Empresas aéreas discutem caminhos para emitir menos poluentes enquanto movimentos antiaéreos ganham força no mundo
Aviação comercial se reúne e discute questões de crescimento ambientalmente sustentável
Durante encontro em Genebra, na Suíça, o setor de transporte aéreo regular se comprometeu a avançar nos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (ONU). O objetivo é reduzir, em 2050, a emissão de poluentes pela metade do registrado em 2005. A meta é bastante ambiciosa, visto que a aviação deverá quase triplicar de tamanho no período.
Em reunião anual, a IATA (International Air transport Association) destacou a importância do crescimento sustentável para o setor de transporte aéreo. De acordo com a entidade, a aviação tem cumprido 15 das 17 metas dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
“A aviação desempenha um importante papel na conquista de 15 dos 17 [objetivos da ONU], indicando a relevância fundamental dessa indústria para enfrentar os desafios mais difíceis da humanidade”, disse Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da IATA. “A aviação não é o inimigo e, sim, o carbono. Precisamos buscar soluções e é que estamos fazendo isso”, disse o executivo, em resposta aos movimentos antiaéreos que ganham força no mundo.
Na última década, a aviação regular superou a meta de aumento de eficiência no consumo de combustível, com melhora anual de 2,3% desde 2009, ante o objetivo fixado de 1,5% ao ano. Parte da eficiência ocorre com a substituição de aeronaves mais antigas por modelos mais eficientes, inclusive aeronaves remotorizadas que podem ser até 25% mais econômicas que modelos similares de geração anterior.
De acordo com o economista-chefe da IATA, Brian Pierce, anualmente as empresas aéreas europeias estão discutindo o tema do clima em média seis vezes a cada chamada com investidores, ante uma média de duas vezes das companhias aéreas dos Estados Unidos. O debate em torno de questões ambientais se tornou uma realidade para o setor.
A aviação comercial obteve em seis décadas uma redução de 80% no consumo de combustível durante a chamada era do jato. Aeronaves atuais, como os Airbus A350 XWB, Boeing 787 Dreamliner e Embraer E-Jet E2, consomem aproximadamente 25% menos combustível que seus antecessores, que já eram mais eficientes que qualquer avião do início da década de 1960.
A IATA ainda tem trabalhado junto a autoridades europeias para suportar uma mudança consistente no uso de combustíveis renováveis e menos poluentes. A associação solicitou que à União Europeia que apoie uma ampla transição energética para combustíveis sustentáveis da aviação (SAF, na sigla em inglês) como parte do 'Acordo Verde' do bloco.
Entre as propostas apresentadas está em um incentivo fiscal em relação ao SAF, que poderá se tornar mais atraente para as empresas caso custe menos. Desde a certificação inicial dos combustíveis tipo SAF, em 2009, mais de 215.000 voos decolaram da Europa abastecidos com este tipo de combustível, geralmente misturados ao Querosene de Aviação (QAv). O setor aéreo acredita que até 2025 poderá alcançar a meta do SAF representar 2% de todos os abastecimentos da aviação regular. O número, embora modesto, é tido como o mínimo para tornar esse tipo de combustível viável no médio prazo. A maior barreira para uso de SAF em larga escala é sua produção, visto que apenas 14 instalações no mundo são certificadas e capazes de produzir combustíveis renováveis para aviação.
A entidade também aposta no incremento dos sistemas de tráfego aéreo, com adoção de rotas mais diretas. Atuando na adoção de novas tecnologias e na melhor coordenação de voos em terminais críticas, é possível reduzir o consumo total de combustível das aeronaves. Outra solução que vem recebendo investimentos é o uso de eletricidade para impulsionar os motores aeronáuticos. O desafio ainda é grande, porque o armazenamento de energia elétrica em baterias cria um impasse para os projetistas. Eles ficam divididos entre a necessidade de potência e o peso e o tamanho das baterias. Por isso, a meta é criar projetos com alcance suficiente para cumprir boa parte das rotas hoje operadas por grandes jatos. Por fim, há a questão do uso de plástico sobretudo nos serviços de bordo das aeronaves, um tema que vai além da própria aviação.
Por Giuliano Agmont, de Genebra
Publicado em 12/12/2019, às 10h00 - Atualizado às 10h31
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