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Demorou, mas foi preso

Sequestrador é preso após 34 anos do caso do voo TWA 847

Avião foi sequestrado em 1985 durante viagem entre o Cairo e San Diego


Passageiros do Boeing 727 permaneceram por 17 dias nas maõs dos sequestradores

As autoridades gregas prenderam um homem acusado de ser responsável pelo sequestro de um avião em 1985. O homem de 65 anos e origem libanesa havia desembarcado de um navio de cruzeiro na ilha de Mykonos, quando as autoridades verificaram se tratar de um foragido da justiça alemã.

Segundo a agência de notícias Reuters, o homem também era procurado por outro sequestro em 1987. Sem confirmação, é possível que o criminoso tenha negociado sua libertação em troca de dois cidadãos alemães mantidos reféns no Líbano. Em 2005, a Alemanha teria trocado dois prisioneiros libaneses por dois cidadãos alemães que estavam sob custódia de um grupo terrorista, possivelmente o Hezbollah, em Beirute. Entretanto, as autoridades da Alemanha negam que tenha existido qualquer acordo do tipo. A polícia grega afirmou que o suspeito está em uma prisão de segurança máxima até que autoridades alemãs o identifiquem como a pessoa que procuram.

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17 DIAS DE SEQUESTRO 

O sequestro do voo 847 da TWA teve início em 14 de junho de 1985. Na ocasião a TWA era uma das principais empresas aéreas dos Estados Unidos e voava uma série de linhas internacionais de longo curso, como o voo 847, que tinha origem no Cairo, no Egito, e destino na cidade de San Diego, na Califórnia. O longo voo tinha escalas em Atenas (Grécia), Roma (Itália), Boston e Los Angeles (ambos nos Estados Unidos).

No dia 14 de junho o Boeing 727-200 da TWA, matricula N64339, havia decolado de Atenas para Roma com 153 passageiros, quando um grupo anunciou o sequestro, exigindo que a aeronave voasse para Beirute, no Líbano.

Na época Beirute estava dividida entre diversas milícias cristãs e muçulmanas que haviam herdado a cidade após a Guerra Civil do Líbano, sendo um destino comum para sequestradores. Sem uma autoridade efetiva o país era um porto seguro para sequestradores e grupos terroristas, que não tinham grandes dificuldades em obter com sucesso suas exigências. O aeroporto internacional de Beirute está localizado em uma região que na época era controlada pelos grupos Amal e Hezbollah. A guerra civil havia destruído grande parte da infraestrutura e segurança do aeroporto, que não contava com cercas ou sistemas de segurança, permitindo que milicianos e terroristas tivessem livre transito em todo perímetro aeroportuário.

Ainda assim, o controle libanês a princípio não autorizou o avião ingressar em seu espaço aéreo, mas o piloto John L. Testrake informou que os sequestradores tinham uma granada e ameaçavam explodir o avião.

Reprodução do jornal O Estado de São Paulo mostra repercusão do caso ao redor do mundo

Na cidade o grupo exigiu a libertação imediata de 700 prisioneiros xiitas libaneses que estavam em Israel. Em troca de combustível os sequestradores libertaram 19 passageiros, para em seguida exigir que o avião voasse para Algiers, a capital da Argélia. O voo sobre o norte da África ocorria enquanto as autoridades de diversos países trabalhavam para conter o sequestro. Após pousar no aeroporto de Houari Boumediene, os sequestradores exigiram um novo reabastecimento, em troca de vinte passageiros. A longa negociação levou cinco horas, até o avião voltar a voar em direção a Beirute. Durante todo o voo o grupo agrediu fisicamente todos os passageiros mantendo agressões constantes até após o pouso. Com a recusa da libertação dos prisioneiros por parte de Israel, o grupo selecionou aleatoriamente alguns passageiros, mas ao descobrirem a presença de um mergulhador da marinha dos Estados Unidos, o jovem Robert Stethem. Após o espancarem a bordo, atiraram na têmpora direita e jogaram seu corpo no pátio do aeroporto, onde efetuaram novos disparos.

Ao longo da negociação selecionaram mais sete passageiros de origem norte-americana, cujo sobrenome soava judeu e entregaram para um grupo terrorista xiita que controlava uma prisão em Beirute. Imediatamente a Marinha dos Estados Unidos deslocou o destroier USS Stethem para o Líbano.

Cantor grego Demis Roussos era um dos passageiros do voo TWA 847

Enquanto negociavam os termos do acordo auase uma dúzia de homens fortemente armados se juntou aos sequestradores antes que o avião retornasse a Argélia no dia seguinte. No dia 15 de junho 65 passageiros e todas as cinco comissárias foram libertadas. Entre os passageiros estavam 15 gregos, incluindo o cantor Demis Roussos. A libertação foi possível após a Grécia concordar em soltar o terrorista Ali Atwa, preso no país. O plano após reabastecer era voar para Teerã, no Irã, mas em voo decidiram retornar novamente para Beirute, onde fariam o terceiro pouso em dois dias. Na tarde do dia 17 de junho os 40 reféns restantes foram retirados do avião pelo Hezbollah e levado para um cativeiro na cidade, apenas um refém foi solto após apresentar problemas cardíacos. Ao longo da semana o governo dos Estados Unidos negociava a libertação dos 39 reféns, incluindo os pilotos. Apena no dia 30 o grupo terrorista aceitou levar os reféns até uma escola local, onde foram soltos. O grupo deu uma breve entrevista com os jornalistas internacionais e foram levados para um hospital da Cruz Vermelha, na Síria. Dias depois puderam participar de uma coletiva de imprensa, ainda em Damasco, quando foram finalmente levados para um C-141 Starlifter da força aérea dos Estados Unidos. O pouso na base aérea de Rhein-Main, na Alemanha, marcou o fim do sequestro para os 39 reféns, que foram recebidos pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, George HW Bush.

O acordo para libertação jamais foi divulgado, mas, semanas depois Israel libertou 700 prisioneiros libaneses, afirmando não haver qualquer relação com o sequestro do voo TWA 847.

Segundo o FBI, pelo menos quatro pessoas iniciaram o sequestro do TWA 847. O libanês Mohammed Ali Hamadei, que foi preso na Alemanha, em 1987 e após sua libertação em 2005 retornou a Beirute. O extremista Imad Mughniyeh foi morto durante um atentado em Damasco, em 2008. Os outros dois sequestradores Hassan Izz-Al-Din e Ali Atwa permaneceram soltos.

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Por Edmundo Ubiratan | Fotos: Divulgação
Publicado em 25/09/2019, às 15h00 - Atualizado às 18h39


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