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Como escolher seu tablet?

Um guia de como comprar e usar os chamados EFB dentro da nova regulamentação para uso de informação aeronáutica em formato digital


O uso dos tablets em aviação tende a crescer no Brasil com a publicação da Instrução Suplementar que regulamenta os chamados Electronic Flight Bags (EFB). Com a norma IS 91-002 Revisão A, pilotos da aviação geral passam a dispor do acesso às informações aeronáuticas e demais facilidades proporcionadas pelas tabuletas digitais, incluindo até a integração com redes 3G/4G e outros acessórios. Mas como aplicar a norma e qual dispositivo escolher? Para ajudá-lo a tomar a decisão correta ao optar por essa ferramenta tão útil tanto no planejamento quanto na execução de voos, montamos uma sequência lógica de raciocínio para você preceder dentro das normas ao decidir adquirir seu EFB.

Antes de pensar em comprar alguma coisa, verifique se sua aeronave sofre interferência nos sistemas de comunicação e navegação, um dos itens da lista de verificação da Instrução Suplementar. Essa verificação pode ser realizada de forma inicial com um smartphone e a aeronave no solo, avaliando cada um dos sistemas individualmente. Lembre-se de ligar e desligar a rede de dados, verificando o comportamento nos sistemas da aeronave. A AC 120-76C da FAA detalha como fazer essa avaliação, disponibilizando uma lista de verificação específica para o equipamento selecionado.

Com a avaliação e a certeza de que a aeronave pode receber um tablet sem interferências, o primeiro passo é definir qual o modelo a ser adquirido, considerando que telas menores de 9 polegadas (22,86 cm) não são aceitas. Ou seja, de cara, estão descartados os smartphones e os tablets iPad mini, Galaxy Tab S 8,4, entre outros. Caso tenha dúvida, meça a diagonal da tela conforme a figura. Se o seu equipamento possui tela de dimensão igual ou superior a 9 polegadas, siga em frente, senão busque uma opção.

Para os próximos passos, algumas decisões precisam ser tomadas antes de adquirir o seu equipamento. Por isso é importante se perguntar:

  • Vou usar aplicações em voo com posicionamento no tablet?

    Medida mínima da tela do tablet para uso aeronáutico

    Se for usar para as aplicações em voo, a sugestão é comprar o tablet com GPS.
  • Qual deve ser a capacidade de armazenamento?
    Em alguns modelos de tablet, a decisão ocorre na hora da compra. Se você usa o tablet para cartas de navegação na aeronave, a sugestão é a versão de 32 GB pelo menos.
  • Vou querer receber informações em voo (para quem trabalha com helicóptero e está voando dentro da cobertura da rede celular), ou serão apenas informações de planejamento de voo no solo?
    Para voar dentro da cobertura da rede de celular, pense no modelo com o 3G/4G e ative um plano para acessar a internet.
  • Vou alimentar a bateria em voo?
    Se sim, um adaptador de 12/24 V (confira a tensão no manual da aeronave) para o cabo USB é a solução mais comum.
  • Vou fixar na aeronave ou prendê-lo na perna?
    Se você fixar permanentemente na estrutura da aeronave, aconselhamos procurar uma oficina de mecânica aeronáutica e obter um STC (Certificado Suplementar de Tipo, na sigla em inglês) na ANAC. Esse procedimento não é necessário para fixação por ventosas, que são móveis e não se incorporam às aeronaves.
  • Qual é o melhor sistema operacional?
    Para ter acesso ao maior número de aplicativos, não há dúvidas de que IOS e Android são as melhores escolhas, porém, nada impede que o Windows seja usado para acessar documentos em PDF, baixados manualmente, por exemplo, do portal AISWEB pelo usuário.

Sem papéis

Como os tablets impactam nas operações aéreas da American, que chegou a gastar quase US$ 1,2 milhão por ano em combustível de aviação por causa de peso extra de cartas e manuais

A American tornou-se a primeira companhia aérea a receber aprovação da Administração Federal de Aviação (FAA) para o uso de tablets em todas as fases do voo de suas aeronaves. Até então, em cada missão, os pilotos costumavam arrastar consigo 16 kg de cartas aeronáuticas e manuais de voo para dentro da cabine que, decididamente, não é o mais espaçoso dos ambientes de trabalho. “O pior era carregar a mala com a papelada por toda parte”, contou a AERO o piloto Tim Raynor, da American Airlines, no Aeroporto O’Hare, em Chicago. “Os voos internacionais eram os piores, tínhamos de dispor de novos dados para cada país de destino, o que implicava mais e mais pastas”.

De acordo com Maya Liebman, diretora de informática da American, o peso da papelada era tão grande que já estava aumentando as despesas: o custo de transporte de peso extra já era de quase US$ 1,2 milhão por ano em combustível de aviação. Os tablets acabaram com o desperdício. “Passamos de quase 18 kg para cerca de 700 gramas”, informou, sorrindo, o comandante Raynor. “É um grande retorno de investimento”. Além disso, o uso do tablet poupa 24 milhões de páginas impressas por ano.

Os tablets estão em todas as operações do voo.
Os comissários de bordo substituíram os volumosos leitores de cartões de crédito, que eles chamavam de “tijolos”, por tablets com leitores de cartões. Paralelamente, a FAA também está validando a instalação dos seus manuais nesses dispositivos. O pessoal de manutenção que trabalha nos aviões estacionados junto aos portões de embarque também utiliza tablets. Eles dispõem agora de todos os esquemas do avião em um só lugar. Na prática, o pequeno tablet vem reinventando a experiência de voar. “Nada mal para algo mais fino do que um caderno de jornal”, comparou o comandante Tim Raynor, antes de atender seu celular.

Por Santiago Oliver

O iPad Air, da Apple, de 32 GB com 4G, com GPS integrado, é primeiro modelo voltado para aviação. Segundo o fabricante, o uso dessa versão do iPad é garantido a até 3.000 m (10.000 ft) de altitude de cabine. Porém, para o iPad ser utilizado pela United, ele passou pelo teste de descompressão rápida de 2.440 m (8.000 ft) a 15.545 m (51.000 ft). O vídeo do teste está disponível no canal Jeppesen Training do Youtube.

Tanto a Anac quanto a FAA requerem um sistema reserva para o caso do uso do tablet em voo. Se você quer abolir o papel da aeronave, compre dois equipamentos iguais e os mantenha com a mesma configuração de aplicativos e informações. Uma dica para isso é usar um sistema de nuvem, como Dropbox, Google Drive, Box ou iCloud.

Se você for voar nos Estados Unidos, a quantidade de aplicativos disponíveis para uso da aviação geral é muito grande, além de haver naquele país a rede de antenas ADS-B que, além de exibir as aeronaves em voo como um TCAS (desde que possua o receptor acoplado), recebe, sem custo, as informações meteorológicas dos radares no solo e imagens via satélite.

Como no Brasil ainda não temos uma rede de antenas ADS-B implantada, seu conjunto de informações pode ser colecionado no formato PDF e armazenado em qualquer programa de leitura de PDF, grátis ou comprado. Você pode colocar todos os documentos previstos na seção 91.203 do RBHA 91, exceto os certificados de matrícula e aeronavegabilidade, bem como a licença de estação da aeronave. Para as aeronaves experimentais, o certificado de autorização de voo experimental (CAVE) ou o certificado de autorização de voo (CAV) e o certificado de matrícula experimental (CME) devem ser portados no formato papel. Leia o anexo A da IS 91-002A para ter a lista completa e informações adicionais sobre a documentação permitida.

Hora de experimentar o sistema. Alinhado com o modelo da FAA, a Anac solicita aos pilotos que façam uma transição segura do papel para o dispositivo eletrônico, verificando o que pode dar errado e preparando-se para isso. Faça, pelo menos, um voo VFR e um voo IFR para se adaptar às alterações nos procedimentos. Por último, lembre-se de alterar a sua lista de verificações para incluir a carga prévia no tablet antes do voo ou checar se ele possui a carga suficiente para o tempo total de voo, incluindo a alternativa, bem como as datas de validade das informações aeronáuticas.

* Texto gentilmente cedido pelo autor respeitando as restrições legais estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil a seus ex-colaboradores. O oficial-aviador Carlos Eduardo Pellegrino atuou como diretor de Operações da Anac de 2011 a 2014.

Fontes de pesquisa
IS 91-002A - http://www2.anac.gov.br/biblioteca/IS/2014/IS91-002.pdf
AC 20-173 - http://www.faa.gov/documentLibrary/media/Advisory_Circular/AC%2020-173.pdf
AC 120-76C - http://www.faa.gov/documentLibrary/media/Advisory_Circular/AC_120-76C.pdf
NBAA portal - http://www.nbaa.org
AOPA portal - http://www.aopa.org
IPad Pilot News - http://www.ipadpilotnews.com
Foreflight application site - http://www.foreflight.com
Jeppesen – http://www.jeppesen.com
Apple – http://www.apple.com
Certificação da bateria - http://support.apple.com/kb/HT5423
Samsung - http://www.samsung.com

Por Carlos Eduardo Pellegrino*
Publicado em 01/09/2014, às 00h00


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