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Onde hangarar seu helicóptero

O crescimento da oferta de serviços voltados para aeronaves de asas rotativas acirra a disputa entre os principais heliportos e centros de atendimento



Helicidade, no bairro do Jaguaré, em São Paulo

O helicóptero nasceu para ser uma máquina versátil. Pousa e decola em pequenos espaços, desloca-se para qualquer lado mantendo a proa. Faz eficientemente o que outras aeronaves não executam, ou seja, paira, mantendo-se em voo imóvel sobre um determinado ponto. Alguns aviões sem rotores até fazem isso, mas a um custo altíssimo, beirando o desperdício. Já os dirigíveis são altamente influenciados por condições meteorológicas, principalmente o vento. Um helicóptero pode transportar uma central de ar condicionado e depositá-la precisamente sobre um prédio em construção, ou fazer o mesmo com um material de construção numa clareira em uma mata fechada. Pode, ainda, pousar numa avenida no centro da cidade para levar socorro e transportar um ferido, ou levar um executivo de um escritório a outro em minutos, evitando perda de tempo e riscos à vida no caótico trânsito das grandes e violentas metrópoles. Por fim, garante o lazer de seus proprietários nos fins de semana, levando a família ao litoral ou interior, onde muitas vezes não há pistas de pouso ou infraestrutura para operação de aeronaves de asa fixa.

Com mais de 2.100 helicópteros registrados – pelo menos 700 somente no estado de São Paulo –, o Brasil viu surgir nos últimos anos um número significativo de empreendimentos específicos para a operação de helicópteros, com hangares, oficinas de manutenção, abastecimento e toda a infraestrutura para recepção e embarque de passageiros e proprietários, além de outros serviços associados à atividade.

São espaços em que é possível potencializar o aproveitamento da versatilidade do helicóptero, o que faz com que cada vez mais proprietários e operadores escolham hangarar suas aeronaves nesses centros. Podem ser chamados de centros de hangaragem e manutenção de helicópteros ou simplesmente heliportos, dependendo das facilidades que oferecem. No caso dos centros, há a necessidade de solicitar autorização prévia para a operação, o que não ocorre no caso dos heliportos, em que a operação é considerada pública, de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica, de 1986.

Operação ágil

Os primeiros a surgir em São Paulo foram construídos na capital, entre as décadas de 1990 e 2000, caso do Helicentro, no Morumbi, e do Helicidade, no Jaguaré, próximo à Marginal do Rio Pinheiros. Depois, outros empreendimentos foram surgindo em cidades da Grande São Paulo, como o Helipark, em Carapicuíba, o Hangar ABC, em São Caetano do Sul, e mais recentemente o HBR, em Osasco, e o Allta, em Barueri. A instalação destes empreendimentos fora do município de São Paulo se deve em grande parte aos altos custos de terrenos dentro da cidade, que precisam ainda ter estas características importantes para viabilizar os projetos: proximidade e acesso a avenidas importantes e também localização fora das áreas de tráfego aéreo. Além disso, áreas residenciais e próximas a obstáculos, como edifícios, morros e linhas de transmissão de eletricidade, são descartadas por problemas de emissão ruído e riscos na operação.

Os atrativos que um proprietário pode encontrar em um centro para helicópteros começam pela agilidade de operação. Em razão da própria natureza de movimentação dos helicópteros nos pátios, de pousos e decolagens sem a necessidade de pistas, da ausência de slots (tão comuns hoje nos aeroportos) e da inexistência de espera ocasionada por movimentação de outras aeronaves em taxiways ou pátios, o tempo entre acionar os motores e deixar o solo é mínimo. Ao contrário de aeroportos, os atrasos provocados por esperas de pousos e decolagens da aviação comercial, principalmente em horários de pico, não acontecem. A infraestrutura é pensada para economizar tempo na operação. Além da inexistência de taxas de pouso, que oneram significativamente quem executa várias operações diárias, como empresas de táxi-aéreo.

Em relação às condições meteorológicas, o piloto pode fazer a sua própria avaliação de visibilidade e teto nos centros de helicópteros ou heliportos, dando celeridade ao planejamento de seu voo. A maioria desses centros também está situada em áreas industriais ou comerciais, distante de residências, permitindo que a operação seja diurna e noturna, inclusive nos fins de semana e feriados (H24, como os pilotos se referem informalmente ao período de operação no heliponto). Medições de emissão de ruídos e estudos de impacto ambiental são feitos constantemente, a fim de se agir preventivamente e evitar transtornos à vizinhança. Aeroportos em áreas urbanas cada vez mais têm seus horários de operação limitados, principalmente nos períodos noturnos, devido a queixas da comunidade no seu entorno. Empresas de táxi-aéreo e aeromédicas (UTI aéreas) podem se tornar inviáveis caso a operação seja restrita durante o período noturno.

Centro de manutenção do Helipark

Os novos centros de hangaragem e manutenção e heliportos, com projeto e construção mais modernos, dispõem de salas VIP luxuosas para atendimento a passageiros que exigem privacidade e conforto, com acesso a internet, TV a cabo, café, lanchonete e salas para reuniões. Para os tripulantes e o pessoal de apoio, possuem ambientes confortáveis e adequados para descanso, repouso e alimentação, além de uma estrutura de suporte com escritórios com acesso a TV a cabo, internet e outros benefícios. O objetivo é que todos fiquem próximos à aeronave. Alguns empreendimentos possuem academias de ginástica e salas de simuladores de voo para tornar a permanência da tripulação mais agradável, compensando maiores distâncias entre sua casa e o trabalho, e maior tempo fora de casa.

Fator manutenção

Este caso é real, e acontece com frequência: o piloto tem sua decolagem programada para as 11h30, e solicita ao pessoal de apoio do centro de hangaragem e manutenção que coloque a aeronave no spot às 10h45, já abastecida com a quantidade correta de combustível para o voo. A missão é buscar o proprietário da aeronave em um heliponto no centro da cidade e levá-lo a um almoço de negócios marcado para as 12h00. Ao executar a inspeção de pré-voo na aeronave, o tripulante verifica que um cabo elétrico está rompido. Em minutos, uma ordem de serviço é aberta, o cabo é substituído e o piloto decola exatamente no horário previsto. Esta é uma das maiores vantagens de estar hangarado em um centro com uma oficina ao lado, dispor dos serviços de manutenção praticamente por todo o período de operação. As oficinas desses centros geralmente são homologadas para atender à maioria dos modelos de helicópteros em operação na atualidade, e podem dar suporte imediato ao operador no caso de panes, sem necessidade de deslocamentos dispendiosos em voo até outros hangares. No caso de inspeções programadas, a tripulação e o pessoal de apoio estão próximos à oficina, geralmente em um escritório dentro do próprio centro, e podem abreviar a aprovação de serviços ao acompanhar as tarefas, comprar peças e trocar de informações in loco com mecânicos, o que facilita o cumprimento de prazos de entrega.

Os proprietários podem conseguir preços de serviços e condições extremamente vantajosas ao hangarar suas aeronaves em um centro cuja oficina de manutenção pertença à mesma empresa. Mesmo se for terceirizada, bons acordos são possíveis, o que impera nesse caso é a capacidade de negociação das partes envolvidas. “A associação da hangaragem com a manutenção representa o grande trunfo de se colocar um helicóptero num centro que ofereça ambos os serviços, pois possibilita acordos muito vantajosos para o operador”, confirma o presidente do Helipark, João Velloso.

Além da manutenção, os centros podem oferecer outros serviços como corretoras de seguro, representantes de marcas de aeronaves, vendas de peças e equipamentos, empresas de limpeza e conservação, assessoria para compra e venda de aeronaves e escolas de pilotagem, para citar alguns exemplos, que podem ser ou não terceirizados. A política de cada empreendimento determina como estes serviços e empresas se relacionam com seus clientes e executam suas atividades dentro do seu espaço. “O Helicidade possui seguro de responsabilidade civil no valor de US$ 93 milhões para cobertura de danos e acidentes a aeronaves dos clientes. Além disso, os usuários também contam com o sistema de gerenciamento de segurança operacional, que visa classificar os principais riscos para então poder reduzi-los de forma eficaz”, diz Edson Pedroso, diretor do Helicidade, que em 13 anos nunca registrou um acidente com suas aeronaves.

Sem instrumentos

A impossibilidade de operar por instrumentos é o aspecto negativo dos centros para helicópteros brasileiros. Nenhum empreendimento oferece procedimentos, equipamentos e infraestrutura para pousos e decolagens por instrumento, o que obriga alguns voos a terminarem em aeroportos capazes de operar ILS, com posterior deslocamento dos passageiros por via terrestre ou aguardo em solo para seguir em voo visual até o heliporto quando as condições meteorológicas estiverem melhores.

Vale considerar que, caso o proprietário do helicóptero possua também um avião, ambas as aeronaves podem ficar em um hangar de aeroporto, onde a tripulação e o pessoal de apoio dividem o mesmo espaço (salas, escritórios) com consequente redução de custos. Nessa modalidade, o passageiro que chega de uma viagem de avião embarca automaticamente no seu helicóptero (ou de sua empresa) e consegue chegar a seu destino final com muito mais rapidez.

Sala VIP do Zona Sul de Belo Horizonte

Centros de atendimento a operadores de helicópteros também vêm surgindo em várias outras cidades do Brasil. O heliporto Recreio, no Rio de Janeiro, o Helicia, próximo a Salvador, na Bahia, e o Zona Sul, em Belo Horizonte, são exemplos do crescimento da atividade. Luiz Henrique Telles de Oliveira, diretor do Zona Sul, explica que o heliporto surgiu a partir do aumento da demanda na operação de helicópteros em Belo Horizonte. “Vimos a necessidade de implantar um ponto de apoio na região sul, de fácil acesso, que retirasse a concentração de voos na vertical da capital, mantendo essa operação longe de casas, escolas e hospitais”, diz Oliveira.

A decisão final sobre o local onde hangarar a aeronave depende de uma avaliação dos fatores que mais pesam na operação, como segurança (de voo e no solo), custos, proximidades do destino dos usuários da aeronave, distância do local à residência da tripulação e pessoal de apoio, facilidades oferecidas aos tripulantes e a qualidade geral dos serviços e infraestrutura. O tipo de operação em que a aeronave está engajada influencia igualmente nessa decisão. Uma empresa de transporte aeromédico vai se beneficiar muito mais se estiver em um heliporto que opere dia e noite do que um executivo que use a sua aeronave somente no horário comercial. Em compensação, este último prefere ter a segurança de estar próximo ao local de trabalho, no centro da cidade, onde o helicóptero se torne um meio de transporte sempre à disposição durante seu expediente.

Importante, ainda, saber os tipos de seguro e valores das coberturas que os empreendimentos possuem contra incêndios, acidentes e outros danos a que a operação esteja sujeita. Mesmo com a situação econômica atual do país, os centros de manutenção e hangaragem e heliportos recebem investimentos para atrair novos clientes. Com o surgimento de novos empreendimentos, a oferta de espaço é maior, o que propicia uma boa negociação de preços e vantagens para o operador.

Por Maurício Lanza
Publicado em 01/08/2015, às 00h00


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