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Aeroporto de primeiro mundo

Cidade do México promete iniciar neste ano a construção de um novo complexo aeroportuário que será referência para o transporte aéreo global


No final do século passado, o governo mexicano já sabia que seu atual aeroporto não comportaria o crescimento constante do transporte aéreo do país. Com um sítio aeroportuário limitado, o Aeroporto Internacional Benito Juárez tem como gargalo seu sistema de pistas. Existem apenas duas delas, separadas por 300 metros, o que impede operações simultâneas e inviabiliza uma expansão significativa de seus terminais. Em 2001, depois de alguns estudos, seguindo o exemplo de cidades como Denver, Hong Kong, Seul e mais recentemente Istambul e Dubai, os mexicanos decidiram pela construção de um novo complexo aeroportuário. No ano seguinte, o então presidente Vicente Fox anunciou o novo aeroporto. Violentos protestos, porém, fizeram o governo recuar e optar pela expansão do atual aeroporto com a construção de um novo terminal, inaugurado em 2007, o que permitiu o aumento na capacidade de 20 milhões para 32 milhões de passageiros por ano, número superado já em 2014.


Terminal em X soma as vantagens do formato linear com o de píer em uma única edificação

O limite operacional técnico do Benito Juárez é de 394 mil operações anuais. Em 2013, o atual aeroporto mexicano registrou 389 mil operações, aproximando-se do limite máximo. Tal situação gerou um problema complexo ao tornar proibitivo o aumento nos voos e, assim, limitar o crescimento da aviação mexicana no seu principal aeroporto. De acordo com dados do Banco Mundial, o México ocupa atualmente a 49º posição no ranking mundial de infraestrutura aeroportuária, duas posições atrás do Brasil. Ambos os países estão bastante defasados em relação a nações similares, como Rússia na 33ª posição, China na 35ª e Índia em 39º lugar. Estudos do World Economic Forum mostram que a restrição aeroportuária é uma limitadora grave de crescimento nacional, o que no caso mexicano coloca o país numa situação complicada entre as 15 maiores economias do mundo.

4,4 mil hectares

Não apenas para resolver um problema de infraestrutura, mas também para permitir um crescimento econômico sustentado, o governo mexicano abriu, em 2013, uma concorrência para a construção do novo aeroporto. Oito projetos foram apresentados. Em setembro de 2014, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto anunciou o vencedor: o consórcio formando pelas empresas Foster And Partners do renomado arquiteto inglês Lord Norman Foster, responsável pelos projetos dos aeroportos internacionais de Hong Kong e Beijing; NACO (Netherlands Airport Consultants), que foi responsável pelos planos diretores de Viracopos, Schiphol, Frankfurt, Abu Dhabi, Beijing e Taiwan; e FR-EE do arquiteto mexicano Fernando Romero.

A meta é ousada, transformar o novo aeroporto em um dos maiores do mundo, com seis pistas, capacidade para 1 milhão de operações por ano, construção de dois terminais para 120 milhões de passageiros por ano em uma área total de 4.430 hectares. O governo mexicano trata o projeto como a maior obra de infraestrutura do país dos últimos 50 anos. A outorga de concessão do aeroporto foi concedida neste ano de 2015, quando a Secretaria de Comunicações e Transportes do México publicou a declaração oficial em favor do Grupo Aeroportuario de la Ciudad de México.

Categoria 4F

A construção do maior projeto de infraestrutura do México deve começar até o fim deste ano de 2015. A previsão é a de que o aeroporto inicie suas operações em 2018, quando a primeira pista será aberta para operações. Em 2020, serão dois sistemas de pistas afastados 1.700 metros com o terminal entre ambos, permitindo operações simultâneas independentes, o que representa uma capacidade de 550.000 operações ao ano. O primeiro sistema terá duas pistas de 4.000 e 4.500 metros e o segundo, inicialmente, uma pista de 4.000 metros. De acordo com o plano diretor, pistas, taxiways e pátios serão categoria 4F, ou seja, permitirão a operação de aeronaves com até 80 metros de envergadura, incluindo o Airbus A380, Boeing 747-8 e os futuros Boeing 777X.

Os 4.430 hectares serão usados para atender ao conceito de aeroporto-cidade. Estão previstos um centro de negócios, áreas cargueira, industrial e militar, hotéis e centros de convenções. Seguindo o exemplo dos mais modernos terminais da atualidade, os projetistas elaboraram um desenho contemporâneo com o formato de um xis, criação do próprio Norman Foster em Hong Kong, repetido em Abu-Dhabi, Beijing, Haikou, Mumbai e Incheon. Esse desenho soma as vantagens do formato “linear” com as do “píer” em uma edificação única, minimizando custos e simplificando a operação.

O alimentador do terminal, local público onde ficam os acessos, check-ins, esteiras de restituição, imigração e alfândega, tem um formato linear em arco, encurtando a distância até as aeronaves e dando agilidade e eficiência. Já a sala de embarque possui o formato de píer em ípsilon, aproveitando melhor o espaço e distribuindo confortavelmente os passageiros pelo terminal. Com capacidade de 50 milhões de passageiros por ano, o terminal terá um total de 84 pontes de embarque, sendo 42 posições com pontes duplas que podem receber aeronaves categoria 4F ou 4E ou duas aeronaves categoria 4C (A320 e 737) e 42 posições remotas.

Expansão até 2069

Com inauguração prevista para 2020, o terminal 1 do novo aeroporto terá uma estrutura moderna fazendo referência aos símbolos mexicanos: sol, águia, cacto e serpente. Sua estrutura será metálica, o que dá leveza, simplicidade e resistência em uma área de geologia ativa. Norman Foster destacou em sua apresentação que toda a construção será feita com materiais leves e de baixo impacto ambiental. O teto será formado por células fotoelétricas, que, além gerar energia, dão iluminação natural e refletem 50% da luz, o que possibilita controlar a temperatura somente com ventilação metade do ano e economizar energia.

“O clima na Cidade do México durante quase meio ano permite que se trabalhe em temperatura ambiente”, ressaltou Foster. Segundo ele, nos poucos meses de inverno será possível aquecer o terminal com um mínimo de arrefecimento. “Teremos um sistema de deslocamento de ar, juntamente com todas as outras técnicas como distribuição de ar através de tubos no teto, isolamento térmico e captação de energia”. Outro destaque são 24 pontos de captação de água pluvial que fazem do terminal uma referência de sustentabilidade. Na primeira fase o aeroporto recebera um total de 13 bilhões de dólares em investimentos.

A expansão do aeroporto acontecerá por décadas. Em 2024, terá início a primeira expansão do aeroporto com a construção de um concourse com 32 pontes de embarque. Depois, de 2028 a 2033, serão construídos o segundo terminal de passageiros e a quarta pista. De 2061 a 2062, haverá a construção da quinta pista. Finalmente, de 2068 a 2069, os mexicanos esperam construir a sexta pista e expandir o terminal 2 com um concourse.

Desafios ambientais

Governo e projetistas contestam acusações de que o novo aeroporto vai gerar impacto insustentável para a vida selvagem no entorno de onde será erguido

O novo aeroporto da Cidade do México será construído em um terreno pertencente à união onde se localizava o antigo Lago de Texcoco. Drenada na década de 1960, a área passou por uma grande degradação ambiental. Além da construção do complexo aeroportuário, também está prevista a recuperação da fauna e dos recursos hídricos com a criação de lagos e canais artificiais.

Segundo o governo, a área ocupada pelo atual aeroporto será revitalizada com espaços e serviços públicos, mas há quem acredite que o novo aeroporto possa causar danos ao meio ambiente e até mesmo às lagoas de contenção que são usadas para evitar inundações na Cidade do México, além de ameaçar a vida selvagem do entorno e enfrentar problemas de segurança por conta de aves migratórias que utilizam o lago artificial Nabor Carrillo, próximo de onde o projeto será desenvolvido.

O governo rebate as acusações afirmando que diversos estudos foram conduzidos e a área é completamente deserta e inóspita. “A área onde o aeroporto será construído é uma terra totalmente salgada, não tem vegetação, não tem um pasto, não tem absolutamente nada”, defende-se Gerardo Ruiz Esparza, secretário de Comunicações e Transportes. Há também problemas de acesso ao local. Uma das diretivas do projeto exige o planejamento para a criação de uma maior e melhor mobilidade para a Cidade do México.

Por Fernando Marcato
Publicado em 15/07/2015, às 00h00 - Atualizado às 02h51


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