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Monojato na terra de Golias

Jatinho monomotor quer brigar com Embraer, Cessna e Honda

Stratos 716X faz uso de conceitos inovadores e promete revigorar o segmento dos VLJ


Design avançado, monomotor e materiais compostos são as virtudes apontadas pela Stratos para o seu 716

A quase desconhecida Stratus Aircraft tem planos ambiciosos para o mercado de aviação geral. O fabricante norte-americano pretende ingressar no seleto e bilionário mercado de jatos muitos leves, ou very light jets (VLJ), dominado por nomes consagrados como Embraer, Cessna e Honda Aircraft.

A Stratus trabalha no desenvolvimento do monojato 716X, a versão alongada do avião-conceito 714, mais conhecido do público. Ao contrátrio do Cirrus Vision, voltado para o mercado de aviação pessoal, o 716X pretende ser uma alternativa competitiva aos Phenom 100, Citation M2 e HondaJet.

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O fabricante de Redmond, no Oregon, pretende se tornar uma indústria voltada ao estrato de aeronaves certificadas. O objetivo é obter o certificado de tipo e começar a entregar o 716X em 2022. Até lá, a ideia é vender o avião como experimental, em forma de kit de montagem, para alavancar o projeto. O conceito não é novidade no setor aeronáutico.A Epic Aircraft viabilizou o desenvolvimento do E1000 apostando justamente em um kit experimental.

Na prática, o desenvolvimento do avião cumprirá duas etapas durante três anos. Na primeira, o 716X será oferecido para quem busca um avião a jato experimental. A segunda fase do projeto será justamente aquela que prevê a transformação da Stratus Aircraft em uma indústria voltada para aviões certificados.

Kits de montagem

Segundo a startup, a previsão é vender três kits por ano do 716X, abrindo caminho para captação de capital e atração de interesse por parte de investidores. Os fundos levantados nessa etapa financiariam o processo de certificação do avião, que tem potencial para revitalizar o mercado dos VLJ, acrônimo de Very Light Jets.

Considerado um demonstrador de conceito, o Stratos 714 obteve bons números durante os ensaios em voo

A Stratos já acumulou mais de 185 horas em pelo menos 130 voos de teste com o modelo 714, que está em fase avançada de desenvolvimento. O pequeno monojato atingiu 370 nós em altitudes de até 25 mil pés. O avião surgiu para atender ao mercado VLJ, que chegou a ser considerado uma tendência irreversível na década de 2000, mas logo se provou menos pujante do que o esperado.

Mercado VLJ

Da maior parte dos projetos VLJ, poucos vingaram. No início, o mercado projetado pelo pioneiro avião da Eclipse, que prometia um jato com preço inferior a um milhão de dólares, mostrou-se promissor. Pelo menos até se perceber que o entrave seria conseguir entregar um avião nessa faixa de preço.

No fim, o movimento criou condições para a entrada da Embraer no mercado de aviação de negócios com o Phenom 100 e o lançamento de modelos como Citation Mustang, da Cessna, que mais tarde ofereceu o Citation M2. Já a Cirrus, após vários atrasos, reviu o projeto de seu monojato antes de finalmente certificar o Vision, que passou a ser comercializado como um personal jet, um modelo de entrada na aviação a jato, antecedendo até mesmo os VLJ.

Stratos pretende ingressar no seleto grupo de jatos leves, competindo com rivais de peso como o HondaJet

A Stratos Aircraft pretende oferecer uma aeronave com capacidade intermediária entre o Vision e o Phenom 100, competindo, ainda, com turbo-hélices monomotores de alta performance, em especial as famílias TBM e Meridian. O projeto sofreu alguns ajustes conceituais, permitindo à Stratos lançar uma aeronave maior do que o 714, mirando o mercado de aeronaves certificadas.

Cabine mais longa

Baseado em feedbacks tanto de clientes atuais como do mercado em geral, a Stratos realizou uma revisão considerável de projeto, que envolveu uma nova fuselagem, dando origem ao 716X em substituição ao 714.  A cabine ficou 31 polegadas mais longa e duas polegadas mais larga. Com maior volume, foi possível instalar um interior com arranjo de club seat, com quatro assentos espelhados e outros dois voltados para a frente. Se o operador preferir, é possível adotar uma configuração padrão de seis assentos. Em ambos os casos contando com amplo espaço para bagagem na parte traseira da aeronave.

A cabine possui uma cross section superior até mesmo à do Phenom 100, porém, sem piso plano e espaço interno ligeiramente inferior ao do jato brasileiro. Outra mudança deverá ocorrer em relação à porta, que passa a ser integrada com a escada – evitando a solução de abertura convencional, com uma pequena escada retrátil. Apesar das modificações, o avião manterá as asas do 714, assim como preservará os motores Pratt & Whitney JT15D-5 de três mil libras-força de empuxo cada. O cockpit será equipado com a suíte de aviônicos experimentais da Garmin, o G3X e o GTN 750.

Construção e aerodinâmica

Enquanto o programa para o modelo certificado busca investidores, a Stratos já começa a trabalhar na venda de kits do 716X. Os proprietários serão auxiliados no processo de construção, que ocorrerá nas instalações da companhia. Estima-se que a montagem do avião leve cerca de seis meses, com duas mil e quinhentas horas de trabalho. O processo será conduzido em uma planta indústria de 41 mil pés quadrados, em Redmond, onde será possível construir 99% das peças da aeronave. Lá a Stratos Aircraft possui uma oficina especializada em materiais compostos e uma cabine de pintura completa.

O modelo certificado não deve se diferenciar demais da versão experimental, já que o design básico congelado atenderá a ambos os projetos. Segundo o fabricante, um software de Computational Fluid Dynamics (CFD) permitiu o desenvolvimento de uma aeronave capaz de voar em velocidades típicas da categoria VLJ, mas com qualidades de voo adequadas a 80 nós.

Aeronave conta com avançado projeto aerodinâmico, contando com pequena área frontal

O uso de complexos sistemas de computação tem sido uma realidade na aviação geral atual, especialmente entre empresas novatas. Na prática, as entrantes privilegiam o uso de materiais compostos. Além de mais resistente, o compósito reduz o peso, oferece maior número de possibilidades de soluções aerodinâmicas, incluindo as avançadas, e custo menor de manutenção.

Para enfrentar os desafios, a startup Stratos Aircraft dispõe de um conceito com mais de dez anos de estudos, em todos os segmentos, da propulsão à certificação, passando por modelos aerodinâmicos, materiais compostos e expectativas do mercado. O 714, que voou pela primeira vez em novembro de 2016, possui diversos aprimoramento em relação às primeiras propostas realizadas uma década atrás e rompe com diversos paradigmas.

Futuro Stratos 716 deverá ter porta com escada embutida, seguindo uma tendência do mercado 

A fuselagem e as asas fazem amplo uso de materiais compostos, o que, além de reduzir o peso e aumentar a vida útil, permitiram aos engenheiros obter um desenho aerodinâmico bastante avançado, o que não seria possível com estrutura metálica. Os primeiros testes demonstraram a escolha acertada do design geral da aeronave, que fez amplo uso de modelos computacionais na busca de um desenho que aliasse performance e espaço interno.

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Motor

A instalação do motor na parte inferior da fuselagem, com duas entradas de ar nas laterais foi adotada para manter o propulsor em linha com o centro de gravidade, evitando tanto mudanças bruscas no pitch durante as alterações de potência como, também, a necessidade de desenvolver um sistema automático de trimagem para lidar com problemas relacionados ao power-pitch coupling.

Entrada de ar dupla permite reduzir o arrasto e manter eficiência do motor Pratt & Whitney Canada JT15D-5

Um tail arm longo, ou seja, com maior distância entre o centro de gravidade e o estabilizador horizontal, representou mais um fator que auxiliou no melhor equilíbrio da aeronave. Tal configuração contribuiu para a redução da dimensão geral da cauda e ainda permitiu melhor equilíbrio entre o coeficiente máximo de sustentação das asas e o coeficiente máximo de sustentação da aeronave, segundo o fabricante. Outra solução simples, mas eficiente, foi a entrada de ar bifurcada, que permite um melhor posicionamento do motor, sem a necessidade de deslocar o intake para baixo ou para cima da fuselagem.

Motor único e central, similar de aeronaves de caça, melhor centro de gravidade e reduz o arrasto

O 716 será equipado com um motor Pratt & Whitney Canada JT15D-5 dotado de um EEC (Electronic Engine Control). De acordo com a Stratos, a opção por dois motores exigiria uma aeronave com peso bruto 5% maior e um peso total aproximadamente 14% acima do atual, gerando assim um consumo 10% superior.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 23/06/2020, às 00h00 - Atualizado em 25/06/2020, às 19h47


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