Exportações de caças russos se concentram em poucos países após escalada da guerra na Ucrânia
A Rússia enfrenta queda nas exportações de caças e depende hoje de uma base restrita de clientes militares, formada por Argélia, Belarus, Irã, Mianmar e Coreia do Norte. As sanções ocidentais e a guerra na Ucrânia reduziram a capacidade de produção e forçaram Moscou a priorizar encomendas internas, ao mesmo tempo em que aposta no Su-57 e no Su-34M para manter competitividade no mercado internacional.
Um dos maiores entraves para a indústria russa tem sido a ofensiva na Ucrânia, que resultou na perda de um número elevado de aeronaves de diferentes gerações e modelos, levando o governo priorizar encomendas domésticas em detrimento das exportações. As sanções ocidentais à importação e exportação de componentes aeroespaciais também forçaram Moscou a consolidar sua cadeia produtiva interna.
O Countering America’s Adversaries Through Sanctions Act (Caatsa), de 2017, bloqueou o fornecimento de peças ocidentais à Rússia, impactando diretamente a produção civil e militar. Em resposta, o país intensificou o desenvolvimento de modelos de quinta geração, como o Sukhoi Su-57 e na atualização de plataformas existentes, como o Su-34M.
Segundo analistas da Military Watch Magazine, os novos armamentos empregados pelo Su-34M, como o míssil de cruzeiro Kh-59MK2, aumentaram o interesse internacional pelo modelo.
Outro problema atual na base de exportação russa tem sido a falta de interesse de antigos aliados, que eduziram ou interromperam contratos de aquisição nas últimas décadas, sobretudo países do antigo bloco soviéticos.
A Argélia tornou-se, em 2020, o primeiro e até agora único cliente confirmado do Su-57. De acordo com a estatal Rosoboronexport, as primeiras unidades da versão de exportação, Su-57E, devem ser entregues até dezembro deste ano.
“Acreditamos que as entregas à Argélia consolidarão a presença do Su-57 no mercado internacional”, declarou um porta-voz da empresa russa.
Especula-se que o contrato envolva entre doze e quinze aeronaves, além de outros modelos como o Su-34M e o Su-30, destinados a substituir frota composta por obsoletos Su-24, Su-25 e MiG-29.
A Índia busca incorporar um caça furtivo à sua frota de origem ocidental e russa, mas ainda distante de decidir entre o Su-57 e o norte-americano F-35. Alguns especialistas militares indicam que ao início da operação do Su-57E na Argélia pode influenciar o debate dentro do Ministério da Defesa da Índia. Todavia, a discussão pode ser positiva ou negativa, dependendo das reais capacidades que o caça russo demonstrar.
Apesar do interesse da Coreia do Norte pelo Su-57, a falta de recursos financeiros e completa falta de experiência operacional com caças modernos torna improvável a aquisição do avião por Pyongyang. Além disso, Moscou avalia os riscos de entregar uma aeronave avançada para a Coreia do Norte, visto os riscos de colidir com os interesses chineses na região.
Recentemente o Belarus recebeu algumas unidades do Su-30MKA, que passa a ser o novo caça de referência de sua força aérea. Derivado da veterana, mas robusta plataforma do Su-27, o modelo é considerado um dos mais poderosos do arsenal russo.
O Belarus ainda estaria envolvido em um programa conjunto de desenvolvimento do Sukhoi Su-75 Checkmate, caça de quinta geração de menor custo projetado como alternativa ao Su-57 e ao F-35. O projeto anunciado há alguns anos segue sem compradores, inclusive os russos não demonstraram ainda interesse no avião, em especial por questões orçamentárias.
Embora Teerã tenha anunciado, em 2023, a compra de duas dezenas de Su-35 Flanker-E, nenhuma unidade foi entregue até agora. “Se o Irã tivesse recebido os Su-35, a balança militar regional estaria alterada”, disse Aziz Nasirzadeh, atual ministro da Defesa iraniano.
O atraso alimenta especulações de que Moscou estaria priorizando demandas domésticas e clientes estratégicos como a Argélia. A Rússia tem evitado escalar as tensões no Oriente Médio, evitando apoiar o Irã em assuntos estratégicos ou que comprometam ainda mais as relações com países da região, sobretudo Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
Já Myanmar recebeu seis caças Su-30SME até janeiro, concluindo contrato firmado em 2018. O fornecimento ocorre em meio a uma guerra civil no país, que tem obrigado o governo ditatorial recorrer constantemente ao complexo militar-industrial russo e chinês para suprir suas forças armadas diante de sanções ocidentais.
Apesar do interesse demonstrado em aeronaves como Su-35 e Su-57, a Coreia do Norte tem concentrado negociações em caças de gerações anteriores, como MiG-29 e Su-27, mais compatíveis com sua infraestrutura e orçamento. O país enfrenta dificuldades de combustível, peças e treinamento para modernizar a aviação de combate.
Além disso, a China mantém o governo norte coreano sob forte influência, evitando assim que Pyongyang aumente sua capacidade militar. O temor chinês é que em uma eventual crise institucional o governo Kim Jong Un possa iniciar uma guerra civil ou atacar seus vizinhos, sobretudo a Coreia do Sul e o Japão, comprometendo a estabilidade na região.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 19/08/2025, às 09h28