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Colisões entre aviões e aves reduziram no Brasil

Gestão da fauna e dos riscos ambientais no entorno dos aeroportos permitiu o Brasil reduzir as colisões entre aves e aviões


Entre 2021 e 2022 o total de ocorrências de colisões entre aviões e aves reduziu no Brasil - Cenipa
Entre 2021 e 2022 o total de ocorrências de colisões entre aviões e aves reduziu no Brasil - Cenipa

Em todo o mundo dos maiores problemas para a segurança de voo é relacionada ao risco aviário, ou seja, as colisões entre aves e aviões. Embora raros casos levaram a acidentes graves, o assunto é visto com preocupação pela indústria do transporte aéreo, seja pelo risco de acidentes ou por causar constantes contratempos, incluindo cancelamento de voos e prejuízos milionários.

O Brasil, que há vários anos trabalha para minimizar o problema e encontrar soluções, registrou uma redução de 10,3 pontos na quantidade de colisões de aves com aviões da aviação regular por 10.000 movimentos (pousos e decolagens) entre janeiro de 2021 a dezembro de 2022.

Os dados do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), foram compilados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) e demonstra um efeito causado pela melhora na gestão dos riscos em um momento de retomada dos voos. Ainda que a série histórias de movimentos ainda seja melhor que o pré-crise, o índice avalia as ocorrências para cada 10.000 movimentos, mantendo uma métrica capaz de comparar com precisão os números reais.

Em janeiro de 2021, esse indicador era de 19,9 eventos a cada 10.000 movimentos, já em dezembro de 2022, a taxa era de 9,6, uma redução importante de 10,3 pontos.

Quando comparado ano a ano, a diminuição dos eventos é ainda maior. No ano passado foram registradas 2.294 colisões de aviões com pássaros, o que representou uma queda de 16,3% em relação a 2021. Assim, no acumulado de 2022, o indicador de ocorrências mostrava que a cada 10.000 voos ocorreram 17,7 colisões, sendo que em 2021 a taxa havia sido de 20,8.

Há vários anos o Brasil adotou um modelo de gerenciamento do risco através de um melhor manejo ambiental e social, adotando melhores práticas na gestão de resíduos e eliminando a maior parte dos lixões, assim como realizando um estudo de fauna.

De acordo com o diretor de Segurança e Operações de Voo da ABEAR, Ruy Amparo, o que contribuiu para esse importante resultado foi o trabalho conjunto com alguns aeroportos, especialmente o de Congonhas, o principal de São Paulo, que fizeram o manejo de aves que haviam se proliferado durante o auge da pandemia, quando as operações de pousos e decolagens registraram uma queda abrupta. Durante a quase paralisação das operações aéreas entre abril de 2020 e meados de 2021, as aves, como quero-quero, que são presença permanente em aeroportos, se reproduziram em maior número e passaram a ocupar áreas de movimentação de aeronaves, como pátios e pistas.

“A severa redução das operações de pousos e decolagens no auge da pandemia fez com que populações de alguns tipos de aves que costumam habitar o entorno dos sítios aeroportuários começassem a se proliferar, já que havia poucos voos e a presença do avião naturalmente afastava esses tipos de pássaros”, explicou Amparo.

Embora as ações de manejo de fauna estejam apresentando bons resultados, o gerenciamento das áreas do entorno dos aeroportos ainda preocupa os especialistas.

“A regulamentação é fundamental para que as prefeituras possam atuar mais efetivamente para o controle ambiental, como, por exemplo, definindo locais para aterros sanitários, barragens e empresas de criação e corte de animais que são atrativos para os pássaros e não devem estar nas proximidades do aeroportos”, explica Ruy.

A Lei nº 12725/2012 define como deve ser o gerenciamento de risco de fauna, mas não possui decreto que regulamenta a atuação das prefeituras para ações locais que visem afastar o risco aviário.

No passado Amparo lembra que o Cenipa tinha condições de agir junto as autoridades para coibir atividades que atraiam aves para o entorno dos aeroportos, como abatedouros ou curtumes, o que hoje é de responsabilidade exclusivas das prefeituras.

Ainda assim, situações como da baia do Guanabara, no Rio de Janeiro, que ainda sofre com poluição e excesso de lixo, atrai diversos tipos de aves, muitas fora do sistema ambiental, como urubus, que se aproveitam de resíduos animais próximos dos aeroportos do Galeão e Santos Dumont.

A Abear tem estimulado trabalhos de prevenção para evitar a presença de aves nas áreas próximas aos sítios aeroportuários. Além disso, participa de comitês e grupos de trabalho que discutem formas de minimizar a ocorrência de “bird strike” na aviação brasileira. Um deles é o Comitê Nacional de Risco de Fauna, com a participação de todos os stakeholders envolvidos com o tema, com gerenciamento da Secretaria de Aviação Civil (SAC) como política de estado.

Atualmente o Brasil segue modelos adotados no exterior, como nos Estados Unidos, que contam com comitês dedicados ao risco aviário para o transporte aéreo. Um dos destaques dos estudos é avaliar quais aves e qual ecossistema envolvido, permitindo assim minimizar ou mesmo neutralizar os riscos de colisões e de prejudicar a vida animal.

* A Infraero afirmou que não procedia seu envolvimento
nas ações mencionadas em Congonhas. O texto foi corrigigo.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 08/03/2023, às 16h00


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