Avião foi sequestrado em 1985 durante viagem entre o Cairo e San Diego
As autoridades gregas prenderam um homem acusado de ser responsável pelo sequestro de um avião em 1985. O homem de 65 anos e origem libanesa havia desembarcado de um navio de cruzeiro na ilha de Mykonos, quando as autoridades verificaram se tratar de um foragido da justiça alemã.
Segundo a agência de notícias Reuters, o homem também era procurado por outro sequestro em 1987. Sem confirmação, é possível que o criminoso tenha negociado sua libertação em troca de dois cidadãos alemães mantidos reféns no Líbano. Em 2005, a Alemanha teria trocado dois prisioneiros libaneses por dois cidadãos alemães que estavam sob custódia de um grupo terrorista, possivelmente o Hezbollah, em Beirute. Entretanto, as autoridades da Alemanha negam que tenha existido qualquer acordo do tipo. A polícia grega afirmou que o suspeito está em uma prisão de segurança máxima até que autoridades alemãs o identifiquem como a pessoa que procuram.
O sequestro do voo 847 da TWA teve início em 14 de junho de 1985. Na ocasião a TWA era uma das principais empresas aéreas dos Estados Unidos e voava uma série de linhas internacionais de longo curso, como o voo 847, que tinha origem no Cairo, no Egito, e destino na cidade de San Diego, na Califórnia. O longo voo tinha escalas em Atenas (Grécia), Roma (Itália), Boston e Los Angeles (ambos nos Estados Unidos).
No dia 14 de junho o Boeing 727-200 da TWA, matricula N64339, havia decolado de Atenas para Roma com 153 passageiros, quando um grupo anunciou o sequestro, exigindo que a aeronave voasse para Beirute, no Líbano.
Na época Beirute estava dividida entre diversas milícias cristãs e muçulmanas que haviam herdado a cidade após a Guerra Civil do Líbano, sendo um destino comum para sequestradores. Sem uma autoridade efetiva o país era um porto seguro para sequestradores e grupos terroristas, que não tinham grandes dificuldades em obter com sucesso suas exigências. O aeroporto internacional de Beirute está localizado em uma região que na época era controlada pelos grupos Amal e Hezbollah. A guerra civil havia destruído grande parte da infraestrutura e segurança do aeroporto, que não contava com cercas ou sistemas de segurança, permitindo que milicianos e terroristas tivessem livre transito em todo perímetro aeroportuário.
Ainda assim, o controle libanês a princípio não autorizou o avião ingressar em seu espaço aéreo, mas o piloto John L. Testrake informou que os sequestradores tinham uma granada e ameaçavam explodir o avião.
Na cidade o grupo exigiu a libertação imediata de 700 prisioneiros xiitas libaneses que estavam em Israel. Em troca de combustível os sequestradores libertaram 19 passageiros, para em seguida exigir que o avião voasse para Algiers, a capital da Argélia. O voo sobre o norte da África ocorria enquanto as autoridades de diversos países trabalhavam para conter o sequestro. Após pousar no aeroporto de Houari Boumediene, os sequestradores exigiram um novo reabastecimento, em troca de vinte passageiros. A longa negociação levou cinco horas, até o avião voltar a voar em direção a Beirute. Durante todo o voo o grupo agrediu fisicamente todos os passageiros mantendo agressões constantes até após o pouso. Com a recusa da libertação dos prisioneiros por parte de Israel, o grupo selecionou aleatoriamente alguns passageiros, mas ao descobrirem a presença de um mergulhador da marinha dos Estados Unidos, o jovem Robert Stethem. Após o espancarem a bordo, atiraram na têmpora direita e jogaram seu corpo no pátio do aeroporto, onde efetuaram novos disparos.
Ao longo da negociação selecionaram mais sete passageiros de origem norte-americana, cujo sobrenome soava judeu e entregaram para um grupo terrorista xiita que controlava uma prisão em Beirute. Imediatamente a Marinha dos Estados Unidos deslocou o destroier USS Stethem para o Líbano.
Enquanto negociavam os termos do acordo auase uma dúzia de homens fortemente armados se juntou aos sequestradores antes que o avião retornasse a Argélia no dia seguinte. No dia 15 de junho 65 passageiros e todas as cinco comissárias foram libertadas. Entre os passageiros estavam 15 gregos, incluindo o cantor Demis Roussos. A libertação foi possível após a Grécia concordar em soltar o terrorista Ali Atwa, preso no país. O plano após reabastecer era voar para Teerã, no Irã, mas em voo decidiram retornar novamente para Beirute, onde fariam o terceiro pouso em dois dias. Na tarde do dia 17 de junho os 40 reféns restantes foram retirados do avião pelo Hezbollah e levado para um cativeiro na cidade, apenas um refém foi solto após apresentar problemas cardíacos. Ao longo da semana o governo dos Estados Unidos negociava a libertação dos 39 reféns, incluindo os pilotos. Apena no dia 30 o grupo terrorista aceitou levar os reféns até uma escola local, onde foram soltos. O grupo deu uma breve entrevista com os jornalistas internacionais e foram levados para um hospital da Cruz Vermelha, na Síria. Dias depois puderam participar de uma coletiva de imprensa, ainda em Damasco, quando foram finalmente levados para um C-141 Starlifter da força aérea dos Estados Unidos. O pouso na base aérea de Rhein-Main, na Alemanha, marcou o fim do sequestro para os 39 reféns, que foram recebidos pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, George HW Bush.
O acordo para libertação jamais foi divulgado, mas, semanas depois Israel libertou 700 prisioneiros libaneses, afirmando não haver qualquer relação com o sequestro do voo TWA 847.
Segundo o FBI, pelo menos quatro pessoas iniciaram o sequestro do TWA 847. O libanês Mohammed Ali Hamadei, que foi preso na Alemanha, em 1987 e após sua libertação em 2005 retornou a Beirute. O extremista Imad Mughniyeh foi morto durante um atentado em Damasco, em 2008. Os outros dois sequestradores Hassan Izz-Al-Din e Ali Atwa permaneceram soltos.
Por Edmundo Ubiratan | Fotos: Divulgação
Publicado em 25/09/2019, às 15h00 - Atualizado às 18h39
+lidas