Preparamos aqui um passo a passo de como e o que fazer antes de ir ao mercado e escolher um avião
A compra de uma aeronave muitas vezes é uma decisão pessoal baseada na beleza ou em um discurso de venda bem-feito. Esse tipo de decisão, não raro, leva o empresário a se arrepender depois da compra, quando se dá conta de que seu avião é muito maior ou muito menor do que ele realmente precisa.
Sem diminuir o peso do gosto pessoal na compra da aeronave, existem critérios técnicos que podem e devem auxiliar o futuro proprietário no momento da decisão de compra. Tais critérios passam pela elaboração de um perfil operacional preciso e pelo reconhecimento das necessidades reais de transporte, tudo muito bem mapeado, para, então, elencar os possíveis alvos de compra.
Aliada à análise técnica, e depois dela, a avaliação econômica permitirá uma compra informada da aeronave e diminuirá as surpresas durante a operação, auxiliando no estabelecimento de uma linha base de custo operacional a ser perseguida após a compra. Aqui, como nas demais decisões que o empresário toma em seu negócio, os dados e a experiência podem significar a permanência ou não do proprietário no mundo aeronáutico.
Depois de tomar a decisão de compra, o futuro proprietário de um avião se depara com uma infinidade de opções no mercado, entre novos ou usados, com os mais diferentes tipos e tamanhos, para os mais variados bolsos. Porém, antes de definir o budget, é importante avaliar o perfil de operação da aeronave que pretende adquirir para, a partir daí, pensar em quanto vai investir e, enfim, filtrar as opções de aeronaves para escolha.
Imagine que a lógica é a mesma de quem compra um calçado. Se escolhemos um sapato apertado ou largo demais, vamos ficar insatisfeitos, desconfortáveis. O mesmo se dá se compramos um avião que não atende ao nosso perfil operacional. A máquina trará frustação e gastos desnecessários.
Para evitar essa experiência e ajudá-lo a escolher um avião que calce confortavelmente em seu perfil aeronáutico, preparamos aqui um passo a passo com oito etapas.
Mapa operacional
Se decidiu comprar um avião, você já utiliza o transporte aéreo privativo com alguma frequência, via fretamento de aeronaves ou propriedade compartilhada, caminho indicado e natural até a primeira aeronave. Portanto, a primeira tarefa é levantar seus destinos nos últimos anos. Mapear onde esteve com a aviação de negócios pode dar-lhe uma informação valiosa, que nem sempre confirma sua impressão – se for o caso, inclua também viagens em voos de carreira da aviação regular.
Origens e destinos futuros
Feito esse levantamento, verifique os destinos e origens que pretende utilizar com aeronave própria, provavelmente acrescentando outros além daqueles utilizados com o fretamento no passado. Com essas duas informações, você terá um mapa de cidades e aeródromos que serão seu “alvo”.
Características das pistas
Com ajuda técnica, se for necessário, estabeleça as características das pistas. Procure classificar em asfaltada ou não, curta ou longa, com apoio para voo noturno ou não, com capacidade de reabastecer ou não...
Principais voos
Em seguida, imagine quais serão os principais destinos e qual será a principal origem, determinando os locais que responderão por 80% de sua operação. Por exemplo, digamos que 80% dos voos partirão de Congonhas com destino a pistas asfaltadas, curtas, no interior de São Paulo, sem reabastecimento.
Peso, tempo e distância
Para esses pares de origem-destino, deve-se levantar o tempo de voo, a distância e quantos passageiros em média serão transportados em cada trecho. Por exemplo, serão em média quatro a bordo (você, o presidente da empresa, mais três assessores/diretores) ou sua família em alguns trechos e composição de negócios em outros. São números estimados, claro, mas muito úteis.
Primeiro filtro – o porte
De posse dos dados em uma tabela, é possível analisar de modo objetivo qual o tamanho de aeronave a se comprar, o que vai limitar o número de modelos e fabricantes disponíveis. No nosso exemplo de operação dentro do estado de São Paulo, você precisaria de aeronaves de 800 quilômetros de alcance transportando até quatro passageiros com capacidade de pouso em pistas asfaltadas curtas sem reabastecimento.
Aqui o número de modelos que atendem ao seu perfil operacional diminuiu de uma infinidade para algumas poucas aeronaves e, com isso, você consegue iniciar a análise econômica de cada um dos modelos disponíveis.
Segundo filtro – custos
Elenque, então, alguns itens que devem constar da planilha de análise econômica. Por exemplo, quais as tarefas de manutenção, como o programa de manutenção está distribuído, qual o custo do seguro, qual o consumo de combustível, há centros de serviço no país, qual o preço médio dos serviços de manutenção e peças, o custo do treinamento recorrente, o custo do simulador de voo para a tripulação...
Está pronto para o mercado
Essa planilha vai refinar ainda mais as possibilidades de compra, sobrando ao final dois ou três modelos de aeronave que serão seus alvos derradeiros. De posse disso, poderá partir para o mercado, de preferência com ajuda de uma equipe, e identificar o melhor número de série disponível para compra.
* Texto originalmente publicado na edição 303 da AERO Magazine
e republicado após atualização
Shailon Ian, especial para AERO Magazine*
Publicado em 26/01/2023, às 12h00
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