A história da Pratt & Whitney soma quase um século e acumula uma série de motores lendários e saltos tecnológicos
Criada há quase 100 anos, a Pratt & Whitney se destaca por sua trajetória marcada por inovações tecnológicas, contribuições significativas para a aviação global e alguns desafios que desafiaram a tecnologia do seu tempo. Ao longo de quase dez décadas a empresa passou por diversas fases e atualmente seus motores atendem quase todos os segmentos da indústria aeroespacial.
Em 1925, Frederick B. Rentschler, pioneiro no projeto de motor radial refrigerado a ar, criou a Pratt & Whitney. Seu propulsor permitiu uma relação potência-peso sem precedentes, ao eliminar grande parte do pesado e complexo sistema de refrigeração a água. Seu primeiro motor, o R-1340 Wasp, transformou a aviação militar e comercial, sendo usado, por exemplo, nos T-6 Texan e no helicóptero Sikosrky H-19. Em 1928, sua divisão canadense foi fundada e se destacou por diversos projetos importantes.
Além do pioneiro R-1340 Wasp, um motor radial de nove cilindros e 420 hp, foram desenvolvidos nos anos pré-Segunda Guerra o R-1830 Twin Wasp, com configuração para catorze cilindros em dupla fileira e potência entre 800 a 1.200 hp; o R-1690 Hornet, de nove cilindros e 525 hp; o R-2800 Double Wasp, com 1.200 hp; o R-985 Wasp Junior, com cerca de 300 hp; e o impressionante R-4360 Wasp Major com 28 cilindros, em um conjunto de quatro radiais, que rendiam até 4.300 hp.
Essa série de motores foi popular entre os anos 1930 e 1940, equipando uma série de aviões como o Douglas DC-3, Consolidated B-24 Liberator, Boeing P-26 Peashooter, o North American P-47 Thunderbolt, o Grumman F6F Hellcat, o Beechcraft Model 18, o Convair B-36 e Boeing B-50 Superfortress.
Em meados de 1945, a produção da Pratt & Whitney durante a Guerra somou mais de 300.000 motores. Ainda assim, haviam sinais que a tecnologia existente estava chegando ao fim. O aumento da potência exigia motores cada vez maiores, mais complexos e pouco confiáveis. O R-4360 Wasp Major marcou o ápice e o limite dos motores a pistão e mostrou ser a fronteira final para os grandes radiais. Assim, em 1944, a Pratt & Whitney iniciou estudos para a produção de um motor a reação, algo ainda incipiente naquele momento
A empresa construiu um túnel de vento, um laboratório e um centro de engenharia para apoiar os esforços dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
No pós-guerra a Pratt & Whitney passou a trabalhar em motores a reação, onde obteve grande destaque com as famílias de propulsores militares e civis, sobretudo a série Pratt & Whitney J57 (JT3C), utilizado nos B-52, KC-135, 707, DC-8, F-4D, F-8, F-100 e F-101.
Mais tarde, o motor Pratt & Whitney JT9D se tornou o primeiro motor de elevada taxa de diluição (by pass ratio) a ser utilizado em um avião de fuselagem larga, sendo escolhido para impulsionar os primeiros 747-100, inclusive o protótipo. Diversas variantes do motor foram criadas, sendo utilizados ainda nos Airbus A330 e A310, McDonnell Douglas DC-10 e no Boeing 767.
Mais tarde, o JT9D foi a base de desenvolvimento para o PW4000, empregado nos Boeing 767, 777, 747-400 e KC-46; Airbus A330 e no McDonnell Douglas MD-11.
Um dos marcos mais recentes da Pratt & Whitney é série PW1000G, reconhecida por sua tecnologia que emprega uma caixa de redução no fan. A tecnologia permite reduzir o consumo de combustível e o ruído gerado. Contudo, o motor se mostrou bastante complexo durante seu desenvolvimento e apresentou uma série de problemas durante a campanha de ensaios, e posteriormente nos voos comerciais.
Ainda assim, sua grande eficiência no consumo e considerável redução na emissão de ruído e poluentes, levou o PW1000G ser escolhido para equipar o então C-Series (atual A220), assim como o Embraer E-Jet E2, enquanto a variante PW1100G-JM foi selecionada para família Airbus A320neo.
No segmento militar um dos destaques mais recente é o motor F135-PW-100, usado nos caças F-35 Lightning II. A variante F135-PW-600, destinada ao F-35B, que oferece capacidade de decolagem curta e pouso vertical (STOVL, na sigla em inglês) acopla o núcleo principal do motor de sustentação (lift fan) de dois estágios, através de uma caixa de redução e um eixo central. Além disso, dois dutos de controle de rolagem sangram ar do núcleo do motor, enquanto o bocal de escape pode girar 90 graus, direcionando o jato de ar para baixo. A solução para complexo sistema de funcionamento do F135-PW-600 foi um dos mais desafiadores do programa F-35.
O F135 é derivado direto do também sofisticado Pratt & Whitney F119 criado para o F-22 Raptor, que conta com empuxo vetorado, sendo capaz de direcionar em +/- 20 graus o fluxo de ar e melhoras a manobrabilidade do caça.
A Pratt & Whitney Canada (PWC) é a divisão canadense, que se tornou notória principalmente por seus motores destinados a aviação geral e de negócios. O mais famoso deles, o lendário turboélice PT6 foi desenvolvido no final dos anos 1950 e realizou seu primeiro acionamento em 1960. De construção relativamente simples e com arquitetura flexível, ao longo de 63 anos o PT6 permitiu uma série de melhorias e evoluções, sendo utilizado em uma infinidade de aeronaves, como no Embraer Super Tucano, Beechcraft King Air, Cessna Caravan, Pilatus PC-12 e o helicóptero Leonardo AW139.
Além disso, a PWC ainda se destaca entre os motores a jato, como a série PW800, que compartilha o mesmo núcleo com o PW1000G e foi construído para equipar os Gulfstream G500 e G600. Sua potência máxima pode chegar aos 20.000 lbf. No lado oposto, os PW600 foram desenvolvidos para os jatos super leves Eclipse 500, Cessna Citation Mustang e Embraer Phenom 100, contando com até 1.615 lbf.
Atualmente a Pratt & A Whitney possui mais de 85.000 motores em serviço e mais de 16.000 clientes em todo o mundo.
Por Marcel Cardoso e Edmundo Ubiratan
Publicado em 27/12/2023, às 11h00