Nos dois primeiros anos de conflitos na Ucrânia, a Rússia perdeu mais de cem helicópteros de ataque
Uma análise de dados de fontes abertas, conduzida por um centro de competência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e divulgada ontem (26), indicou que a Rússia perdeu mais de cem helicópteros de ataque durante os primeiros dois anos do conflito na Ucrânia.
A pesquisa, realizada pelo Centro de Competência de Poder Aéreo Conjunto (Japcc), fornece um panorama das perdas russas e da adaptação da frota militar à evolução das condições de combate. De acordo com os dados, no primeiro ano da guerra, 59 aeronaves foram destruídas, o que representa quase 30% da frota operacional russa disponível. Desses, 42 foram abatidas por sistemas de defesa aérea, sendo um deles em um incidente de "fogo amigo", enquanto dezessete foram destruídos no solo.
Os Ka-52 foram responsáveis por 62% das perdas totais, seguidos pelos Mi-24 (21%) e Mi-28N (17%). Em relação aos fatores que causaram os abates, 49% foram atribuídos a sistemas de defesa aérea portáteis (Manpads), 22% a artilharia antiaérea, 17% a armas de fogo pequenas e 12% a armas antitanque em modo de tiro direto.
Segundo o Tenente Coronel Emilliano Pellegrini, da Defence IQ, o perfil de voo necessário para lançar foguetes nos helicópteros, especialmente o Ka-52, os deixa vulneráveis a ataques, já que a subida acentuada faz com que fiquem expostos a uma alta altitude e baixa velocidade, tornando-os alvos fáceis para sistemas de mísseis.
Além disso, a vibração das aeronaves do modelo limitou sua capacidade de mira de longo alcance, enquanto a falta de coordenação com outras forças, a utilização de mapas desatualizados e sistemas de autoproteção defasados contribuíram para as elevadas perdas nos primeiros meses de conflito.
No entanto, as autoridades russas ajustaram rapidamente suas estratégias. No segundo ano da guerra, até março de 2024, o número de helicópteros abatidos caiu 52%, com dezenove perdas, embora o número de helicópteros destruídos no solo tenha aumentado em 40%, totalizando 28.
Entre as melhorias implementadas, destaca-se a atualização no sistema de mira do Ka-52, juntamente com a introdução de mísseis antitanque de longo alcance (LMUR), permitindo que os helicópteros atingissem alvos a até 14 km de distância, o que os retira do alcance de Manpads.
Além disso, houve melhorias nos sistemas de autoproteção, navegação e visão noturna dos helicópteros russos. Pellegrini também destacou um aumento na coordenação com outras forças, como helicópteros de guerra eletrônica e veículos aéreos não tripulados (VANTs), o que contribuiu para aumentar a taxa de sobrevivência das aeronaves.
Mudanças na doutrina operacional também tiveram impacto nas perdas. As primeiras informações do terceiro ano do conflito sugerem que as perdas continuaram a diminuir, à medida que a Rússia aprimorou o uso dos helicópteros. No entanto, a ameaça também evoluiu, com os VANTs agora sendo capazes de atingir helicópteros em voo.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 27/02/2025, às 08h55
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