Equilíbrio financeiro, confiabilidade de operações e IA moldam o futuro do setor de aviação comercial

A aviação comercial entra em 2025 com crescimento da demanda em várias rotas, porém ainda distante de um ambiente plenamente estável e confortável. O setor opera com tarifas elevadas, pressão persistente de custos — especialmente combustível, manutenção e folha — e um ambiente macro que combina juros altos, câmbio volátil e instabilidade geopolítica.
No Brasil, embora haja sinais de retomada em alguns segmentos — como corporativo e rotas regionais — o quadro financeiro segue frágil, com margens comprimidas, o que evidencia um mercado dependente de eficiência e disciplina para evitar um novo ciclo de deterioração.
Esse cenário se reflete nos dados do estudo 2025 Airline CEO Survey, da Deloitte, que ouviu 32 CEO globais, incluindo o Brasil. O estudo mostra que, pressionadas por custos e por um ambiente ainda incerto, as companhias aéreas priorizam confiabilidade operacional (citada por 66% dos executivos) e controle de custos (63%) como guias da agenda estratégica dos próximos 12 meses — movimento alinhado ao que os resultados financeiros de players brasileiros já demonstram: crescimento da receita com disciplina de caixa e obsessão por eficiência.
Na prática, os CEO apontam que devem direcionar recursos para assegurar pontualidade de voos, excelência na manutenção e capacidade de recuperação rápida de operações em situações de crise.
Mais da metade afirma estar investindo em processos e tecnologia para reduzir o impacto de interrupções e otimizar a alocação de tripulação e frota, mirando previsibilidade operacional — ativo central em um mercado em que a menor falha gera interrupção em cascata, custo e perda de receita.
Ao mesmo tempo, a transformação digital deixa de ser discurso e migra para o orçamento. Análise avançada de dados é a frente de investimento mais citada para os próximos 12 meses (63%), seguida por inteligência artificial, vista como transformadora no horizonte de três anos principalmente em gestão de receita e precificação dinâmica (56%), manutenção preditiva e confiabilidade da frota (53%) e atendimento ao cliente e recuperação operacional (47%).
Na experiência do passageiro, a digitalização domina a agenda, com prioridade para soluções móveis, ganho de confiabilidade operacional na jornada e aperfeiçoamento de produtos de bordo e programas de fidelidade.
O estudo aponta ainda um ponto de inflexão: soluções NDC - padrão tecnológico que redesenha a forma como as companhias aéreas distribuem e vendem seus produtos nos canais digitais - e pedido aberto escalam entre as três maiores áreas de investimento, sinalizando que o setor não apenas planeja, mas já financia a reinvenção de varejo digital — empacotando, personalizando e vendendo produtos com lógica de retail moderno, otimizando estoque e receita.
Adicionalmente, o relatório revela que além da tecnologia, liderança, sucessão, engajamento e bem-estar dos colaboradores se consolidam como alavancas de resiliência organizacional, citadas por cerca de metade dos CEOs como fator crítico para estabilidade e entrega consistente.
Na pauta climática, o setor avança com pragmatismo. Embora não lidere a urgência de curto prazo, 80% dos executivos classificam o combustível sustentável de aviação (SAF) como chave para cumprir metas ambientais, seguidos por otimização de rotas e do consumo (63%), incorporando sustentabilidade como extensão da eficiência. Medidas como compensação de carbono aparecem marginalmente (13%), e investimentos em tecnologias de longo prazo como propulsão elétrica ou captura de carbono são raros (10%), refletindo um horizonte ainda incerto de retorno.
Diante desse cenário, o setor de aviação comercial precisa reforçar a disciplina financeira, a confiabilidade operacional e a aposta em digitalização e inteligência artificial como fundamentos indispensáveis para superar as incertezas do ambiente global e nacional.
No Brasil e no mundo, o crescimento sustentável depende da capacidade das empresas de transformar eficiência em escala, investindo não apenas em tecnologia, mas também em pessoas, processos e modelos de negócio inovadores. É essa combinação estratégica que permitirá ao setor capturar oportunidades, impulsionar resultados e construir um futuro mais resiliente e competitivo para toda a cadeia da aviação.
*Paulo de Tarso, líder da indústria de Consumo da Deloitte
Por Paulo de Tarso*
Publicado em 09/12/2025, às 16h00
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