Considerado uma lenda na aviação, Chuck Yeager teve uma carreira marcada por feitos inéditos
Duas lendas em uma foto, o piloto Chuck Yeager em frente ao primeiro avião a quebrar a barreira do som
O lendário piloto Charles Elwood "Chuck" Yeager, o primeiro a quebrar a barreira do som morreu nesta segunda-feira (7) aos 97 anos, nos Estados Unidos. Pioneiro no desenvolvimento de aeronaves a jato, o aviador manteve uma vida ativa até recentemente.
Ainda que seja lembrado por muitos por quebrar a barreira do som, em 1947, com o avião-foguete Bell X-1, Yeager teve uma longa e brilhante carreira na força aérea dos Estados Unidos. O aviador se alistou na então USAAF, força aérea do exército dos Estados Unidos, em 1941, logo que completou 18 anos, começando sua jornada como mecânico antes de se tornar cadete.
Meses depois foi enviado para a Europa, onde combateu a ainda temida força aérea alemã, voando os caças P-51 Mustang. Ainda que tenha sido abatido em sua oitava missão, Yeager conseguiu fugir e retornou a Inglaterra, onde estava baseado, retomando seu trabalho como piloto, onde obteve 11 vitórias confirmadas. Seus dois maiores feitos em combate foi ter sido ‘ás de um dia’, quando derrubou cinco aviões inimigos em uma única missão. Ainda assim, o aviador destacava que duas vitórias haviam sido obtidas sem disparar nenhum tiro. O primeiro o piloto alemão do Messerschmitt Bf 109 teria entrado em pânico quando se viu na linha de tiro do norte-americano, batendo o avião no seu ala (companheiro que voa no avião ao lado), os ambos caíram.
Outro feito marcante foi ter sido um dos primeiros pilotos a abater o caça a jato alemão Messerschmitt Me 262, que era o mais avançado avião em combate já no final da Guerra. Após o conflito retornou aos Estados Unidos, onde se casou em 1945. Mantendo sua carreira militar, Yeager foi enviado para o campo de testes Muroc Army Air Field, que posteriormente foi rebatizado como Edwards Air Force Base.
Localizado em uma região remota do deserto da Califórnia, a Edwards Air Force Base é berço dos mais importantes avanços na aviação ainda nos dias de hoje. O local é lendário no imaginário de pilotos, engenheiros aeronáuticos e entusiastas em todo o mundo, muito dessa fama se deve a Yeager.
Já em tempos de paz, mas dentro do cenário da Guerra Fria, Yeager cursou a graduação no Air Materiel Command Flight Performance School, uma das mais conceituadas escolas de treinamento de pilotos de teste do mundo. Mantendo uma discreta atuação nos primeiros meses na Califórnia, a vida do aviador mudou quando seu colega Chalmers "Slick" Goodlin, piloto civil, exigiu US$ 150.000 (aproximadamente US$ 1,6 milhão, em 2020) para pilotar o Bell X-1, que se tornaria o primeiro avião a romper a barreira do som.
Considerado um feito arriscado, que já havia custado a vida de diversos pilotos, a barreira do som era considerada a fronteira final da aviação no final dos anos 1940. Ciente dos riscos e dificuldades, Yeager aceitou voar pelo salário que recebia como militar. Um dia antes do voo, durante uma cavalgada com sua esposa pelos arredores da base aérea, Yeager caiu do cavalo e fraturou uma das costelas o que o impediria de voar. Ainda assim, escondeu o fato de seus superiores e no dia 14 de outubro de 1947, finalmente comprovou ser possível voar acima da velocidade do som. O Bell X-1 recebeu naquele dia o nome de batismo de Glamorous Glennis (glamorosa Glennis), em homenagem a sua esposa. Aliás, era a segunda aeronave a receber este nome, já que seu P-51 na Guerra também ostentava o batismo.
A Glamorous Glennis atingiu a marca de Mach 1,05 a uma altitude de 45.000 pés (13.700 m) sobre o Lago Seco Rogers no Deserto de Mojave. Na sequência uma série de novos voos superaram a barreira do som, mas apenas em junho de 1948 o feito se tornou público. Um dos temores dos militares era a informação chegar aos soviéticos, que haviam se tornado um potencial inimigo dos norte-americanos.
Ao longo dos anos Yeager quebrou uma série de recordes de velocidade e altitude, sempre superando seus colegas quando um deles obtinha uma marca melhor que a sua. Considerado um cowboy indomável, sua extrema capacidade técnica e de pilotagem não foi suficiente para ser um dos sete eleitos para o nascente programa espacial dos Estados Unidos. Sua personalidade era considerada difícil e inadequada para as necessidades espaciais, incluindo de propaganda, onde buscavam pilotos que pudessem mostrar a imagem de ‘bom moço’ e exemplo a ser seguido.
Ainda em sua longa carreira, onde se aposentou como General, Yeager ainda foi um dos primeiros pilotos dos Estados Unidos a voar o caça soviético MiG-15, que havia sido capturado após seu piloto fugir para a Coreia do Sul.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 08/12/2020, às 07h00 - Atualizado às 09h36
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