Demais processos, ensaios de voo, e testes vão garantir certificado de tipo militar para o caça
Quatro primeiros Gripen F-39E construídos em série foram entregues à FAB no mês de novembro | Foto: Saab
A expectativa é que 2022 seja um ano crucial para o projeto Gripen no Brasil e para a aviação de caça. A FAB terá um dos mais avançados aviões de combate da atualidade.
Conversamos com a Saab e com a Força Aérea Brasileira sobre o andamento do programa e trazemos algumas novidades sobre a chegada dos primeiros Gripen F-39 ao Brasil, assim como sobre o processo de integração e famosa diferença no "nariz" dos caças, entre outras questões.
Perguntamos para a Saab quando os quatro caças chegarão em território nacional, que seguindo o cronograma revisto prevê que“ as primeiras duas aeronaves de série serão embarcadas para o Brasil em 2022 e chegarão em Gavião Peixoto no início do ano”.
Vale ressaltar que ainda foi informado que os pilotos de ensaio da FAB, Embraer e Saab vão conduzir de forma conjunta os ensaios de voo no Brasil. O processo faz parte da campanha de homologação do modelo, com a Certificação de Tipo Militar prevista para acontecer em meados de 2022. O processo está dentro do cronograma inicial, planejado em meados de 2013, e segue os prazos padrões existentes ao redor do mundo.
Primeiro exemplar do Gripen, que está em fase de testes em Gavião Peixoto (SP), chegou ao Brasil em setembro de 2020 | Foto: AERO Magazine/ André Magalhães
Todavia, dos quatro aviões planejados para 2022, dois deles serão enviados para Anápolis no segundo trimestre, dentro de uma revisão pontual no prazo de entrega. A mudança ocorre para manter maior disponibilidade das equipes de engenharia e de ensaios, que poderão se concentrar nos trabalhos de certificação inicial.
Em Anápolis os técnicos da FAB irão passar por uma familiarização das atividades em solo, para que estejam prontos para operar os caças F-39 E Gripen assim que a certificação militar for concluída.
Tal fase irá permitir que a força aérea inicie a avaliação operacional, importante etapa para iniciar os voos de emprego real dos caças. A expectativa é que quando os quatro aviões estiverem em Anápolis a capacidade operacional inicial esteja concluída. O processo é padrão em todo o mundo, com o avião adquirindo as capacidades elementares, permitindo uma avaliação real de emprego, para na sequência novas e adicionais capacidades serem gradualmente agregadas. O método permite tornar o caça apto a realizar as atividades mais importantes, enquanto outras capacidades são adicionadas conforme a evolução da frota e da disponibilidade de aviões. Além disso, ajuda reduzir os custos e os riscos, assim como antecipa em vários meses a entrada em serviço dos jatos.
A FAB ainda reafirmou que “as aeronaves possuem um cronograma de entregas, o qual prevê o desenvolvimento e implementação de funcionalidades no escopo do contrato de aquisição. Algumas dessas funcionalidades são desenvolvidas parcialmente no Brasil, dentro do escopo do Acordo de Compensação por empresas beneficiárias”.
Outra pergunta respondia pela Saab foi sobre a participação da empresa no processo de integração das aeronaves, de acordo com empresa será enviada uma equipe multidisciplinar para Anápolis, que inclui mecânicos, pilotos, técnicos e engenheiros de voo para dar todo o apoio necessário neste processo de integração.
Ainda questionamos à Força Aérea Brasileira sobre a diferença no nariz dos caças Gripen, que ficaram bem visíveis quando as aeronaves foram apresentadas em novembro, chamando atenção de entusiastas e especialistas em defesa.
De acordo com a FAB “o projeto do caça F-39 Gripen da Força Aérea Brasileira manteve, desde o início, a mesma estrutura do nariz da aeronave”. Não foi especificado outros lados técnicos, nem mesmo se a unidade que já está no Brasil, por ser um dos protótipos, estava equipado com outro radome ou se foi uma ilusão de óptica causada pela instalação do sistema IRST.
Caças apresentados na Suécia em novembro já apresentam o IRST instalado a frente da nacela | Foto: Saab
A força aérea ainda disse que ao final do contrato “todas as aeronaves terão a mesma configuração e capacidades”.
Outro ponto importante é referente as capacidades de guerra eletrônica diferentes entre a versão brasileira e a sueca. Segundo a Saab a diferença existe pois, existe diferenças nos sistemas escolhidos por cada país. As duas forças aéreas avaliaram quais sistemas de guerra eletrônica seriam utilizados baseados "nas ameaças existentes para cada país. Os suecos enfrentam ameças diferentes do brasileiros. Cada avião terá a capacidade para enfrentar a ameaça existente na sua força aérea". Ou seja, a opcão do sistema sueco não necessariamente traria um resultado adequado para o que a defesa brasileira considera uma ameaça real.
Em 2014 foi assinado um contrato para a aquisição de 36 unidades do Gripen E/F, sendo 28 exemplares da versão E (monoposto) e oito da versão F (biposto). Os aviões foram designados na força aérea como F-39E/F, seguindo a nomenclatura adotado historicamente pela FAB e baseado no padrão norte-americano.
Um dos pontos chaves do contrato é a transferência de tecnologia, o que significa que o Brasil está participando do desenvolvimento e construção dos aviões. A FAB e empresas nacionais enviaram para a Suécia pilotos, técnicos e engenheiros, que atuam através do processo de "aprenda fazendo", onde podem ter acesso direto a tecnologias de forma aplicada. Em território nacional a Saab conta com uma planta indústria em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, onde constrói componentes vitais para as aeronaves.
De acordo com o contrato, parte dos sistemas e estruturas será produzido no Brasil, com alguns componentes sendo finalizados pela Embraer e Saab. Outros serão montados de forma conjunta na unidade de Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, onde parte dos F-39E serão montados. Os oito Gripen F serão desenvolvidos por engenheiros brasileiros e completamente montados no país. Por ora, apenas a FAB encomendou a versão biplace do modelo.
Míssil ar-ar Iris-T faz parte de um programa europeu que reúne seis países europeus | Foto: Saab
Mais um marco importante para a FAB, especialmente para o programa Gripen F-39, foi a aquisição recentes dos mísseis com capacidade além do alcance visual.
O Iris-T tem capacidade de manobras, graças a seu empuxo vetorado, além de um sistema de busca infravermelha, resistência a contramedidas eletrônicas, capacidade de acompanhar o alvo com integração na mira do capacete do piloto. Outras características do Iris-t é seu alcance aproximado de 25 quilômetros e velocidade Mach 3 (superior aos 3.000 km/h).
Outro míssil adquirido e com o primeiro lote também entregue é o Metor, que tem como principal característica a ação além do alcance visual (BVR, na sigla em inglês). Como o próprio nome diz, o míssil ar-ar poderá destruir alvos como, caças, drones e outras aeronaves e até mísseis de cruzeiro, além do alcance visual do piloto.
Tecnologia Scramjet é um dos destaques do novo armamento da FAB | Foto: Divulgação
Diferentemente dos demais mísseis, o Meteor mantém a propulsão por foguete, mas tem um motor scramjet, que proporciona maior velocidade durante o voo até o alvo.
Outro destaque é a tecnologia do armamento, o Meteor pode receber em voo os dados atualizados de onde o alvo se encontra. Além disso, conta com sistemas de estopim por impacto e por interferência de rádio.
Por André Magalhães
Publicado em 31/12/2021, às 08h00 - Atualizado em 16/01/2022, às 22h55
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