidos à produção de combustíveis fósseis, criando desvantagem competitiva para o SAF.
Para atingir a meta de zero emissão líquida até 2050, o setor precisará de 3.000 a 6.500 novas usinas de combustível renovável, com investimentos anuais estimados em US$ 128 bilhões (R$ 763 bilhões) — valor menor que os US$ 280 bilhões investidos em energia solar e eólica entre 2004 e 2022.
No Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 528/2020, que cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV). O texto estabelece metas obrigatórias para adoção de SAF a partir de 2027 e atribui à ANAC a responsabilidade de regulamentar e fiscalizar a implementação.
Além da legislação, há incentivos financeiros. O BNDES e a Finep lançaram uma chamada pública para selecionar projetos de biorrefinarias e produção de combustíveis sustentáveis, com aporte total de R$ 6 bilhões — metade proveniente de cada instituição. Empresas brasileiras do setor poderão apresentar propostas voltadas à inovação e à ampliação da oferta de SAF.
Com a padronização da contabilização e a criação do SAF Registry, a IATA espera acelerar a formação de um mercado global funcional para o combustível sustentável de aviação. No entanto, especialistas alertam que, sem políticas de incentivo mais robustas e investimentos de larga escala, será difícil atingir a produção necessária para atender às metas ambientais da aviação.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 30/01/2025, às 09h55