Boeing 757-200 da Honeywell se transformou em uma sofisticada e complexa plataforma e bancada de testes em voo
Normalmente, os principais fabricantes do setor aeroespacial contam com plataformas de testes para seus projetos, desde antenas de comunicação até motores. Geralmente, os aviões são adaptados para servir como grandes bancos de provas, avaliando conceitos, desempenho e características dos projetos.
Neste contexto, a Honeywell adquiriu um Boeing 757-200 para avaliar seus motores dedicados à aviação de negócios, desde jatos até turboélices. Ao contrário da maioria dos grandes fabricantes, que são especializados em segmentos específicos, a Honeywell se destaca por atuar em diversos segmentos do setor aeroespacial, desde motores até suítes de aviônicos, passando por sistemas elétricos, de frenagem, comunicação via satélite, entre outros.
Porém, para um melhor aproveitamento do avião, os engenheiros e executivos perceberam o potencial de uma abordagem mais universal, utilizando o 757 como uma plataforma ampla de testes.
"[O 757] foi adquirido especificamente para testes de motores, mas, para tornar a aeronave mais viável, transformamo-la em um Generic Flying Testbed. Isso a torna mais viável e eficaz para nós", explica Joe Duval, diretor de operações de teste de voo da Honeywell Aerospace.
Anteriormente, o fabricante utilizava um veterano Boeing 720, a versão curta e de maior alcance do 707, como plataforma de ensaios de motores. Com a necessidade de substituir o avião, devido à sua idade avançada e ao surgimento de novas tecnologias que demandavam maior desempenho e uma cabine ampla, o 757 foi escolhido por suas boas características gerais.
Nos anos 1970, quando a Boeing começou a estudar um substituto para o 727, uma das vantagens da proposta para o que viria a ser o 757 era sua alta tecnologia embarcada e uso de materiais avançados, combinados com uma fuselagem ampla e excelente desempenho em cruzeiro. Além disso, o avião prometia capacidade de operar em aeroportos médios e com menor infraestrutura. Ao voar pela primeira vez em fevereiro de 1982, o 757 comprovou suas qualidades e tornou-se um substituto natural para o 727 e, em alguns casos, para o 707 e o 720.
"Passamos por um processo de vários anos avaliando diversos tipos de aeronaves antes de escolher o Boieng 757. Seu desempenho e tamanho se destacaram e ele provou ser um excelente banco de testes", disse Duval.
Entre os argumentos em favor do 757 como avião de testes estavam seu desempenho, tamanho, capacidade, o número de aeronaves em serviço, entre outros.
Se não foi surpresa a escolha do 757-200 como avião de testes, a abordagem de uma plataforma de ensaios genérica ainda é bastante incomum. Para isso, os engenheiros tiveram que instalar um complexo sistema de coleta de dados capaz de receber entradas de uma ampla variedade de projetos.
Todavia, embora seja bastante flexível, permitindo que os engenheiros usem o avião para uma infinidade de ensaios, é raro que ele realize dois testes distintos simultaneamente. Entre os motivos estão as exigências de cada projeto, que não necessariamente são compatíveis com um ensaio conjunto.
"Alguns testes simplesmente não funcionam bem juntos, como a necessidade de voar perto ou em mau tempo para sistemas de radares meteorológicos aerotransportados, ao mesmo tempo em que se encontra ar seco e suave para um teste de motor", explica Duval.
Ainda assim, alguns ensaios podem ser acompanhados por mais de um projeto, sendo comuns em situações de avaliação de sistemas ou demonstração de capacidades. Um teste de motor pode ser realizado em paralelo às coletas de dados de comunicação via satélite ou de aviônicos, por exemplo. "O teste não é mutuamente exclusivo e podemos testar vários programas simultaneamente. Gerenciar isso consiste principalmente em identificar e concordar com o objetivo principal do voo daquele dia, enquanto os outros concordam em essencialmente 'acompanhar' esse voo", detalha Duval.
Atualmente, o 757 da Honeywell realizou a certificação de diversos motores, como o HTF7250, usado no Gulfstream G280, que foi o primeiro a ser validado com dados de ensaios do avião. Além disso, foram testados e certificados sistemas de comunicação de datalink, sistemas de comunicação via satélite, de gerenciamento de voo, assim como o primeiro sistema JetWave (Ka SATCOM).
Por ser um avião de testes, o 757 da Honeywell recebeu uma série de tecnologias, muitas exclusivas no modelo, como o radar meteorológico IntuVue RDR4000, sistema de gerenciamento de voo Pegasus II, unidade de exibição de controle multifuncional LCD colorida (MCDU), unidade de gerenciamento de comunicação MKII+ para controlador piloto datalink (CPDLC), recurso SmartRunway/SmartLanding através do Sistema de Alerta de Proximidade do Solo Aprimorado MKVA (EGPWS), comunicação por satélite de banda larga de alta velocidade JetWave, serviços de segurança, comunicação via satélite Aspire 400 L-Band (Inmarsat) e Aspire 350 L-Band (Iridium), entre outros. Além de aumentar a segurança e as capacidades do 757, a instalação de um amplo pacote de recursos permite validar de forma operacional uma série de requisitos de pós-certificação, acompanhando de perto seu funcionamento em uma operação cotidiana.
O 757 para cumprir sua missão de ensaios em voo ganhou um pilone universal, instalado do lado direito da fuselagem, capaz de receber diversos tipos de motores, como um turbofan ou turboélice, além de sistemas diversos que tenham até 8.000 lb (3.628 quilos) de peso suspenso e 16.500 lbf de empuxo.
Além disso, o grande envelope operacional do 757, que oferece alcance de aproximadamente 4.000 nm (7.400 quilômetros), voando até 45.000 pés de altitude, com velocidade de até 350 KIAS/0,86M, torna o modelo ideal para uma ampla variedade de testes.
Por fim, embora seja essencialmente um 757-200, como o utilizado por dezenas de companhias aéreas, por cumprir um tipo especial de missão os pilotos são especializados em voos de ensaios, o que exige uma formação adicional e ampla experiência. Além disso, a Honeywell, como muitos fabricantes, tem sua equipe de pilotos habilitada para uma ampla variedade de modelos, como o Gulfstream G550, King Air, além do próprio 757.
"O teste de voo é uma cultura diferente das operações de voos corporativos, que são diferentes das operações das companhias aéreas. Procuramos pilotos que queiram estar presentes no desenvolvimento das mais recentes tecnologias", conclui Duval.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 14/06/2023, às 16h00
+lidas