Reformas e melhorias de 270 aeroportos no interior do país devem começar ainda este ano. Conheça os aeródromos com maior potencial socioeconômico
A fase operacional do Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional do governo deve começar ainda em 2014. É o que garante a Secretaria de Aviação Civil (SAC). O programa prevê a realização de reformas e melhorias em 270 aeroportos regionais brasileiros com um investimento aproximado de R$ 7,3 bilhões vindos do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) para que 96% dos que vivem ou transitam pelo país estejam a menos de 100 km de distância de um complexo aeroportuário capaz de operar voos regulares. Hoje apenas 61% dos brasileiros têm acesso próximo a esse tipo de aeródromo. “Estamos na fase de estruturação e já recebemos 240 estudos. Teremos grandes transformações no setor nos próximos três anos. Ainda há 40 milhões de pessoas sem acesso a uma operação aeroportuária em um raio inferior a 100 km do local onde vivem”, explica o secretário-executivo da SAC, Guilherme Ramalho.
Segundo a SAC, o movimento nos aeroportos brasileiros triplicará nos próximos 20 anos. O plano visa a promover a melhoria, o reaparelhamento, a reforma e a expansão da infraestrutura aeroportuária, tanto em instalações físicas quanto em equipamentos. Os investimentos incluirão itens como reforma e construção de pistas, melhorias em terminais de passageiros, ampliação de pátios, revitalização de sinalizações e de pavimentos. Guilherme Ramalho cita um estudo da consultoria Oxford Economic, divulgado pela Associação Internacional do Transporte Aéreo, de acordo com o qual um aumento de 10% de conectividade entre os aeroportos brasileiros promoveria uma elevação de R$ 2 bilhões no PIB do país, para mensurar o impacto positivo do programa. Ele participou da mais recente edição da Airport Infra Expo & Aviation Expo, em São Paulo.
Ainda durante o evento, os organizadores apresentaram um ranking que classificou o potencial de desenvolvimento de 100 aeroportos que integram o programa para aviação regional do Brasil. A compilação foi realizada em parceria com a consultoria Urban Systems e intitulada “Ranking dos Aeroportos Regionais: Potencial de Desenvolvimento”. Ela traça um planejamento de expansão urbana e das relações socioeconômicas das regiões, ancorado no crescimento da atividade comercial e industrial e incentivado pela mobilidade e conectividade dos negócios fomentados pelos aeroportos.
Baseado no conceito aeroporto-cidade, que propõe a combinação de um aeroporto com uma cidade estruturada por meio de um plano de ocupação do seu entorno, o levantamento abrange questões que levam em consideração a capacidade dos munícipios, com quatro critérios indicadores de diferentes pesos de avaliação: infraestrutura e localização, transporte de passageiros, transporte de cargas, desenvolvimento imobiliário e receitas acessórias. O indicador “infraestrutura e localização” avaliou fatores como comprimento e largura da pista, nível de polarização da cidade, desenvolvimento econômico e existência de voos regulares. Já o indicador “transporte de passageiros” considerou referências de destino compostas por lazer, negócios, saúde, educação/tecnologia e linhas de ônibus interestaduais e internacionais. O “transporte de cargas” mediu a cadeia produtiva de importação, exportação e produção industrial. Por último, “desenvolvimento imobiliário e receitas acessórias” considerou hospedagem, varejo e educação. “Para aferir o desempenho, criamos o Índice de Qualidade Mercadológica (IQM), uma metodologia que leva em consideração aspectos como informações comerciais, urbanísticas, econômicas e infraestruturais dos impactos da atividade portuária na região estudada”, explica o presidente da Urban Systems, Thomaz Assumpção.
PARA ABEAR, PREFEITOS ERRAM AO TRATAR AEROPORTO COMO ESTRUTURA MUNICIPAL E NÃO REGIONAL
O objetivo do levantamento, além de avaliar o potencial dos complexos, é destacar o papel indutor dos aeroportos na economia regional. Segundo Assumpção, 50% das viagens realizadas nos aeroportos regionais são feitas por executivos. A metodologia serviu de parâmetro para a qualificação dos aeroportos, o que permitiu avaliar o potencial de desenvolvimento dos complexos aeroportuários regionais brasileiros em um ranking inédito que apresenta entre os 20 com “mais alto” potencial, 11 aeroportos em municípios do Sudeste, sete no Sul, um no Nordeste e um no Centro-Oeste. Destes, seis ficam no estado de São Paulo, quatro no Paraná, três em Minas Gerais, dois no Rio de Janeiro, dois em Santa Catarina, um na Paraíba, um no Rio Grande do Sul e um em Goiás. Da lista dos 100, outros 20 têm potencial de desenvolvimento considerado “alto”, 20 potencial “médio” e 40 potencial “baixo”. Veja os 20 com mais potencial, pela ordem, segundo o estudo:
• Aeroporto de São José dos Campos (SP)
• Aeroporto de Ribeirão Preto (SP)
• Aeroporto de Joinville – Lauro Carneiro de Loyola (SC)
• Aeroporto de Campos dos Goytacazes (RJ)
• Aeroporto de Uberlândia – Tenente Aviador César Bombonato (MG)
• Aeroporto Regional de Maringá – Internacional de Cargas (PR)
• Aeroporto Municipal de Cascavel – Cel. Adalberto Mendes da Silva (PR)
• Aeroporto de Londrina – Governador José Richa (PR)
• Aeroporto de Caxias do Sul (RS)
• Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu – Cataratas (PR)
• Aeroporto de Macaé (RJ)
• Aeroporto Civil de Anápolis (GO)
• Aeroporto de Sorocaba – Aeroporto Estadual Bertram Luiz Leupolz (SP)
• Aeroporto Presidente João Suassuna – Campina Grande (PB)
• Aeroporto de Bauru (SP)
• Aeroporto Estadual de Presidente Prudente (SP)
• Aeroporto de Uberaba – Mário de Almeida Franco (MG)
• Aeroporto de São José do Rio Preto (SP)
• Aeroporto de Chapecó (SC)
• Aeroporto de Montes Claros – Mário Ribeiro (MG)
Para o consultor técnico da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Adalberto Febeliano, os prefeitos de cidades brasileiras cometem um erro ao pensar que o aeroporto é uma estrutura municipal e não regional. Ele cita como exemplo o município de Itanhaém, no Litoral Sul de São Paulo. “Falta visão estratégica para investir nesse aeroporto. Os prefeitos das cidades vizinhas pouco ou nada se envolvem para que o complexo se torne economicamente viável para aviação civil e de carga. Podia ser um concentrador das atividades de toda a região da Baixada Santista e Litoral Sul, mas hoje está dedicado às atividades da Petrobras”, ilustra Febeliano.
Segundo o consultor da Abear, um aeroporto regional só é viável economicamente quando há o envolvimento dos setores público e privado. “Além da visão sistêmica dos prefeitos, é essencial que a iniciativa privada participe, promovendo o crescimento imobiliário e o desenvolvimento de atividades de negócios”, explica. Um caso de sucesso citado por ele ocorreu no Tennessee, nos Estados Unidos, onde três cidades (Bristol, Kingsport e Johnson City) viabilizaram a operação do Aeroporto Regional Tri-Cities.
Diante da perspectiva de expansão da cadeia da indústria aeroportuária brasileira nos próximos anos, o debate no mercado é de como os planos se converterão em ações. “A subvenção econômica prevista pelo governo é fundamental para, por exemplo, aumentar o número de destinos dos voos e garantir a sustentabilidade do sistema, que precisa de altos investimentos e enfrenta obstáculos como o preço do combustível e os ciclos econômicos”, afirma Marcelo Bento Ribeiro, diretor de Planejamento de Linhas da Azul, empresa que atende 104 cidades no país.
Luiz Fernando Lopes, diretor da Embraer, defende a ampliação da participação de grupos internacionais na aviação civil brasileira. “Está em discussão no Congresso Nacional o projeto de lei que aumenta o percentual máximo de participação de capital estrangeiro nas empresas que operam no país dos atuais 20% para 49%. Precisamos desses investimentos para impulsionar o setor”, defende o executivo. Para o secretário de Política Regulatória da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Rogério Coimbra, as empresas de maneira geral terão papel fundamental na universalização dos serviços aéreos: “São elas que prospectam mercados, estruturam a malha, buscam ganho de eficiência, fazem investimentos e, principalmente, assumem os riscos. Cabe ao governo sustentar questões como a segurança jurídica e alinhar os incentivos para o setor”.
Segundo Coimbra, atualmente, 38% do consumo no Brasil se dá fora das capitais e seis em cada 10 habitantes de classe média estão no interior. “Há estudos que mostram que 43% dos moradores do interior têm intenção de usar o avião para se locomover”, diz.
Por Santiago Oliver
Publicado em 02/10/2014, às 00h00 - Atualizado em 03/10/2014, às 00h30
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