A Suécia condiciona possível transferência dos Gripen E/F para a Ucrânia ao fim da guerra com a Rússia, mas mantém cooperação tecnológica e militar
A Suécia sinalizou abertura para negociar a venda de caças Saab Gripen à Ucrânia após o término da guerra contra a Rússia. O anúncio foi feito por Pål Jonson, ministro da Defesa sueco, durante a feira dmilitar MSPO, na Polônia.
Entre as opções está a venda da versão Gripen E/F, a mais recente e similar a encomendada pelo Brasil. A modernização da frota de caças ucrâniana só ocorreria quando as hostilidades cessarem.
A hipótese de fornecimento do Gripen à Ucrânia não é inédita. Em 2023, Estocolmo avaliou a transferência limitada de alguns Gripen C/D, inclusive permitindo o treinamento de pilotos ucranianos.
O plano, entretanto, foi suspenso em 2024 após aliados recomendarem que Kiev priorizasse a integração dos F-16, evitando sobrecarga de treinamento e logística com dois modelos distintos. Além disso, o F-16 foi considerado uma plataforma mais rápida para ser declarada operacional, tendo ainda uma série de armamentos compatíveis já disponíveis para entrega para a Ucrânia.
Mesmo sem avançar com a entrega dos caças, a Suécia incluiu em seu 17º pacote de apoio peças de reposição e, sobretudo, o compromisso de entregar duas aeronaves Saab ASC 890 de alerta aéreo antecipado.
Esses vetores, equipados com radar Erieye, devem ampliar a capacidade ucraniana de monitoramento do espaço aéreo e coordenação de defesa.
As duas variantes do caça representam propostas distintas. O Gripen C/D, em operação desde meados dos anos 2000, é um jato multifunção leve, capaz de operar em pistas curtas ou dispersas, com menor demanda de suporte em solo. A transferência de unidades de segunda mão poderia acelerar sua introdução e reduzir custos operacionais imediatos.
Já o Gripen E/F é uma versão aperfeiçoada, que incorpora motor General Electric F414, radar AESA Raven ES-05, sistemas avançados de guerra eletrônica e enlace de dados, além de maior raio de combate. Tais características exigem cronograma mais longo de aquisição, treinamento e recursos, motivo pelo qual foi classificado como opção para o pós-guerra.
Além disso, o governo sueco teme os efeitos de uma hipotética entrega do Gripen E para a Ucrânia em guerra. Sem infraestrutura e recursos, a operação com o caça poderia ser crítica e comprometeria a segurança do projeto.
Apesar da pausa na discussão sobre os caças, a cooperação entre Kiev e a indústria sueca prossegue. Em 23 de maio, Oleksandr Kozenko, vice-ministro da Defesa ucraniano para o Desenvolvimento da Aviação, reuniu-se com delegação sueca para discutir a integração de aviônicos modernos em caças de origem soviética.
Entre as atualizações em análise estão novos radares, sistemas defensivos e suites de guerra eletrônica, capazes de elevar a sobrevivência das aeronaves.
A Ucrânia já demonstrou capacidade de adaptar plataformas antigas ao uso de armamentos modernos, incluindo a integração de mísseis antirradar AGM-88 HARM nos MiG-29 e Su-27, e a modificação de Su-24 para operar mísseis Scalp-EG/Storm Shadow e bombas guiadas AASM Hammer.
Essas soluções reforçam a estratégia de curto prazo enquanto Kiev aguarda jatos ocidentais mais avançados.
A chegada dos Mirage 2000-5 franceses em 2025 adicionou outra aeronave ocidental à frota ucraniana, intensificando o debate sobre quantos tipos diferentes de caças podem ser integrados de forma eficaz.
Nesse cenário, o eventual fornecimento dos Gripen se insere como alternativa estratégica futura, em paralelo à ampliação do suporte aéreo sueco com os ASC 890.
No momento, a Ucrânia busca reequipar o mais rápido possível sua força aérea, que sofreu pesadas perdas ao longo de quase quatro anos de combate.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 04/09/2025, às 09h26
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