Mesmo eficiente em nichos, o A319neo enfrenta concorrência interna e externa em uma aviação cada vez mais racional
Com mais de 18 mil pedidos acumulados, a família A320 tornou-se a mais vendida da história da aviação comercial, consolidando o domínio da Airbus no segmento de jatos narrowbody. O sucesso, impulsionado pelas versões A320neo e A321neo, contrasta com a demanda limitada pelo A319neo, cuja adoção permanece restrita a nichos operacionais específicos.
Apesar de fazer parte de uma família de aeronaves bem-sucedida, o Airbus A319neo tem enfrentado baixa aceitação no mercado. Com apenas 57 unidades encomendadas até o momento, segundo dados da Airbus, o modelo é uma exceção dentro de uma linha de enorme sucesso.
A família A320, liderada pelas versões A320neo e A321neo, já acumula mais de 18 mil pedidos, com destaque para o A321neo, que se aproxima de 7.000 unidades vendidas. O A320neo ultrapassou a marca de 4.000 encomendas, enquanto os modelos anteriores, A320 e A319, somaram cerca de 4.700 e 1.480 pedidos, respectivamente. Já o A319neo, versão atualizada do A319-100 com motores mais eficientes, não teve o mesmo apelo.
O problema está na proposta operacional do A319neo, que combina um menor custo de aquisição com dimensões reduzidas, mas limita a receita por voo devido à menor capacidade de assentos. Embora ofereça bom alcance e desempenho, o modelo é menos eficiente no custo por assento, fator determinante na atual lógica econômica das companhias aéreas.
Historicamente, o A319 era valorizado por seu alcance superior dentro da família A320, mesmo com menor eficiência por passageiro. Mas os avanços técnicos dos novos A320neo e A321neo, que agora oferecem maior alcance e desempenho, acabaram tornando redundante a proposta do A319neo. As versões maiores se tornaram mais versáteis e atraentes do ponto de vista financeiro.
Desenvolvido nos anos 1980, o Airbus A319 foi concebido em um cenário distinto da aviação comercial, marcado pela presença de rotas de média a baixa demanda. Segundo dados do Banco Mundial, cerca de 1,1 bilhão de passageiros foram transportados por via aérea em 1989. Em comparação, a demanda global atingiu um recorde histórico em 2024, com aproximadamente 4,7 bilhões de passageiros, o que representa um crescimento superior a quatro vezes em 35 anos.
Na época de seu lançamento, o A319 concorria diretamente com modelos como o Boeing 737-500, o Fokker 100 e o McDonnell Douglas MD-87, todos voltados a segmentos similares de capacidade e alcance.
Atualmente, o A319neo atende a nichos operacionais específicos, como voos em aeroportos de alta altitude ou pistas curtas. Empresas como China Southern, Tibet Airlines e Air China operam o modelo em rotas domésticas exigentes, como para Urumqi e Nyingchi, mas são casos pontuais. Algumas unidades foram adquiridas para uso governamental ou como jatos corporativos, mas sem volume comercial expressivo.
A Airbus reconhece a baixa demanda e afirma que o foco está no programa A320neo como um todo, e não em variantes isoladas. O A319neo foi uma derivação de baixo custo de desenvolvimento, com certificação realizada a partir de uma única aeronave de teste por tipo de motor. Ainda assim, a fabricante prioriza a venda do A321neo, o modelo mais caro e lucrativo da linha, cuja produção está esgotada por anos.
Além disso, o Airbus A220, incorporado ao portfólio após a parceria com a Bombardier, ocupa o mesmo espaço de mercado do A319neo, oferecendo maior eficiência de combustível e desempenho competitivo com menor peso estrutural. O A220-300 tem atraído companhias que antes operavam o A319.
Nos Estados Unidos, por exemplo, United Airlines, Delta e American Airlines têm substituído antigos A319 por aeronaves maiores e mais eficientes, como o 737 MAX 8 e o A321neo. O resultado é uma redução na demanda por narrowbodies menores, cujo custo operacional por passageiro se tornou pouco competitivo em uma realidade de elevada demanda de viagens aéreas.
Com isso, a proposta do A319neo perde relevância estratégica. Em um mercado onde eficiência operacional e receita por assento são critérios centrais, o modelo tornou-se uma escolha menos atrativa para a maioria das companhias aéreas globais.
Capacidade | Assentos (máximo) | 160 |
Assentos típicos (2 classes) | 120–150 | |
Capacidade de carga (LD3-45W) | 4 | |
Capacidade máxima de pallets | 4 | |
Volume de água | 32 | |
Desempenho | Alcance (km) | 6.850 |
Mmo (velocidade máxima) | 0.82 | |
Peso máximo em rampa (ton) | 75,90 | |
Peso máximo de decolagem (ton) | 75,50 | |
Peso máximo de pouso (ton) | 63,90 | |
Peso máximo sem combustível (ton) | 60,30 | |
Capacidade máxima de combustível (litros) | 26.730 | |
Dimensões | Comprimento total | 33,84 m |
Comprimento da cabine | 23,78 m | |
Largura da fuselagem | 3,95 m | |
Largura máxima da cabine | 3,70 m | |
Envergadura | 35,80 m | |
Altura | 11,76 m | |
Bitola | 7,59 m |
Por Marcel Cardoso
Publicado em 02/05/2025, às 08h25
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