Descarbonização da aviação ocorre em meio aos desafios técnicos, financeiros e regulatórios
A descarbonização da aviação tem sido promovida como um caminho inevitável para a sustentabilidade do setor. No entanto, os desafios técnicos, financeiros e regulatórios tornam essa transição mais complexa do que se admite.
A aviação comercial já opera sob custos elevados, volatilidade nos preços dos combustíveis, pressões regulatórias e fragilidade na cadeia de suprimentos. Uma transição acelerada e sem um modelo econômico viável pode comprometer a competitividade e a acessibilidade do transporte aéreo.
A introdução de combustíveis alternativos, como o Sustainable Aviation Fuel (SAF), é frequentemente apontada como solução para reduzir as emissões. No entanto, seu custo ainda é significativamente superior ao do querosene de aviação, e sua produção enfrenta barreiras logísticas e limitações de matérias-primas, podendo competir com setores essenciais, como a agricultura e a segurança alimentar.
Diante desse cenário, as companhias aéreas têm investido continuamente na otimização do consumo de combustíveis como uma forma mais realista e imediata de reduzir emissões e custos. Estratégias como o uso de aeronaves mais eficientes, melhorias aerodinâmicas, otimização de rotas e procedimentos de decolagem e pouso menos intensivos em consumo de combustível já estão em prática e trazem resultados concretos.
Os eVTOL (veículos elétricos de decolagem e pouso vertical) têm sido apresentados como uma revolução na mobilidade aérea urbana, mas sua implementação enfrenta obstáculos significativos. Os desafios incluem os altos custos de produção, as limitações de autonomia, infraestrutura específica e exigências regulatórias rigorosas. A certificação dessas aeronaves levará anos, e sua viabilidade econômica ainda não foi comprovada.
Enquanto os eVTOL ainda são uma promessa futura, os helicópteros permanecem como soluções confiáveis e amplamente utilizadas. Comparados aos eVTOL, os helicópteros oferecem vantagens claras, como maior autonomia e capacidade de carga, infraestrutura já existente, flexibilidade operacional em diferentes condições climáticas e maior eficiência econômica no curto prazo.
Além disso, enquanto os eVTOL exigem bilhões em investimentos para viabilizar sua adoção, os helicópteros já operam de forma consolidada, com tecnologias que continuam evoluindo em eficiência e redução de emissões.
A pressão por metas ambientais mais ambiciosas muitas vezes ignora os impactos financeiros e operacionais do setor. Regulamentações rígidas, sem considerar a realidade econômica das companhias aéreas, podem prejudicar especialmente empresas menores e mercados emergentes.
O setor já investe constantemente em eficiência energética e renovação de frota, mas qualquer avanço real precisa ser economicamente sustentável. A transição energética na aviação deve ocorrer de forma gradual e equilibrada, garantindo que a adoção de tecnologias sustentáveis não comprometa a estabilidade financeira do setor nem a acessibilidade ao transporte aéreo.
A otimização do consumo de combustíveis, aliada a inovações tecnológicas realistas, como a modernização dos helicópteros, continua sendo o caminho mais viável no curto e médio prazo para reduzir emissões sem comprometer a viabilidade econômica da aviação.
* Marcos Amaro é empresário, artista plástico e foi membro do conselho da TAM Linhas Áreas.
É sócio fundador e presidente do conselho da Amaro Aviation
Por Marcos Amaro*
Publicado em 14/02/2025, às 11h00
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