AERO Magazine
Busca

Aviação Militar

Exportações de caças russos caem com guerra na Ucrânia

Exportações de caças russos se concentram em poucos países após escalada da guerra na Ucrânia


Sanções, guerra na Ucrânia e atrasos em contratos reduzem base de clientes de exportação enquanto a Rússia busca recompor sua frota - AERO Magazine/Edmundo Ubiratan
Sanções, guerra na Ucrânia e atrasos em contratos reduzem base de clientes de exportação enquanto a Rússia busca recompor sua frota - AERO Magazine/Edmundo Ubiratan

A Rússia enfrenta queda nas exportações de caças e depende hoje de uma base restrita de clientes militares, formada por Argélia, Belarus, Irã, Mianmar e Coreia do Norte. As sanções ocidentais e a guerra na Ucrânia reduziram a capacidade de produção e forçaram Moscou a priorizar encomendas internas, ao mesmo tempo em que aposta no Su-57 e no Su-34M para manter competitividade no mercado internacional.

Um dos maiores entraves para a indústria russa tem sido a ofensiva na Ucrânia, que resultou na perda de um número elevado de aeronaves de diferentes gerações e modelos, levando o governo priorizar encomendas domésticas em detrimento das exportações. As sanções ocidentais à importação e exportação de componentes aeroespaciais também forçaram Moscou a consolidar sua cadeia produtiva interna.

Impacto das sanções

O Countering America’s Adversaries Through Sanctions Act (Caatsa), de 2017, bloqueou o fornecimento de peças ocidentais à Rússia, impactando diretamente a produção civil e militar. Em resposta, o país intensificou o desenvolvimento de modelos de quinta geração, como o Sukhoi Su-57 e na atualização de plataformas existentes, como o Su-34M.

Segundo analistas da Military Watch Magazine, os novos armamentos empregados pelo Su-34M, como o míssil de cruzeiro Kh-59MK2, aumentaram o interesse internacional pelo modelo.

Argélia como cliente-chave

Outro problema atual na base de exportação russa tem sido a falta de interesse de antigos aliados, que eduziram ou interromperam contratos de aquisição nas últimas décadas, sobretudo países do antigo bloco soviéticos.

A Argélia tornou-se, em 2020, o primeiro e até agora único cliente confirmado do Su-57. De acordo com a estatal Rosoboronexport, as primeiras unidades da versão de exportação, Su-57E, devem ser entregues até dezembro deste ano.

Acreditamos que as entregas à Argélia consolidarão a presença do Su-57 no mercado internacional”, declarou um porta-voz da empresa russa.

Especula-se que o contrato envolva entre doze e quinze aeronaves, além de outros modelos como o Su-34M e o Su-30, destinados a substituir frota composta por obsoletos Su-24, Su-25 e MiG-29.

Índia e incertezas sobre novos clientes

A Índia busca incorporar um caça furtivo à sua frota de origem ocidental e russa, mas ainda distante de decidir entre o Su-57 e o norte-americano F-35. Alguns especialistas militares indicam que ao início da operação do Su-57E na Argélia pode influenciar o debate dentro do Ministério da Defesa da Índia. Todavia, a discussão pode ser positiva ou negativa, dependendo das reais capacidades que o caça russo demonstrar.

Apesar do interesse da Coreia do Norte pelo Su-57, a falta de recursos financeiros e completa falta de experiência operacional com caças modernos torna improvável a aquisição do avião por Pyongyang. Além disso, Moscou avalia os riscos de entregar uma aeronave avançada para a Coreia do Norte, visto os riscos de colidir com os interesses chineses na região.

Belarus e o Checkmate

Recentemente o Belarus recebeu algumas unidades do Su-30MKA, que passa a ser o novo caça de referência de sua força aérea. Derivado da veterana, mas robusta plataforma do Su-27, o modelo é considerado um dos mais poderosos do arsenal russo.

O Belarus ainda estaria envolvido em um programa conjunto de desenvolvimento do Sukhoi Su-75 Checkmate, caça de quinta geração de menor custo projetado como alternativa ao Su-57 e ao F-35. O projeto anunciado há alguns anos segue sem compradores, inclusive os russos não demonstraram ainda interesse no avião, em especial por questões orçamentárias.

Atrasos e desconfiança no Irã

Embora Teerã tenha anunciado, em 2023, a compra de duas dezenas de Su-35 Flanker-E, nenhuma unidade foi entregue até agora. “Se o Irã tivesse recebido os Su-35, a balança militar regional estaria alterada”, disse Aziz Nasirzadeh, atual ministro da Defesa iraniano.

O atraso alimenta especulações de que Moscou estaria priorizando demandas domésticas e clientes estratégicos como a Argélia. A Rússia tem evitado escalar as tensões no Oriente Médio, evitando apoiar o Irã em assuntos estratégicos ou que comprometam ainda mais as relações com países da região, sobretudo Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes.

Myanmar e a dependência do eixo Rússia-China

Já Myanmar recebeu seis caças Su-30SME até janeiro, concluindo contrato firmado em 2018. O fornecimento ocorre em meio a uma guerra civil no país, que tem obrigado o governo ditatorial recorrer constantemente ao complexo militar-industrial russo e chinês para suprir suas forças armadas diante de sanções ocidentais.

Coreia do Norte e limitações operacionais

Apesar do interesse demonstrado em aeronaves como Su-35 e Su-57, a Coreia do Norte tem concentrado negociações em caças de gerações anteriores, como MiG-29 e Su-27, mais compatíveis com sua infraestrutura e orçamento. O país enfrenta dificuldades de combustível, peças e treinamento para modernizar a aviação de combate.

Além disso, a China mantém o governo norte coreano sob forte influência, evitando assim que Pyongyang aumente sua capacidade militar. O temor chinês é que em uma eventual crise institucional o governo Kim Jong Un possa iniciar uma guerra civil ou atacar seus vizinhos, sobretudo a Coreia do Sul e o Japão, comprometendo a estabilidade na região.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 19/08/2025, às 09h28


Mais Notícias