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Etihad na proa do Brasil


A Etihad Airways reuniu fornecedores e parceiros em potencial num coquetel em São Paulo para celebrar o início de suas operações no Brasil. A empresa aérea nacional dos Emirados Árabes Unidos, que transportou 8,3 milhões de passageiros para 86 países em 2011, voará uma vez por dia de Abu Dhabi para Guarulhos a partir de 1º de junho de 2013. Com mais de 35 anos de mercado, o CEO James Hogan recebeu a reportagem de AERO Magazine em seu hotel para falar dos planos da companhia no país. Quando esse australiano de fala segura assumiu a Etihad, em 2006, a receita da empresa era de US$ 300 milhões. Hoje, chega a US$ 5 bilhões. Hogan se orgulha de ter comandado a maior negociação de uma frota comercial da história da aviação. "Em 2008, fechamos o pedido de 205 aeronaves no valor de US$ 43 bilhões". E garante: "Somos uma companhia que sabe ganhar dinheiro". Nesta entrevista, ele explica como será o lançamento da primeira rota da Etihad para a América do Sul.

AERO - Por que o Brasil?
JAMES HOGAN - O mundo está ficando menor. O Brasil é um dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), grupo que está forçando mudanças no mundo. Para nós, esse mercado é importante pelo contexto econômico mundial e pelos grandes eventos que irão acontecer no país. É importante para a Etihad forjar bons laços comerciais com o Brasil, que possui fortes comunidades libanesas, sírias e japonesas. São pessoas que poderão voar todos os dias de São Paulo a Abu Dhabi e de lá para Nagoia, Damasco ou Beirute. Estamos bem posicionados. Também podemos levar os passageiros de São Paulo para Abu Dhabi e, depois, no mesmo avião, para Sidney.

- A Etihad terá algum centro no país?
- Provavelmente teremos uma equipe de operações de 30 pessoas.

- Qual é a diferença da Etihad em relação às demais companhias?
- Usamos como vantagem competitiva nossa geografia, aliada à nossa tecnologia aeronáutica. Podemos voar em 3 horas para destinos no Oriente Médio, no subcontinente indiano e em demais regiões próximas a Abu Dhabi, o que representa uma população de 1 bilhão de pessoas. Além disso, nossa equipe de colaboradores é composta por pessoas de mais de 120 nacionalidades, incluindo brasileiros. Nosso DNA é de alta qualidade. Focamos em serviço e hospitalidade. E temos uma companhia muito segura.

- Pudemos experimentar o mock-up com o assento da premiada primeira classe da Etihad. Que preocupação a empresa tem ao configurar sua ala mais nobre?
- Prestamos muita atenção aos detalhes. Serviço é muito importante para nós. Cada cabine tem que ser o "melhor da classe". E fazemos isso por acreditar que nossos resultados melhoram, temos uma clientela fiel. E na nossa parte do mundo podemos vender tanto primeira classe como econômica.

- O Brasil é um bom mercado para os clientes premium?
- O que notamos é que o tráfego ponto a ponto de Abu Dhabi par o Brasil é feito por passageiros envolvidos em assuntos de governo ou negócios. O nosso produto econômico é melhor do que o produto de primeira classe de muitas outras companhias. Temos uma penetração anual de primeira classe de 50% na alta temporada. As pessoas voam de primeira classe se elas têm o custo-benefício. Nossa cabine com certeza é única.

- A Etihad pretende operar no Brasil novos modelos de aviões no futuro, como o A380?
- Iremos usar os A340 para alguns anos. Os A380 vão apenas para rotas como Londres e Chicago, enquanto nossos A340 voam para Sidney, Nova York e, futuramente, São Paulo.

- Qual é sua opinião sobre o novo A350 e o futuro 777-X?
- São todos ótimos aviões. Nós operamos os A330, A320, A321, A340 e Boeing 777. Vamos comprar alguns 380, 41 787 e 12 A350-1000, com mais 25 opções de compra.

" Já trabalhei em aeroportos e você administra o que tem. A coisa mais importante é que seu avião saia na hora certa"
James Hogan, CEO da Etihad

- A propósito, como o senhor avalia os problemas nas asas do A380?
- Já tive conversas com os engenheiros. Eles falaram que estão solucionando os problemas das asas. É sempre assim. Sempre há problemas a serem solucionados nas primeiras 50 unidades produzidas.

- As companhias brasileiras se queixam dos preços do combustível. Como a Etihad lida com essa questão?
- Pagamos os preços de mercado também. Não temos subsídio. A gente tenta se proteger dos preços altos com um program de três anos de hedge, uma vez que os preços estão fora do nosso controle. Usamos 24 bancos diferentes e somos a companhia mais agressiva em termos de hedge. Fazemos isso não para ganhar dinheiro, mas para nos proteger.

- Uma publicação brasileira veiculou recentemente que a Qatar negocia a compra da Gol. A Etihad pretende investir em empresas brasileiras?
- Mas nem entramos no mercado ainda (risos). Bom, vamos ver o que acontece.


#Q#

- E quanto à proposta feita pela Etihad para a compra da TAP, essa informação procede?
- Não posso comentar.

- Em 2014, podem ter céus abertos no Brasil. Qual é a expectativa da Etihad em relação a essa perspectiva de mercado?
- O chamado Open Sky é bom para os negócios e para a indústria. Não tenho dúvida alguma de que as operadoras nacionais irão tirar vantagem disso. Vai ser bom para todos. Para nós, é uma vantagem que mais pessoas tenham acesso ao Brasil.

- Há lugar para mais pilotos brasileiros na Etihad?
- Já temos 25 a 30 pilotos brasileiros voando nossas aeronaves. O total de pilotos da companhia chega a 1.200 tripulantes. Com os novos aviões, vamos precisar de mais gente.

- E de quanto são os salários?
- Nossos salários são competitivos. Temos muitos pilotos querendo voar com a gente. Damos plano de saúde, escola para as crianças. Nossos padrões são altos.

- Quais as dificuldades para um piloto brasileiro se adaptar?
- Eu moro em Abu Dhabi e não tenho nenhum. Tem que respeitar a cultura local e se adaptar. Não faz diferença de onde você vem se você quer trabalhar.

- Qual sua opinião sobre o aeroporto de Guarulhos?
- É difícil falar sobre isso quando você tem apenas um voo por dia. Mas estou muito satisfeito com o jeito como somos tratados aqui no Brasil, com as taxas. O aeroporto aqui é bom. Quando você usa um aeroporto, qualquer aeroporto, apenas algumas vezes por semana, se as instalações, as taxas aeroportuárias e a infraestrutura do aeroporto são adequadas para os seus padrões, isso é o que importa. Se Guarulhos fosse meu hub e eu fosse uma companhia nacional, talvez lhe desse outra resposta. Mas, usando o aeroporto para um ou dois voos longos, considero que recebemos um bom serviço e apoio.

- Como é operar em aeroportos com menos infraestrutura quando se está baseado em Abu Dhabi?
- A Etihad voa para 86 aeroportos no mundo. Alguns são muito eficientes, outros tem problemas de infraestrutura. Quando você gerencia uma companhia aérea, precisa lidar com a infraestrutura que existe. Precisa trabalhar com as autoridades locais, com o pessoal do aeroporto, e tem que ter um bom relacionamento com imigração e demais departamentos. Tem que escolher bem as companhias de apoio e tem que se tornar parte da comunidade. Já trabalhei em aeroportos e você trabalha com o que tem. A coisa mais importante é que seu avião saia na hora certa.

Giuliano Agmont
Publicado em 03/10/2012, às 09h34 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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