G300 incorpora fuselagem alongada, aviônicos avançados e cabine ampliada para reposicionar a Gulfstream no segmento super midsize

O Gulfstream G300 sucede o G280 no segmento super midsize com fuselagem alongada, nova cabine, aviônicos Harmony Flight Deck e desempenho aprimorado. Desenvolvido nos EUA e montado em Israel, o modelo reforça a estratégia de padronização da Gulfstream e disputa mercado com Challenger 3500, Praetor 600 e Citation Longitude, ampliando a competitividade da marca.
O Gulfstream G300 realizou em 5 de dezembro o primeiro voo a partir do Aeroporto Ben Gurion, em Israel, marcando o início da campanha de ensaios e um avanço decisivo no desenvolvimento. O protótipo permaneceu 2 horas e 25 minutos em voo, cumprindo a primeira etapa do programa de certificação.
O modelo sucede o G280 no segmento super midsize, consolidando a estratégia de oferecer uma linha padronizada de cabines e aviônicos, iniciada com o lançamento dos G500 e G600.
Vale antes ressaltar, que embora o nome remeta a um antigo Gulfstream G300 produzido entre 2003 e 2004 — versão do GIV-SP, com três zonas de cabine e alcance de 3.485 milhas náuticas —, o novo G300 é um projeto totalmente distinto, desenvolvido sobre a plataforma do G280 e incorporando uma nova fuselagem alongada, janelas panorâmicas e a suíte aviônica Harmony Flight Deck.
O G300 foi anunciado durante o Discover the Difference, realizado na sede da Gulfstream em Savannah, Geórgia, em 30 de setembro de 2025. A apresentação marcou o sexto lançamento de um novo modelo da Gulfstream em uma década, demonstrando a continuidade dos investimentos voltados à renovação de sua linha de jatos de negócios.
O próprio surgimento dos G500 e G600 ocorreu menos de dez anos após o anúncio do G650, em 2008, que inaugurou uma nova fase para o fabricante ao substituir gradualmente a tradicional família GV e seus derivados, estabelecendo o padrão tecnológico e de design que orienta toda a sua atual geração de aeronaves.

Na ocasião do lançamento, o presidente da Gulfstream, Mark Burns, apresentou uma maquete em escala real e imagens do primeiro exemplar em montagem na linha da Israel Aerospace Industries (IAI), em Tel Aviv, responsável pela produção dos modelos super midsize.
A cooperação entre a Israel Aerospace Industries (IAI) e a Gulfstream Aerospace consolidou um dos capítulos mais importantes da aviação executiva moderna. No fim da década de 1980, a IAI desenvolveu o Galaxy, sucessor do Westwind, com o objetivo de criar um jato de médio porte capaz de oferecer alcance continental e custos operacionais reduzidos. O modelo realizou o primeiro voo em 1997 e marcou a transição da engenharia israelense para padrões de conforto e desempenho típicos do mercado norte-americano.
Em 2001, a Gulfstream adquiriu os direitos do programa, incorporando-o oficialmente à sua linha e rebatizando-o como Gulfstream G200, cuja produção estrutural permaneceu em Tel Aviv, com finalização e certificação realizadas em Savannah, Geórgia
Essa parceria evoluiu para o desenvolvimento do G280, lançado em 2012, que introduziu nova asa, motores Honeywell HTF7250G e aviônicos Collins Pro Line Fusion, mantendo a base industrial da IAI e a integração norte-americana.
O atual G300 preserva esse legado ao combinar a expertise estrutural da IAI com a padronização tecnológica da Gulfstream, refletindo a continuidade técnica e industrial entre as gerações de jatos super médios derivados do Galaxy.
“Sabemos a importância do segmento super midsize para nossos clientes e, ao desenvolver o G300 com base no bem-sucedido programa G280, traremos uma nova energia à categoria com avanços em tecnologia, segurança e conforto”, afirmou Burns.
O projeto do G300 manteve parte da arquitetura estrutural do G280, mas recebeu um aumento de 60 centímetros no comprimento da cabine, novas janelas panorâmicas ovais e integração de aviônicos derivados dos modelos de maior porte da Gulfstream.
As mudanças estruturais exigiram revisões em sistemas elétricos, hidráulicos e de pressurização, além de extensos ensaios de solo, que já somam cerca de 22.000 horas de testes laboratoriais, incluindo campanhas no centro de integração com sistema iron bird. Paralelamente, o primeiro protótipo acumula mais de 2.000 horas de testes de solo, enquanto outras duas aeronaves de ensaio estão em produção na IAI. A previsão é ter o início das entregas na primeira metade de 2028.

O G300 mantém os parâmetros de desempenho do G280, com alcance máximo de 3.600 milhas náuticas (6.660 km) em velocidade de cruzeiro de longo alcance de Mach 0.80, ou 3.000 nm (5.550 km) em cruzeiro de alta velocidade de Mach 0.84. A velocidade máxima operacional (MMO) é de Mach 0.85. O teto de serviço chega a 45.000 pés (13.716 m), com altitude de cabine limitada a 4.800 pés (1.463 m) em voo a 41.000 pés — o menor valor de sua categoria. A distância de decolagem, em condições ISA e peso máximo, é de 1.457 metros, garantindo boa performance em pistas curtas.
O avião será equipado com dois motores Honeywell HTF7250G, com empuxo de 7.624 lbf cada. O peso máximo de decolagem é de declarados 18.030 quilos, enquanto o peso máximo de pouso é de 14.832 kg. Um dos destaques é o peso básico operacional de 11.059 kg e a carga útil máxima chega a 1.733 kg, porém, com tanques cheios, o G300 pode transportar até 408 kg de carga paga. O combustível total armazenado é de 6.632 kg, distribuídos nas asas e fuselagem central.
A combinação de asas de 19,20 m de envergadura, com um novo perfil limpo e comandos convencionais com yoke, segundo a Gulfstream, garante comportamento estável e previsível, preservando as características de voo reconhecidas da geração anterior, mas capacidade de operar com maiores margens em aeroportos regionais e pistas restritas.

A fuselagem alongada permitiu que o G300 ofereça a cabine mais longa de sua categoria, com 10,36 metros de comprimento total e 8,41 metros de área útil para passageiros, excluindo o bagageiro. A altura interna é de 1,85 m e a largura de 2,11 m proporcionando espaço para movimentação plena em pé. Um dos maiores destaques do G300 é o volume total da cabine é de 28,46 m³, com compartimento de bagagem de 120 3,40 m³ e acessível em voo.
Segundo a tendencia da categoria, o interior oferece duas zonas de cabine, configuráveis em três arranjos distintos, que acomodam até dez passageiros e podem ser convertidos em cinco leitos. A cabine agora conta com as janelas ovais panorâmicas da Gulfstream, que além de padronizar o estilo da marca, oferece melhor iluminação natural e visão da área externa.
Assim como nos demais modelos da família, o sistema de pressurização e climatização assegura 100% de ar fresco, sem recirculação, complementado por ionização de plasma para purificação e remoção de partículas.
Também chama atenção o isolamento acústico, que segue o padrão das séries superiores, que promete reduzir o ruído e vibração a níveis inferiores aos verificados em outros modelos super midsize. Inclusive nos últimos anos esse tem sido um aspecto de especial atenção dos fabricantes, que elevaram consideravelmente a capacidade de isolamento acústico em aeronaves média e super médias. O lavatório traseiro utiliza sistema de vácuo, e há opções de galley totalmente equipada para missões de longa duração.

Um dos diferenciais do G300 é o novo Harmony Flight Deck, baseado na suíte Honeywell Epic 2, com seis telas sensíveis ao toque e de alta resolução. O sistema foi desenvolvido para padronizar a experiência operacional da linha Gulfstream, oferecendo interface comum entre os modelos G500, G600 e G700. Ainda que esses aviões utilizem uma aviônica mais robusta, dentro do conceito Gulfstream Symmetry Flight Deck.
Ainda assim, o G300 integra a tecnologia Synthetic Vision no Primary Flight Display (PFD), que apresenta terreno, obstáculos e pistas em imagem tridimensional, ampliando a consciência situacional dos pilotos e similar aos modelos de maior porte. Outro destaque é a integração do sistema Predictive Landing Performance, calcula em tempo real o ponto de parada na pista, ajustando parâmetros conforme vento, peso e condições meteorológicas.
Entre os recursos adicionais estão o Phase-of-Flight Intelligence, que adapta automaticamente as telas à fase do voo; Head-Up Display (HUD) opcional no lado do comandante; e piloto automático com lógica de controle derivada dos modelos de ultralongo alcance. O sistema elétrico utiliza arquitetura redundante e gerenciamento digital completo, enquanto a hidráulica convencional garante sensibilidade precisa nos comandos, sem complexidade de fly-by-wire.
A padronização da arquitetura básica da suíte aviônica também representa economia logística e treinamento unificado para operadores que já possuem outros modelos Gulfstream. A comunalidade de sistemas favorece a interoperabilidade da frota corporativa, reduzindo custos de suporte e treinamento de pilotos e técnicos.
Seguindo a filosofia da Gulfstream, a estrutura do G300 é composta majoritariamente por ligas de alumínio leves e de alta resistência, com uso seletivo de compósitos em superfícies móveis e carenagens. O projeto preserva a robustez e simplicidade de manutenção do G280, com acesso direto aos principais módulos e compatibilidade parcial de peças e ferramental.
O fabricante mantém o programa de suporte Gulfstream FAST, que oferece assistência global 24 horas, com centros de serviço dedicados em Savannah, Dallas, Farnborough e Singapura. A expectativa é que o intervalo básico de inspeção seja de 500 horas, e a filosofia de manutenção prevê substituições por condição monitorada (on-condition), com telemetria contínua via satélite.
O G300 posiciona-se como sucessor direto do G280, preservando a eficiência estrutural e operacional do projeto original, mas incorporando avanços em conforto e tecnologia para competir com modelos como o Bombardier Challenger 3500, o Cessna Citation Longitude e o Embraer Praetor 600.
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De acordo com a Rolland Vincent Associates, as melhorias introduzidas na cabine e a adoção do Harmony Flight Deck devem impulsionar o desempenho comercial do novo jato, com previsão de cerca de 36 entregas anuais, número superior à média de 24 unidades registradas pelo G280.
Apesar disso, o desempenho projetado ainda fica abaixo dos 73 aviões entregues pela família Challenger em 2024, mas supera os resultados do Praetor 600, com 27 entregas, e do Citation Longitude, com 23 unidades no mesmo período.
Também merece destaque o fato de que, em 2024, a Gulfstream entregou apenas 18 exemplares do G280, sinalizando a transição gradual de produção e o fortalecimento da nova geração representada pelo G300, que chega para reposicionar a marca frente a concorrentes com projetos mais recentes.
O segmento super midsize representa uma faixa estratégica do mercado da aviação de negócios, combinando alcance continental com custos de operação inferiores aos jatos de grande porte.
Como resultado, o G300 mantém a tradição da Gulfstream em oferecer aeronaves de longo alcance com soluções técnicas de ponta, agora completando a família de jatos de negócios, indo do super médio ao ultralongo alcance.
*Publicado originalmente na AERO Magazine 378 · Novembro/2025
Por Edmundo Ubiratan, de Las Vegas
Publicado em 09/12/2025, às 08h00
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