O Citation CJ4 Gen3 combina tecnologia avançada, mais autonomia e eficiência operacional
O Citation CJ4 Gen3 introduz a aviônica Garmin G3000 PRIME, com telas multitoque, processamento ampliado e o sistema Emergency Autoland como item de série. A Textron aprimorou automação, ergonomia e consciência situacional, além de reduzir custos operacionais. O modelo também recebeu melhorias externas, novos recursos de manutenção e ajustes no conforto de cabine. O primeiro voo ocorreu em 2024, com entrada em serviço prevista para 2026.
O Citation CJ4 é o irmão maior da família CJ, oficialmente Model 525, oferecendo uma cabine com capacidade para até dez passageiros, além de maior alcance, velocidade e desempenho. Com 26 entregas ao longo de 2024, o CJ4 também se destaca como o CJ mais vendido, embora a diferença entre os irmãos tenha sido curiosamente de duas unidades entre cada modelo. O CJ3+ entregou 24 unidades no ano passado, seguido do M2 Gen2 com 22 aviões.
Assim, não foi surpresa quando durante o NBAA-BACE 2024 a Textron Aviation anunciou que estava trabalhando em uma nova atualização da família CJ, designada como Gen3. Além disso, a estratégia visa padronizar a nomenclatura sob a mesma designação, eliminando o sufixo “+”, empregado há vários anos.
Embora “nova geração” seja um termo forte, visto se tratar na prática de uma evolução, o nome é uma estratégia de marketing que atende de forma eficaz aos objetivos de promoção da marca. Ainda assim, oferece melhorias consideráveis, como no caso do CJ4 Gen3, que foi o primeiro a receber a nova geração de aviônicos Garmin G3000 PRIME, oferecendo um controle mais intuitivo e integrado para os pilotos, além dos três modelos passarem a contar com a tecnologia Garmin Emergency Autoland.
Um ponto importante é que com a atualização Gen3, toda a linha de jatos leves Cessna Citation passa a contar com o sistema de pouso autônomo e o autothrottle totalmente integrado.
“A inclusão do sistema Garmin Emergency Autoland em toda a linha de jatos leves Citation representa um avanço monumental na tecnologia da aviação”, destacou Ron Draper, presidente e CEO da Textron Aviation.
Atualmente em desenvolvimento, o CJ4 Gen3 deverá entrar em serviço em 2026, seguido pelo M2 Gen3 e CJ3 Gen3 em 2027.
A família Citation é uma presença constante na maioria dos pátios da aviação geral nos aeroportos do mundo. Com mais de 8.000 aviões entregues ao longo da história, um dos trunfos da família Citation é se adaptar às necessidades dos operadores e acompanhar a evolução tecnológica, sem necessariamente partir para um projeto completamente novo.
Lançado no final dos anos 1960, o primeiro Citation entrou em serviço em 1972, em um momento que os Estados Unidos estavam em um período de relativa prosperidade econômica, com crescimento do PIB mantendo uma média de 6% ao ano, mas com alguns sinais de dificuldades futuras.
Um ano antes, o presidente Richard Nixon havia encerrado o padrão-ouro dos acordos de Bretton Woods, o que levou à desvalorização do dólar e a uma maior volatilidade do mercado financeiro. Ainda assim, o índice Dow Jones continuava a atingir novos recordes.
O Cessna 500 Citation se destacava pela flexibilidade, baixo custo operacional e simplicidade de operação. A crise de 1973 reforçou o valor da aviação de negócios, à medida que empresários e corporações perceberam as vantagens de evitar aeroportos comerciais e otimizar o tempo de viagem. Não por um acaso a Cessna entregou 52 unidades do Citation 500 em 1972.
E essa premissa se tornou a base de desenvolvimento de toda a família Citation ao longo de cinco décadas, oferecendo modelos com diversos tipos de cabine, capacidade e desempenho.
Com o avanço das tecnologias embarcadas, em 1989 a Cessna anunciou o Citation Jet, desenvolvido para ser pilotado por apenas um piloto. O objetivo era atender especialmente as pequenas empresas e profissionais liberais, como advogados e médicos, que poderiam voar o próprio avião. Muitos já eram proprietários de aviões a pistão ou turboélices, mas buscavam um jato leve, mais rápido, para ampliar seus negócios.
A família, oficialmente designada Model 525, teve o nome reduzido para CJ, e estruturou todo o seu desenvolvimento sob o mesmo certificado de tipo, atendendo as demandas do mercado com uma plataforma básica. A estratégia permitiu não apenas reduzir o tempo de certificação e os custos, mas também oferecer um avião baseado em uma plataforma confiável e amplamente testada, sem comprometer suas características de pilotagem e desempenho.
Assim como previsto, o novo Citation CJ4 Gen3 será incluído na certificação de tipo 525, agregando uma série de melhorias ao projeto básico, designado oficialmente como CE-525C. A principal delas é a inclusão da nova geração de aviônicos Garmin G3000 PRIME, que também foi recentemente escolhida pela Pilatus para o novo PC-12 PRO.
Entre os principais recursos da nova suíte aviônica, destaca-se o aprimoramento dos displays, que agora possuem tecnologia multitoque interativa, similar à existente em smartphones. Isso permite um controle mais intuitivo na tela e possibilita que os pilotos ajustem waypoints com maior facilidade.
O controle por toque ainda promete reduzir a carga de trabalho, oferecendo um acesso mais simples aos sistemas, com uma interface de menu simplificada e intuitiva, permitindo fácil navegação entre todos os recursos existentes.
Os displays secundários são 40% maiores que os da versão anterior, proporcionando um ganho significativo de área de tela sem comprometer a ergonomia e o layout do painel. Além disso, permitem a visualização integrada com as telas primárias.
Em voo, principalmente em terminais congestionados, a nova configuração deverá ampliar a consciência situacional, ao mesmo tempo que reduz a carga de trabalho. Além disso, um novo seletor de procedimentos facilita ajustes interativos para transições de aproximação. Outro destaque é o novo menu interativo que exibe os parâmetros do motor, proporcionando acesso rápido às suas configurações e aos sistemas da aeronave.
Também se destaca no CJ4 Gen3 uma melhoria na ergonomia e no acesso aos sistemas, com redução dos botões, que, graças à nova aviônica, otimizou o espaço e o controle das funções e da própria aeronave. A Unidade de Controle Garmin proporciona também controle manual dos aviônicos como alternativa ao sistema automatizado.
Por fim, a Garmin anunciou um ganho considerável na capacidade de processamento, permitindo uma entrega de dados mais rápida e responsiva. Por ora, o sistema está em fase final de integração com o CJ4 Gen3, podendo receber inclusive algumas melhorias pontuais em relação ao anunciado na NBAA-BACE.
“Como os primeiros do setor a anunciar a nova geração de aviônicos Garmin G3000 PRIME, o CJ4 Gen3 oferece recursos avançados e um controle intuitivo e integrado”, disse Lannie O’Bannion, vice-presidente sênior de vendas globais e operações de voo.
Entre os sistemas de série o CJ4 Gen3 oferece um bom pacote que inclui Integrated Crew Alerting System; duplo FMS integrado ao GPS; radar meteorológico Garmin GWX8000 StormOptix; Garmin Full Regime Autothrottles; Garmin Emergency Autoland; AHRS; ADS-B In/Out; TCAS II; TAWS A; e visão sintética. Já entre recursos opcionais estão HF-9000; GDR 66; CPDLC; FDR; Reactive Windshear; Predictive Windshear; e o sistema SIRIUSXM Graphical Weather.
Assim como nas versões anteriores da família Citation, em operação há mais de 50 anos, o CJ4 Gen3 foi desenvolvido a partir de sugestões de pilotos e proprietários. Nesta terceira geração, a principal novidade é um pacote de recursos básicos ampliado em relação à geração anterior, com o objetivo de competir de forma mais direta no segmento, atualmente liderado com folga pelo Phenom 300.
Em 2024, a Embraer entregou 65 unidades do modelo, 2,5 vezes mais que o total de entregas do CJ4 Gen2 no mesmo período. Enquanto cada fabricante adota diferentes estratégias de projeto, a Textron incorporou melhorias voltadas à eficiência, com a meta de reduzir em até 10% os custos operacionais em comparação aos concorrentes diretos, segundo dados divulgados pela própria empresa.
Entre os destaques da versão básica está o autoland de série, integrado ao sistema Runway Occupancy Awareness, que melhora a visibilidade de obstáculos na pista e possíveis incursões. Além disso, o Advanced 3D SafeTaxi exibe pistas, FBO e hangares, facilitando a navegação nos aeroportos.
“Com a inclusão da tecnologia Garmin Emergency Autoland, além dos novos aviônicos Garmin G3000 PRIME no CJ4 Gen3, essas aeronaves prometem elevar a experiência de voo a um novo patamar”, destacou Draper.
A declaração reflete a estratégia da Textron de ampliar a automação e o conforto a bordo, especialmente para operadores privados e pilotos-proprietários. As melhorias prometidas deverão ser observadas mais claramente após o início das operações com a nova geração, previsto para 2026.
A abordagem é semelhante à adotada pela Embraer no Phenom 100, que incorpora uma série de tecnologias nas sucessivas atualizações do modelo. Isso proporciona mais segurança e conforto, fatores que, combinados, aumentam o apelo para operadores que consideram uma substituição.
Embora melhorias no interior, como novos bancos e acabamentos, nem sempre justifiquem a troca por um modelo novo, a inclusão de avanços na segurança, pilotagem e desempenho pode ser um fator decisivo na compra.
“O Autoland aprimora as capacidades de voo automatizado, mas também proporciona um nível sem precedentes de tranquilidade para pilotos e passageiros. Ele atua como um guardião contra a perda de controle em caso de incapacitação do piloto, oferecendo comunicações de emergência automatizadas e um pouso seguro quando necessário”, afirmou Draper, endossando o argumento utilizado por todos os fabricantes que adotaram o sistema.
A Textron tem ampliado o uso do recurso em todos os modelos de seu catálogo, já estando presente, por exemplo, nos King Air e no futuro Denali. Embora o recurso represente um avanço em segurança operacional, seu impacto prático dependerá do treinamento dos operadores e da familiaridade com os novos sistemas.
Além dos avanços no cockpit, voltados especialmente para pilotos-proprietários, o CJ4 Gen3 traz melhorias também fora da cabine. Entre elas, destacam-se as baterias de íon de lítio, que oferecem maior potência na partida e mais confiabilidade em operações em clima frio; a integração em tempo real de dados com o sistema LinxUs, facilitando o planejamento de manutenção; e winglets redesenhados com iluminação aprimorada, que não apenas elevam a presença da aeronave no solo, mas também aprimoram seu desempenho em voo.
Aliás, a Cessna tem demonstrado uma preocupação crescente com a chamada 'presença de rampa', ou seja, a forma como o avião se destaca nos aeroportos. Com um desenho clássico, que recebeu poucas mudanças ao longo das últimas décadas, seus principais rivais passaram a dar especial atenção à questão estética. Afinal, a percepção visual tem grande influência nas decisões humanas.
Assim, os engenheiros trabalham para manter a família CJ competitiva em um ponto bastante subjetivo, mas com potencial de afetar vendas. Embora seja complexo modificar o design da aeronave mantendo a mesma certificação básica, algumas alternativas simples vêm sendo adotadas, como melhorias no desenho das pontas das asas, na pintura e na iluminação, entre outros.
A Textron vem, há vários anos, focando no conforto dos passageiros, indo além do óbvio, como assentos e ergonomia a bordo. A acústica de cabine vem sendo constantemente aprimorada para proporcionar uma melhor experiência de voo, sendo esse um dos principais destaques dos Citation Latitude e Longitude, que agora também chegam nos modelos de entrada como uma questão prioritária.
Além do mercado executivo, a Textron desenvolveu o CJ4 Gen3 para atender também nichos específicos que continuam crescendo ao redor do mundo, sobretudo o de ambulância aérea. O modelo também é oferecido como plataforma básica para patrulha marítima, busca e resgate e levantamento aéreo. Diversos países, incluindo os Estados Unidos, estão reavaliando seus gastos militares e buscando aeronaves com boa capacidade para missões especiais, mas com custos de aquisição e operação inferiores aos dos modelos tradicionais, que, na maioria dos casos, são veteranos.
O CJ4 Gen3 combina capacidade, alcance e velocidade de forma equilibrada, apresentando números oficiais bastante competitivos. Seu alcance máximo é de 2.165 milhas náuticas (4.010 quilômetros), com velocidade de cruzeiro máxima de 451 KTAS.
Embora o desempenho varie conforme as condições do voo, em operações típicas partindo de São Paulo, com quatro ocupantes e reserva NBAA IFR, o CJ4 Gen3 pode alcançar praticamente qualquer destino no Brasil.
Os tempos de voo declarados são bastante competitivos na categoria. Partindo de Congonhas, é possível chegar a Recife em apenas 2h50, enquanto um voo para Boa Vista leva cerca de 4h. Já os voos de São Paulo para Buenos Aires e Santiago duram 2h23 e 2h40, respectivamente. A capacidade de carga útil, com 3.152 quilos disponíveis e um limite máximo de 998 quilos.
O interior do CJ4 Gen3 recebeu algumas melhorias pontuais, incluindo seis opções de cores, mantendo essencialmente o acabamento padrão. Ainda assim, é possível realizar sessões personalizadas com profissionais de design para criar configurações exclusivas.
Embora a maioria dos proprietários opte pelos padrões básicos para preservar o valor na revenda, a Cessna oferece ampla customização do interior. São ao menos quatro opções de configuração de cabine, com sete ou oito lugares, em configuração padrão. Além de lavatório opcional, que garante maior comodidade e se tornou quase padrão na categoria.
Outro destaque é o Sistema de Gerenciamento da Cabine (CMS, na sigla em inglês), agora sem fio, permitindo o controle da iluminação, temperatura e persianas das janelas. Outra melhoria foi a adição de 23 quilos extras de capacidade de armazenamento por assento lateral, totalizando um peso disponível para bagagem de até 1.000 libras (453 quilos).
O primeiro voo do CJ4 Gen3 ocorreu em 21 de outubro de 2024, um dia antes da abertura oficial do NBAA-BACE e no mesmo dia do anúncio dos modelos da linha Gen3. Nos últimos anos, os principais fabricantes têm lançado suas aeronaves já com pelo menos um protótipo concluído ou em fase inicial da campanha de ensaios. O voo, que teve duração de 1 hora e 47 minutos, avaliou os novos sistemas aviônicos, bem como os sistemas de propulsão, controle ambiental e controle.
A expectativa é que as primeiras entregas sejam realizadas em meados de 2026. Até lá, resta observar a aceitação do mercado e a reação dos concorrentes.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 02/12/2025, às 16h00
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