Fabricante participa de eventos nos EUA e mostra que após joint-venture com a Boeing deve investir em novos projetos
A Embraer apresenta sua visão para o futuro da mobilidade no festival de inovação South By Southwest (SXSW), apresentando pela primeira sua sala de protótipo (Prototype Room). O tema da mobilidade urbana ganha destaque entre os principais conglomerados do mundo e se torna tema de diversos eventos. Durante o evento a divisão de inovação tecnológica do fabricante brasileiro, designada como EmbraerX, destacará sua abordagem orientada ao ser humano para desenvolvimento e co-criação.
O evento que ocorre entre os dias 6 e 8 de março, em Austin, no Texas, foi o palco de lançamento das companhias Twitter, Uber e AirBnB, sendo reconhecido por reunir empreendedores, investidores e líderes de grandes empresas, além de importantes personalidades do cinema e da música.
De acordo com a EmbraerX, os visitantes serão recebidos e estimulados a participar de um espaço criativo inspirado no futuro da mobilidade aérea urbana, acessibilidade e autonomia, sendo incentivado a se conectar uns aos outros e discutir ideias revolucionárias de forma completamente inéditas.
“É preciso construir um ecossistema colaborativo para reinventar a mobilidade urbana. Para isso é importante despertar a imaginação das pessoas sobre o novo mundo que se aproxima”, comentou Antônio Campello, CEO da EmbraerX.
Para o executivo nenhuma empresa poderá sozinha conceber o futuro da mobilidade aérea urbana e defende um modelo colaborativo para o desenvolvimento de novas tecnologias. “Isso só será possível se conseguirmos acender a imaginação das pessoas e mostrar que não estamos oferecendo apenas um novo produto, mas um caminho para uma verdadeira transformação social”, acredita.
A EmbraerX também participará de um painel que explora o papel que a experiência do usuário (UX) desempenha na construção do futuro da mobilidade acessível para todos e também examinará as maneiras pelas quais as pessoas e tecnologias inteligentes interagirão com segurança na nova era do autônomo e comunidades em rede.
Após avançar no processo de criação de uma joint-venture para sua divisão de aviação comercial, a Embraer foca seu futuro em diversas novas áreas de desenvolvimento. A companhia busca novas oportunidades de negócios, como nos eVTOL, que deve tornar realidade o carro-voador. O eVTOL é o acrônimo de eletrical vertical take-off and landing (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical), que na prática poderão se tornar veículos aéreos de transporte em massa, dedicados especialmente para ambientes urbanos, viabilizando assim o antigo sonho de um carro-voador.
Todavia, executivos da Embraer garantem que não necessariamente o foco seja o desenvolvimento do veículo, mas pode incluir ainda toda uma gama de serviços extremamente rentáveis. Uma das apostas do setor aeronáutico é o desenvolvimento de tecnologias autônomas, como sistemas de inteligência artificial que tenham capacidade de ser responsável por todo o voo. “O veículo é algo relativamente simples, um fabricante estabelecido possui tecnologia para criar o veículo, asas, motores, entre outros. O principal, por tanto mais rentável, é solucionar o sistema de controle, ambiente de voo, etc”, afirma Olavo Gomes, consultor aeronáutico
Atualmente a Embraer, via Atech, deverá se posicionar de forma competitiva no setor para esse novo modal de transporte. A estratégia permite que o fabricante forneça tecnologias de ponta, sem necessariamente se envolver no projeto final. Diversos fabricantes têm apostado nessa estratégia, incluindo a Otis Elevadores, que recentemente fechou uma parceria com a Sikorsky para desenvolvimento de tecnologias para voo autônomo.
“Enquanto o veículo é parte da eventual solução para a mobilidade urbana, julgamos que muitas tecnologias já se encontram em curso e já demonstraram seu potencial. O que estamos estudando agora é como chegar à experiência de ligação natural, suave e integrada”, comenta Jonathan Hartman, que lidera o time de tecnologias disruptivas da Sikorsky Innovations.
A Embraer também faz parte do Uber Elevate Network, uma rede de empresas de alta tecnologias que trabalha na criação de novas soluções para o transporte aéreo sob demanda, que possui potencial de transformar radicalmente a mobilidade urbana.
Na opinião de Paula Macedo, líder do time de experiência do usuário da EmbraerX, é preciso abordar a inovação dentro de um contexto social; “O eVTOL é para ser um veículo de massa. Quando falamos de mobilidade aérea urbana, não estamos preocupados só em desenvolver veículos, mas em pensar como vai ser a cidade do futuro”, afirma.
A ascensão da tecnologia eVTOL está tornando esse modal de transporte aéreo uma possibilidade real, apesar da indústria continuar em um estágio inicial. Dessa forma, a visão exige significantes parcerias e integração entre plataformas de compartilhamento de transporte, fabricantes de aeronaves e infraestrutura. Outro desafio é a criação de políticas públicas e gerenciamento de tráfego aéreo, que permitam o uso coordenado e regulamentado do novo sistema. Especialistas acreditam que o desafio para os próximos anos é similar ao visto pela indústria aeronáutica no início do século 20, quando foi necessário criar uma série de regras e tecnologias do zero, enfrentando muitas vezes a desconfiança da sociedade. “O que vemos hoje os pioneiros da aviação passaram nas primeiras duas décadas do século 20. Tiveram que inovar e criar um ambiente para suas criações”, relembra Olavo Gomes. “O grande avanço se deu nas guerras. Hoje o maior conflito é o tempo perdido nas metrópoles entre deslocamentos”.
Para a Embraer o desenvolvimento de novos mercados poderá significar uma mudança em sua estratégia, passando a atuar não apenas como fabricante de aeronaves, mas como integradora e fornecedora de alta tecnologia. Um caminho similar a empresas como a norte-americana Scaled Composites, especialista em inovação, que ao longo dos últimos anos criou uma série de tecnologias em uso por fabricantes aeronáuticos ao redor do mundo.
Da mesma forma, o mercado de eVTOL tem chamado atenção de gigantes como a Airbus e Boeing, que trabalham em uma série de projetos voltados para mobilidade urbana. Em janeiro a Boeing NeXt, divisão responsável pelos estudos de mobilidade aérea urbana da fabricante norte-americana, voou com seu primeiro eVTOL. O projeto é conduzido em parceria com a também subsidiária da Boeing, Aurora Flight Sciences, que é responsável pelo projeto do veículo.
O protótipo completou uma decolagem controlada, pairando e pousando, validando as funções autônomas e os sistemas de controle de solo do veículo. “Em um ano, evoluímos de um projeto conceitual para um protótipo voador”, disse o diretor de tecnologia da Boeing, Greg Hyslop.
“A autonomia certificável vai tornar a mobilidade aérea urbana silenciosa, limpa e segura possível”, disse John Langford, presidente e diretor executivo da Aurora Flight Sciences.
Já a europeia Airbus, avança nos estudos do demonstrador de tecnologia CityAirbus, um pequeno veículo aéreo elétrico para até quatro passageiros. O modelo conta com um motor desenvolvido pela alemã Siemens e baterias da Airbus Defense and Space, que permitem ao CityAirbus voar por até 15 minutos, desenvolvendo velocidade média de 120 km/h. Ainda que a autonomia seja limitada, o destaque está na capacidade de carga, estimada em 250 kg, o suficiente para transporte de passageiros em centros urbanos.
Por Edmundo Ubiratan | Foto: Divulgação
Publicado em 06/03/2019, às 13h00 - Atualizado às 14h20
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