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Avião desenvolvido por russos e chineses pode ser vítima da Guerra

Programa CR929 poderá enfrentar problemas após embargos impostos contra a Rússia


Parceria entre russos e chineses já enfrentava contratempos por falta de sinergia comercial - Divulgação
Parceria entre russos e chineses já enfrentava contratempos por falta de sinergia comercial - Divulgação

A crise econômica e industrial criada na Rússia pelas sanções ocidentais podem impactar ainda mais no setor aeroespacial do país. Uma das primeiras vítimas é o promissor MS-21, o novo avião comercial da Irkut desenvolvido com amplo uso de tecnologias e sistemas fornecido por empresas da Europa e Estados Unidos.

Porém, o CR929, o projeto do novo avião de grande capacidade e fuselagem larga desenvolvido em parceria entre a russa UAC (United Aircraft Company) e a chinesa Comac, poderá ser a próxima vítima.

Embora até o momento a Comac e a UAC não tenham listado quais fornecedores vão participar do projeto, apenas elencando potenciais parcerias, era certo que diversos fabricantes ocidentais fossem escolhidos para produzir sistemas e subsistemas do avião, da mesma forma que ocorreu com o C919 e o MS-21. Com os embargos impostos ao setor aeroespacial russo é possível que o acordo para o CR929 sofra atrasos e mesmo revisão de projeto.

Mesmo com o agravante das sanções ocidentais contra a Rússia, o programa lançado em 2016 já enfrentava alguns problemas recentes, como alguns embates na sociedade entre chineses e russos. Ainda que o projeto estivesse andando em um ritmo adequado para uma parceria binacional, em meados de 2020 surgiram os primeiros relatos que os russos não estavam satisfeitos com o andamento do acordo.

Uma das principais dificuldades estava na questão comercial, e de capacidade intelectual. Os russos estavam dispostos a colaborar com conhecimento e capacidades industriais e de projeto, em especial em questões aerodinâmicas avançadas. Os centros de pesquisas da Rússia estão entre os mais capazes do mundo. Além disso, ao longo de várias décadas as empresas que hoje compõem a UAC somaram amplo conhecimento em materiais aeronáuticos, incluindo uso de titânio e ligas metálicas avançadas. Por outro lado, existe a falta de recursos para desenvolver grandes projetos, especialmente pela UAC estar na época comprometida com o MS-21, que exigiu vultuosos investimentos.

A aliança com a Comac deveria permitir crédito financeiro e acesso ao mercado chinês. Já os chineses esperavam solucionar dois problemas importantes. O primeiro acessar importantes capacidades de desenvolvimento, em especial em materiais e aerodinâmica, assim como integração de sistemas de navegação. A China ainda esperava atuar e forma ativa no desenvolvimento do motor do avião, que deverá ser o Aviadvigatel PD-35. Uma das maiores dificuldades chinesas está em obter conhecimento profundo no projeto e construção de motores aeronáuticos complexos. Embora o país tenha alguns projetos locais, todos são derivados de motores de origem soviética.

Outro ponto importante, a parceria com a UAC possivelmente facilitaria qualquer acordo com fornecedores ocidentais, visto o receio dos Estados Unidos e da União Europeia de Pequim ter acesso a sistemas complexos e que pudessem no futuro serem usados nos programas militares chineses.

O maior entrave está no lado comercial, a Comac deseja ser responsável por todas as vendas no mercado chinês, deixando de fora os parceiros da UAC, que teria direito de vendas no mercado russo. A divisão do potencial mercado global, por ora, parece não ter sido discutido, visto que o objetivo principal é atender as necessidades da aviação comercial da China. O governo de Pequim tem declarado que tem intenção de obter um terço do próprio mercado, que poderá representar ao menos 5.000 aviões nos próximos 20 anos, entre modelos de média e grande capacidade. A visão chinesa é que a parceria é estritamente industrial, por tanto, a Comac deverá ser responsável por todos os negócios internos no país. Os russos sabem do pequeno potencial do mercado interno, que não deverá superar os 150 aviões da família CR929 em duas décadas.

“A Rússia espera ser paga por sua propriedade intelectual, e essa é a definição deles de uma joint venture. A China espera obter tecnologia em troca de acesso ao mercado e nada mais”, afirmou Richard Aboulafia , diretor da AeroDynamic Advisory a revista britânica Flight Global.

Os embargos contra a indústria aeroespacial russa poderão representar o fim do acordo, em especial caso os chineses tenham obtido acesso aos conhecimentos e tecnologias chaves do projeto.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 04/04/2022, às 17h55


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