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Inclusão estratégica

EUA vão incluir estudo sobre corpo feminino no projeto de aeronaves

Conceito utilizado atualmente afasta quase 90% das mulheres do cockpit dos aviões


Cockpit dos aviões não foram projetados considerando o biotipo feminino

A força aérea dos Estados Unidos (USAF) deverá rever como especifica o projeto de suas aeronaves, com o objetivo de ampliar o número de pilotos aptos a operarem suas aeronaves, especialmente mulheres.

O tema que para muitos pode parecer apenas politicamente correto é uma questão de estratégia diante da realidade futura. A totalidade das aeronaves militares produzidas nos Estados Unidos foram concebidas baseadas em dados antropométricos de 1967, utilizando como base da pesquisa apenas um grupo específico de homens.

Assim, o estudo que é a referência no projeto de aviões - caças, cargueiros, bombardeiros, entre outros - não considera a ampla variedade de biotipos existentes na sociedade norte-americana. Baseado nos dados da pesquisa de 1967, a USAF automaticamente exclui o perfil biológico de 44% da população feminina dos Estados Unidos, 74% dos afro-americanos, 72% dos latino-americanos e 61% dos descentes de asiáticos.

Dessa forma, mulheres, por exemplo, tendem a ser eliminadas no processo seletivo para algumas aeronaves apenas por não terem o biótipo adequado. A USAF afirma que o caça F-15 Eagle atualmente acomoda apenas 8,9% das mulheres norte-americanas, ou seja, a cada dez candidatas a pilotar o avião, apenas 1,1 tem o corpo adequado para poder operar o caça. Isso quer dizer que independente das capacidades intelectuais ou de pilotagem, o perfil biológico é o que define quem poderá sentar no cockpit de uma aeronave militar.

“Com a aceleração das tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, detecção ubíqua e autônoma, reescrever o Poder Aéreo para todas as nações, não apenas os Estados Unidos são fundamentais para superar desafios sem precedentes no campo de batalha”, Dr. Will Roper, assistente secretário da USAF para aquisição, tecnologia e logística.

As aeronaves são projetadas sem considerar que muitos possuem um tronco mais longo ou mais curto, membros mais compridos ou não, altura dos olhos diferente do modelo padrão de 1967, entre centenas de outros aspectos. O modelo adotado pelos Estados Unidos gera impacto em todo o mundo, visto que grande parte de suas aeronaves de combate são exportadas para países aliados, incluindo o Brasil.

O Memorando de Orientação da Força Aérea publicado no último dia 4 de agosto estabelece que todos os gerentes de programas aeronáuticos trabalhem para usar como referência 95% do tamanho do corpo da população de recrutas. Isso deverá ajudar a definir especificações de projeto para novas aeronaves. O memorando não quer apenas resolver a situação para futuros pilotos, mas também para equipes que trabalham diretamente nas aeronaves, como loadmaster (responsável por manejar a carga em aviões de transporte) e mecânicos.

Mulheres são eliminadas na fase de seleção apenas por não atenderem aos requisitos físicos usados nos projetos de aviões

Um dos problemas atuais é que pelo padrão antropométrico de 1967 apenas uma pequena parcela da população, incluindo homens, são aptos a pilotar as aeronaves da força aérea. Em um confronto com a China, por exemplo, haveria a necessidade de contar com um número maior de pilotos, o que hoje não seria possível. “Garantir o máximo [aproveitamento] da nossa população de recrutamento pode ser um fator decisivo que quase dobra nossas chances”, aponta o Dr. Roper.

A reavaliação dos protocolos leva em consideração um relatório de 2018 produzido pelo Centro de Saúde Nacional de Controle de Doenças. O documento mostrou que nos últimos vinte anos o peso corporal médio, altura, circunferência da cintura e índice de massa corporal entre adultos dos Estados Unidos é bastante diferente dos dados da década de 1960.

“Este estudo finalmente proporcionará a oportunidade de criar uma força mais forte e capaz, utilizando os pontos fortes de uma equipe diversificada e representativa”, disse Chris Dawson, gerente de campo de carreira da Guarda Aérea Nacional, um dos braços da força aérea norte-americana.

Embora o F-35 conte com projeto mais inclusivo, aeronaves de treinamento continuam com conceito dos anos 1960

“Esta política é um grande sinal de progresso e será fundamental para mudar o futuro”, disse Cathyrine Armandie, tenente coronel chefe do Comando de Educação e Treinamento Aéreo. “É incrivelmente gratificante trabalhar com uma equipe que está promovendo oportunidades para os atuais aviadores e para as gerações futuras”.

Novos caças, como o F-35, foram projetados prevendo um maior número de perfis corporais, mas ainda assim poucas mulheres se tornam aptas a pilotar o mais avançado caça dos Estados Unidos. Um dos motivos é que os aviões de treinamento T-38 Talon, utilizado desde a instrução inicial, é um projeto dos anos 1960, tornando a primeira barreira para futuras aviadoras. Os futuros treinadores T-7 Red Hawk, que vão substituir os Talon, estão sendo projetados levando em consideração as diferenças antropométricas da sociedade atual.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 27/08/2020, às 09h00 - Atualizado às 10h28


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