Brasil deve se manter como quarto maior mercado de transporte aéreo do mundo e incorporar pelo menos 50 novos jatos com mais de 100 assentos por ano nas próximas duas décadas, diz a Airbus
Os fabricantes aeronáuticos terão uma demanda de 1.060 novos aviões acima de 100 assentos, avaliados em mais de US$ 160 bilhões, a serem entregues nos próximos 20 para atender ao mercado brasileiro de transporte aéreo. Serão 700 modelos de corredor único, 310 de corredor duplo e 50 de grande porte. Dos atuais 480 jatos comerciais em operação no país, apenas 170 ainda estarão voando em 2031, quando a frota nacional deverá ser de 1.230 aeronaves de grande porte, duas vezes e meia maior do que a de hoje. É o que projeta a Airbus em seu Global Market Forecast (GMF) 2012-2031.
Essa previsão se baseia em indicadores socioeconômicos do Brasil segundo os quais a economia do país mais que dobrará nas próximas duas décadas, com uma evolução real do PIB (Produto Interno Bruto) de 131%, um aumento inferior apenas ao da Colômbia. Além disso, a Airbus considera a perspectiva de que São Paulo e Rio de Janeiro continuarão a figurar entre as maiores áreas metropolitanas do mundo. Dados coletados pelo fabricante europeu mostram que a América Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo, com 42% de seus habitantes em aglomerações com pelo menos 500 mil pessoas, e pode chegar a 49% em 2025. Em 2031, “das 92 megacidades da aviação, 10 estarão em países latino-americanos”, diz o documento.
Atualmente, mostra o levantamento da Airbus, os aeroportos brasileiros respondem por mais de um terço (38%) dos tráfegos de longo percurso para a América do Sul. Guarulhos é o principal ponto de entrada do continente com 26% do tráfego. O Galeão tem 10% e Brasília, 2% (veja o gráfico). Nos últimos 10 anos, o movimento de passageiros dobrou nos aeroportos brasileiros, o que fez com que o país se tornasse o quarto maior mercado de tráfego aéreo em oferta de assentos em voo de partida no mundo (o primeiro na América Latina), devendo se manter nesse posto nas próximas décadas, atrás apenas de Estados Unidas, China e Japão.
O tráfego doméstico de passageiros cresceu 2,5 vezes desde 2006 no Brasil. Já o tráfego internacional a partir de e com destino ao país mais que dobrou ao longo da última década. Desde 2009, esse movimento internacional cresceu 34% e as empresas aéreas estrangeiras aumentaram amplamente sua participação do mercado. As empresas aéreas brasileiras, em compensação, ainda não recuperaram sua participação do mercado internacional depois da saída de cena da Varig (leia mais no box ao lado). A idade média da frota brasileira atual, segundo a Airbus, está bem abaixo da média da América Latina. Ela é de oito anos, com a chegada de modelos 13% maiores por conta da saturação dos aeroportos.
Para a América Latina, a projeção da Airbus ao longo dos próximos 20 anos é a de que as linhas aéreas comprarão mais de 2.100 novas aeronaves, sendo 1.660 de corredor único, 420 de corredor duplo e 40 de grande porte, totalizando cerca de US$ 242 bilhões. Na região, a Airbus contabiliza mais de 700 aeronaves vendidas e uma carteira de quase 350. Atualmente, existem mais de 470 aeronaves Airbus operando na América Latina e no Caribe para 27 companhias aéreas. Nos últimos 10 anos, o fabricante europeu triplicou sua frota ao fornecer mais de 60% de todas as aeronaves que operam na região. Eram apenas 100 no ano 2000. Para 2013, a empresa espera atingir participação de 50% da frota na região. No mundo, a projeção da Airbus é de uma demanda de 28.200 novas aeronaves no valor de US$ 4 trilhões até 2031, sustentada principalmente pela crescente presença da “classe média global”, que deve duplicar na América Latina e quintuplicar na Ásia-Pasífico. Pelo GMF 2012-2031, o tráfego aéreo mundial duplicará nos próximos 15 anos com crescimento de 4,7% em 20 anos.
Demanda de quase 1.100 novas aeronaves a serem entregues até 2031 no Brasil, por categoria |
Evolução da frota de aeronaves de passageiros em operação no mercado brasileiro (doméstico e internacional) |
Mais de um terço do tráfego de longo curso com destino à América do Sul chega em três aeroportos no Brasil |
‘Tráfego de passageiros justifica vinda do A380’
O vice-presidente executivo para América Latina e Caribe da Airbus, Rafael Alonso, conversou com AERO Magazine durante o anúncio do GMF 2012-2013, em São Paulo (SP), e falou sobre suas expectativas em relação ao Brasil. Há mais de uma década no cargo, ele acredita que o país receberá, em breve, o superjumbo da Airbus com capacidade para 525 passageiros (em três classes). A América Latina é a única região do mundo onde o A380 ainda não opera. Alonso também defende que as companhias brasileiras expandam sua participação no crescente mercado internacional. A seguir, os principais trechos desta entrevista.
- AERO Magazine – Quando teremos um A380 operando no Brasil?
- Rafael Alonso – Quatro companhias aéreas mantiveram contato com as autoridades brasileiras expressando interesse em trazer em algum momento o A380 para o Brasil (Lufthansa, Emirates, British e Air France). O país, sobretudo São Paulo, tem suficiente demanda para trazer o A380. Há cidades menores que já estão operando nosso avião. Portanto, São Paulo se justifica pelo seu tráfego. Agora, para operar o A380 aqui, obviamente, será necessário adaptar, não modificar, algumas das infraestruturas existentes. O A380 tem fisicamente a mesma dimensão de um Boeing 747, portanto, o 380 cabe onde cabe o 747. O peso sobre o pavimento é praticamente o mesmo, o espaço requerido idem, um quadrado de 80 metros de largura, cabe perfeitamente. As pistas principais também têm área suficiente, ele já veio mais de uma vez para cá. A única adaptação seria ampliar as curvas das pistas de táxi para que a aeronave não levante poeira. E o investimento é proporcionalmente baixo, algo entre 2 e 6 milhões de dólares, para adequar o aeroporto de Guarulhos ao A380.
- E quanto aos terminais?
- Sim, precisarão ser modernizados, principalmente os fingers, mas isso acontecerá independente da vinda do A380.
- Quais os benefícios da vinda do A380 para o Brasil?
- Se as quatro companhias aéreas passassem a operar o A380 no lugar dos aviões que operam atualmente, estimamos ingressos adicionais na ordem de 20 milhões de dólares ao ano, incluindo taxas recolhidas pelo aeroporto e negócios gerados pelo aumento do volume de passageiros, além do incremento de vendas no duty-free shop.
- Quais as expectativas em relação ao A350 para o Brasil?
- Será o avião mais moderno existente quando começar a ser entregue. Extremamente eficiente no que diz respeito ao consumo de combustível comparado com os aviões atuais, incluindo os da concorrência, como o 787. Por outro lado, oferecerá tremenda flexibilidade por causa de seu alcance de 7 mil milhas náuticas (13.000 km). Temos pedidos da TAM, agora Latam, mas os números ainda são confidenciais, e também pedidos do Grupo Synergy, dono de Avianca e Avianca Brasil. Destaque para o entretenimento a bordo, as janelas maiores, a melhor recirculação de ar, o nível de conforto e os tetos mais altos. Na parte operacional, oferecerá ainda mais segurança. Ele vai voar em 2013, com as primeiras entregas em 2014. Deve começar a voar no Brasil antes das Olimpíadas de 2016.
- Como a Airbus avalia a compra da TAP pela Synergy?
- O Grupo Synergy está em discussão com governo português. Esperamos que essa compra se materialize, a TAP é um cliente importante da Airbus, pois só opera Airbus. Vamos falar com Synergy, no futuro.
- O processo de fusão que criou a Latam tem sido bom para a Airbus?
- Toda consolidação que cria companhias globais é boa para a indústria, vemos com bons olhos e satisfação. As empresas se tornam mais rentáveis, com melhores projeções. E tendem a comprar mais aviões. Isso é vantajoso para o fabricante. A Latam é algo muito bom. Tem uma projeção importantíssima, convertida em uma empresa líder em nível mundial. Muitas companhias gostariam de se parecer com ela, com um nível de serviço de excelente qualidade e boa motivação de sua gente. No sentido operacional, converteu-se em nosso maior cliente na região, por isso merece nosso respeito, admiração e dedicação.
- Quais as principais oportunidades de negócio para as companhias brasileiras?
- As companhias brasileiras perderam uma participação internacional importante. Parte dessa presença foi recuperada pela TAM nos voos internacionais. Mas as linhas áreas brasileiras transportam somente 20% do tráfego internacional do país e pensamos que isso deve aumentar, há um aumento potencial de tráfego internacional para as companhias locais. Não digo chegar aos 50%, mas aumentar paulatinamente. Isso vai acontecer agora com a Latam, com nova identidade, nova projeção. Ela será capaz de recuperar parte da participação que se perdeu.
O vigor do A320 e o potencial do NEO |
A Airbus contabiliza 3.015 aviões A320 em operação hoje no mundo em 111 companhias aéreas, incluindo as de baixo custo, leasing e fretamento. Um deles pousa ou decola a cada 2,5 segundos em algum lugar. O modelo de corredor único da Airbus ocupa 57% desse mercado, disputado com o Boeing 737. A chegada do A320Neo promete incrementar essas vendas. Segundo a Airbus, já são mais de 1.500 pedidos firmes para 29 clientes, com destaque para TAM (22), Lan (20) e Avianca (33). O principal cliente é a Air Asia, com 200 ordens. Entre as “pequenas” alterações, que prometem reduzir em até 15% o consumo de combustível, estão dois itens: |
Giuliano Agmont | Foto Divulgação
Publicado em 13/12/2012, às 12h46 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
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