Com investimento de US$ 15 bilhões, o Hamad International Airport promete tornar o Catar a principal conexão aérea entre o Oriente e o Ocidente
Em meio à polêmica em torno da indicação do Catar como sede da Copa do Mundo da FIFA de 2022, o pequeno emirado do Oriente Médio inaugurou seu novo aeroporto internacional. Com custo superior a US$ 15 bilhões, praticamente o mesmo investido pelo Brasil para o torneio de 2014, o Hamad International Airport surge como o mais moderno aeroporto da atualidade. O Catar é um dos maiores exportadores de petróleo e, beneficiado pelo aumento no preço do produto nos últimos anos, registrou em 2013 seu oitavo superávit orçamentário consecutivo, acentuando seu meteórico crescimento econômico. Ainda assim, desde que Hamad bin Khalifa Al Thani se tornou emir, em 1995, sucedendo seu pai, Khalifa bin Hamad Al Thani, o Catar passou a focar sua política econômica em um modelo de desenvolvimento não associado às reservas de petróleo.
Mesmo que hoje mais de 50% do PIB seja oriundo das vendas internacionais de petróleo e gás natural, o país tem apostado em setores como financeiro, indústria e turismo. A estratégia fez do Catar o país mais rico do mundo. Com PIB de US$ 182 bilhões, a renda per capita foi de impressionantes US$ 102.900. Apenas como comparação, os Estados Unidos possuem um PIB de US$ 17,2 trilhões e uma renda per capita de US$ 54.100.
O edifício real conta com terminal de uso exclusivo do emir e seus convidados
Um dos focos do governo do Catar é tornar o país independente do petróleo. Ocupando uma área total de apenas 11.571 km², na pequena Península do Catar, na costa nordeste da Península Arábica, o país está praticamente no meio do mundo, entre Ocidente e Oriente. Sua privilegiada localização o torna um candidato natural a hub internacional, conectando voos entre as Américas e a Europa, com destinos na Ásia, África e Oceania.
Apesar de a capital do país, Doha, já ter um dos mais modernos aeroportos da atualidade, o governo iniciou, em 2005, as obras para a construção deste que será um dos mais modernos e eficientes aeroportos do mundo. O projeto contempla a construção do aeroporto a 5 km do Doha International Airport e 16 km do centro de Doha, numa área com mais de 60 hectares, quase um terço da área total da capital do país.
Para viabilizar a transferência dos passageiros, foi criada uma moderna rodovia ligando o aeroporto ao centro de Doha. A construção incluiu um completo paisagismo ao longo da rodovia que cruza o deserto. Foram plantadas diversas palmeiras e criados jardins nas laterais da pista, que, além do senso estético, tem o objetivo de reduzir os riscos causados pela areia levada pelo vento, que muitas vezes cobrem o asfalto, tornando a direção perigosa.
O terminal de 600.000 m2 teve sua arquitetura inspirada nas ondas do Golfo Pérsico
O sítio aeroportuário ocupa uma área de 10 km², com duas pistas, distantes 2 km uma da outra, permitindo operações simultâneas. A chamada pista leste possui 4.850 m de comprimento, enquanto a pista oeste tem 4.250 m de extensão. O projeto permite a operação irrestrita de aeronaves de grande porte, como o A380, 747-8 e supercargueiros como o Antonov 124.
Com uma moderníssima torre de controle e os mais sofisticados auxílios à navegação, o aeroporto pode movimentar 90 operações de pouso e decolagem por hora, o que representa 360.000 operações anuais. Os responsáveis pela gestão do aeroporto afirmam que, com investimentos pontuais, é possível dobrar ou triplicar o número de operações, já que o projeto contempla um crescimento constante ao longo dos próximos 20 anos.
O terminal possui 600.000 m² e teve sua arquitetura inspirada nas ondas do Golfo Pérsico. Na primeira fase, o terminal possui capacidade para movimentar 30 milhões de passageiros por ano, sendo que, até 2020, a capacidade será de 50 milhões de passageiros. Atualmente, o terminal pode movimentar 8.700 pessoas por hora. O projeto criou um espaço eficiente e amplo, com 138 posições de check-in, sendo 108 destinadas a empresas aéreas globais e 30 exclusivas para passageiros premium da Qatar Airways, a empresa aérea de bandeira do país. Em razão do perfil do público da Qatar, foram destinados 16 balcões aos passageiros da Classe Executiva e 14 balcões de luxo, com possibilidade de fazer reservas antecipadas dos assentos de primeira classe.
O Catar não é um país com problemas associados ao terrorismo, mas as autoridades investiram na criação de um complexo sistema de segurança, incluindo modernos controles de passaporte. Ainda dentro do conceito de passageiro premium, o aeroporto conta com 6 posições de controle de passaporte e 3 e-gates, exclusivos para os passageiros de primeira classe da Qatar Airways e 10 posições de controle e 5 e-gates para a classe executiva. Para os demais passageiros e empresas aéreas, foram criadas 34 posições de controle de passaporte e 12 e-gates. Os e-gates têm se tornado cada vez mais usuais nos principais aeroportos do mundo, parte por sua praticidade, já que permitem ao passageiro realizar todos os trâmites necessários, e parte por conta de sua segurança e alto índice de confiabilidade.
Algumas estações mais recentes permitem que o passageiro use apenas biometria no lugar do passaporte e do cartão de embarque. A identidade é confirmada por câmeras de reconhecimento facial ou de leitura da íris. Poderosos sistemas de processamento leem, verificam e confirmam os dados do passageiro, podendo, até, realizar o check-in e imigração simultaneamente. O processo de check-in desempenha um papel central nesse conceito. Quando um passageiro realiza o check-in ou imigração, as informações são compartilhadas automaticamente entre autoridades, aeroportos, companhias aéreas e diversos países. Doha tem investido maciçamente em segurança, especialmente porque deve ser a sede da Copa do Mundo da FIFA em 2022.
“O HIA fornece uma experiência sem complicações a nossos passageiros, desde o check-in até o controle de passaportes e embarque”, afirma o CEO da Qatar Airways, Sr. Akbar Al Baker. Atualmente, o aeroporto dispõe de 41 portões de embarque, sendo que até 2020 serão 65 posições. Para evitar transtornos aos passageiros, o processo de embarque é realizado no mesmo piso, que conta com esteiras rolantes, carrinhos elétricos e demais facilidades, oferecendo, de acordo com as autoridades locais, “zero problema e mais paz de espírito”.
Como o Catar disputa com Dubai e Abu Dhabi, ambos nos Emirados Árabes Unidos, o posto de hub global, entre o Ocidente e o Oriente, foi criada uma série de serviços de apoio. Além das tradicionais lojas e praças de alimentação, o novo aeroporto conta com hotel com 200 quartos, piscina com 25 m de comprimento, duas quadras de squash, ginásio, sauna e um spa cinco estrelas. Seguindo uma tradição nos países do Oriente Médio, o aeroporto conta com uma imponente mesquita.
Desde o início, o projeto contemplava serviços que pudessem tornar as escalas e conexões mais agradáveis, especialmente porque a maior parte dos voos que parte ou chega até Doha são de longo curso. Também está prevista a criação de espaço de cultura e entretenimento, que poderá receber espetáculos completos. “Nossa mudança para o HIA significa um novo começo para a Qatar Airways, pois agora estaremos localizados em um hub de classe mundial, que foi inteiramente projetado para atender às necessidades e expectativas até mesmo dos passageiros mais perspicazes”, completa Al Baker.
Procurando aumentar as receitas do aeroporto, foram criados espaços para a instalação de empresas de manutenção e serviços em geral. Atualmente, a Qatar Airways dispõem de um dos maiores hangares do mundo, com capacidade para receber simultaneamente até 13 aviões, incluindo aeronaves widebody.
O aeroporto ainda dispõe de um terminal especialmente projetado para atender à família real. Chamado de Emir Terminal, o prédio conta com uma arquitetura especial, criada para satisfazer os gostos do emir. As paredes curvas sobem até um teto de vidro, numa alusão às velas náuticas. Com 1.200 m² de área construída, o edifício possui dois andares e pode receber simultaneamente sete aeronaves, sendo que duas são conectadas via portões de embarque. As instalações incluem aposentos privados para o emir, centro de negócios, sala de imprensa, complexo de segurança, suítes para ministros e área de cerimonial. A entrada principal conta com um lago artificial criado dentro das exigências do emir, com características distintas. O estacionamento VIP ainda oferece vagas para 250 carros. O novo HIA coloca o Catar numa posição de destaque entre os hubs do Oriente Médio e permite ao país atender com folga à demanda que será gerada pela Copa.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 14/07/2014, às 00h00
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