Afundamento do São Paulo foi visto pela Marinha como a solução mais viável, mesmo sob críticas de ambientalistas
A Marinha do Brasil (MB) afundou na tarde de sexta-feira (3), o casco do ex-porta-aviões NAe A-12 São Paulo, a cerca de 350 quilômetros da costa, em Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), com profundidade de 5 mil metros.
"O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela
Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro", publicou a MB em nota - confira a nota na íntegra ao final desta matéria.
O afundamento ocorreu após meses de indefinições e da proibição da entrada no Brasil e no exterior, bem como depois de uma oferta de R$ 30 milhões, feita pela empresa Sela Trading Holding Company, da Arábia Saudita, interessada no casco.
O Greenpeace Brasil divulgou uma foto de satélite que mostra o ex-porta-aviões da Marinha navegando em mar aberto e condenou o afundamento da embarcação, devido ao impacto ambiental.
"Segundo levantamentos feitos, o porta-aviões possuía cerca de 9,6 TONELADAS de amianto, além de outras substâncias tóxicas e prejudiciais à saúde", publicou o Greenpeace Brasil. O amianto armazenado no navio, aliado a degradação da embarcação, foram os maiores problemas envolvendo o casco.
Nesta semana. uma nota conjunta entre o Ministério da Defesa (MD), a Marinha do Brasil (MB) e a Advocacia-Geral da União (AGU), foi emitida relatndo a decisão de osmotivos do afundamento do casco. "Diante dos fatos apresentados e do crescente risco que envolve a tarefa de reboque, em virtude da deterioração das condições de flutuabilidade do casco e da inevitabilidade de afundamento espontâneo/não controlado, não é possível adotar outra conduta que não o alijamento do casco, por meio do afundamento planejado e controlado", foi publicado.
Durante estes meses de impasses, a empresa turca SÖK, que era dona do casco, divulgou diversas notas relatando o caso ao cenário internacional, até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) foi informada.
Nossa empresa, Sok Denizcilik, sempre agiu de acordo e respeitou os regulamentos, leis e regras desde a fundação, portanto seguimos as instruções da autoridade competente do país exportador, Ibama, quanto à devolução dos resíduos (conforme Convenção da Basileia) ao país exportador, Brasil.
A Convenção da Basileia, que está inserida no ordenamento brasileiro através do Decreto n° 875/1993, afirma que o país é responsável por admitir o retorno dos resíduos exportados.
O ineseperado fim do maior navio já operado pela Marinha do Brasil, encerra uma série de indefinições que ocorrem desde o ano passado. Em agosto, o casco do ex-porta-aviões, arrematado pela empresa turca SÖK, em 2021, saiu rebocado do Brasil rumo a Turquia, em agosto passado, onde deveria ser desmanchado.
Entretanto, a alegação de grandes quantidades de amianto a bordo impediu a entrada no navio na Turquia e uma decisão de autoridades ambientais obrigou o retorno do A-12 São Paulo ao Brasil.
A questão ambiental também foi motivo para que decisões judiciais, impedissem o navio de atracar em portos brasileiros.
A história do NAe A-12 São Paulo começou na França, durante a Guerra Fria, quando foi incorporado pela marinha francesa com o nome de PA Foch, em 1963. Durante 37 anos o navio fez parte da esquadra da França, quando foi vendido ao Brasil, por apenas 10 milhões. Na ocasião o porta-aviões, rebatizado de A-12 São Paulo, deveria substituir o já veterano NAe A-11 Minas Gerais, que estava em serviço na Marinha do Brasil há mais de 40 anos e sofria com uma série de limitações.
O navio foi a Nau Capitânia da esquadrada por 22 anos, além de virtualmente ser o único porta-aviões da América Latina e América do Sul. Todavia, durante os seus poucos anos em operação a embarcação, que chegou a ser a mais antiga do mundo em atividade, passou a maior parte do tempo parada para manutenção.
O A-12 operou por um curto período com os veteranos caças navais A-4KU Skyhawk (AF-1 como são denominados pela Marinha), que foram adquiridos usado do Kuwait em 1997. Os 23 caças realizaram poucos embarques, especialmente por conta dos problemas no porta-aviões.
Ao longo de duas décadas o NAe A-12 esteve por apenas 206 dias no mar, navegando por 85.334 quilômetros e registrando a modesta marca de 566 operações aéreas.
A antiga embarcação colecionou uma série de problemas, como um incêndio em 2006, que provocou a morte de um marinheiro e feriu outros dois.
Em relação ao casco do ex-Navio Aeródromo “São Paulo”, diante dos fatos apresentados na
Nota Oficial Conjunta do Ministério da Defesa, Advocacia-Geral da União e Marinha do Brasil, cabe informar que a operação de alijamento, por meio do afundamento planejado e controlado, ocorreu no final da tarde de hoje (03), estritamente conforme concebido.
O procedimento foi conduzido com a necessária competência técnica e segurança pela
Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro.
A área para a destinação final do casco, situada em Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), a 350 Km da costa e com profundidade aproximada de 5 mil metros, foi selecionada com base em estudos conduzidos pelo Centro de Hidrografia da Marinha e Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira. As análises consideraram aspectos relativos à segurança da navegação e ao meio ambiente, com especial atenção para a mitigação de impactos à saúde pública, atividades de pesca e ecossistemas.
Por fim, a Marinha do Brasil presta legítima reverência ao ex-Navio Aeródromo “São Paulo”.
Barco que abriga alma beligerante perpetuada na mente de homens e mulheres que guarneceram seus conveses, dignos servidores da Marinha Nacional Francesa e da Marinha do Brasil, sob a égide das tradições navais e de elevado espírito marinheiro.
Por André Magalhães
Publicado em 04/02/2023, às 10h55 - Atualizado às 21h43
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