Com redução da oferta de assentos as empresas aéreas buscam aviões mais eficientes e adequados
Aeronaves menores, como o E195-E2 da Embraer, podem ampliar participação no mercado mundial
Em fevereiro, a oferta de assentos das companhias aéreas regulares no mundo registrou redução de 47% em comparação com o mesmo período de 2020, semanas antes que a pandemia de covid-19 registrasse seus principais impactos na aviação comercial.
O número de voos foi aproximadamente 45% menor, mostrando que, em média, as companhias aéreas estão operando aeronaves um pouco menores em grande parte das rotas. Aliás, o tamanho médio das aeronaves em serviço passou de uma capacidade média de 146 assentos, para 141 lugares. A redução embora pareça pequena, demonstra globalmente uma mudança no perfil da frota em serviço.
Segundo dados divulgados pelo britânico Guia Oficial da Aviação (OAG), os aviões mais impactados foram modelos de dois corredores, especialmente os de grande capacidade.
Com a demanda despencando, as companhias aéreas passaram a replanejar a disponibilidade de oferta, retirando aviões de serviço e ajustando o excesso de capacidade para preservar o caixa. Ao mesmo tempo, modelos mais antigos ou de maior capacidade foram retirados de serviço.
Atualmente a tendência é operar com aeronaves menores e mais novas, especialmente as de tecnologia de propulsão mais recentes. Em geral, duas famílias de aeronaves sustentavam as frotas das aéreas antes da pandemia: os modelos da série Airbus A320 e Boeing 737, com o primeiro contribuindo com 38% de toda a capacidade programada em todo o mundo há um ano (fevereiro de 2020), enquanto o norte-americano contribuiu com outros 29%. Outra característica é que os dois modelos de aeronaves são utilizados predominantemente por companhias aéreas de baixo custo (low-costs).
Entre as dez categorias de aeronaves mais populares, os dois maiores grupos que mais ampliaram a participação de mercado foram justamente as família A320, que agora representam 41% da capacidade, e o 737 e suas variantes, que atingiram 32% da oferta global.
A família de turbo-hélices ATR embora tenham apenas 2% da capacidade há um ano, tiveram um desempenho relativamente melhor e viram sua participação na oferta de assentos crescer ligeiramente, voando especialmente em linhas regionais anteriormente operadas por modelos maiores.
Quanto às aeronaves menores, os modelos Embraer E170 e E195 contribuíram com 4% da capacidade global e 7% dos voos regulares, basicamente o mesmo índice de um ano atrás, ainda que a capacidade tenha caído 47%.
Da mesma forma, os aviões de maior capacidade, como os Airbus A350, e em menor medida os 787 Dreamliner, da Boeing, tiveram também ligeiro aumento na participação nos voos. Ainda que o total de voos tenha sido menor, a participação cresceu na proporção, justificado pelo maior uso das novas gerações de aeronaves. Por contarem com menor custos operacionais, as empresas aéreas optaram por ampliar o uso dos dois aviões em rotas de longo e ultralongo curso.
Emirates paralisou grande parte da frota de A380 e 777-300ER durante a escalada da crise sanitária em 2020
As aeronaves que foram mais atingidas pelos efeitos da pandemia são modelos maiores e mais antigos. Com destaque para as famílias Airbus A330 e Boeing 777, que até o ano passado eram bastante populares no mundo, mas que tiveram a participação na capacidade reduzida em 71% e 66% respectivamente, em 2021.
Porém, como esperado a maior queda na participação de capacidade foi registrada pelos modelos quadrimotores da Airbus, com o A340 tendo uma redução de 78% e o A380 que atingiu a marca de 97%. O super jumbo europeu viu seus dois principais merdados praticamente desparecerem ao longo de doze meses: os voos de longa distância e de elevada capacidade. Em fevereiro deste ano, apenas quatro empresas (Emirates, Asiana, Korean Air e China Southern Airlines) das catorze operadoras do A380 ainda voavam com o modelo.
A lista de companhias aéreas que estão mantendo seus A380 no solo é longa e inclui Singapore Airlines, Qatar Airways, Etihad Airways, Qantas Airways, British Airways, Lufthansa, Air France, Thai Airways e All Nippon.
Mais da metade de todos os voos operados pelo A380 antes da pandemia eram feitos pela Emirates, com o modelo representando 41% da capacidade, enquanto a família 777 era responsável pelo restante dos assentos da empresa árabe.
A situação atual reflete uma tendência que as empresas aéreas estão buscando operar apenas com aeronaves mais novas e mais eficientes no consumo de combustível. Modelo de geração anterior que ainda eram viáveis do ponto de vista econômico antes da pandemia estão sendo aposentadas mais cedo, dentro de uma readequação emergencial da frota.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 11/03/2021, às 13h00 - Atualizado às 14h10
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