Terceira edição do evento realizada no aeroporto executivo de São Roque reuniu apenas um seleto grupo com acesso exclusivo
A terceira edição do Catarina Aviation Show reuniu no São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, localizado em São Roque, as principais marcas da aviação de negócios inseridas em um conceito de segmento de alto padrão, que também incluiu os setores automotivo e náutico.
O formato praticamente único no mundo foi desenvolvido em parceria entre a JHSF, proprietária do aeroporto, e a NürnbergMesse Brasil e agregou a aviação de negócios com dois importantes nichos de mercado, onde os consumidores normalmente transitam com facilidade, permitindo aos expositores reunir em um único espaço os principais lançamentos de cada segmento. Para se ter uma ideia, estiveram presentes marcas como BMW, McLaren, Porsche, Mercedes-Benz e Aston Martin.
Ao final dos três dias, aproximadamente 7.000 convidados estiveram presentes. Outro diferencial do Catarina Aviation Show foi criar um modelo em que apenas convidados são aceitos, sem a possibilidade de compra de ingressos por parte do público. A ideia é reunir apenas um público altamente qualificado, ou seja, com real interesse e potencial de compra conhecido.
“O objetivo do encontro não é só reunir, em um só lugar, compradores, fabricantes e distribuidores de aeronaves, mas também oferecer uma experiência a eles”, explicou João Paulo Picolo, presidente da NürnbergMesse Brasil.
Além de visitar e conhecer aas aeronaves, também foi possível realizar o test drive de supercarros como AMG GT 63S, EQS, EQE, Mustang GT, Mustang Mach E, Jaecoo e5, Taycan 4S, Cayenne GT, BMW m2, BMW l7 e BMW x7. Embora o Catarina Aviation Show tenha crescido em relação ao ano passado, a organização não planeja aumentar o número de visitantes, apenas de expositores e experiências.
“Ainda há um leque de oportunidades para explorarmos: podemos trazer ao evento marcas de moto, eletrônicos, jet-ski e destinos turísticos. Isso sem contar com a possibilidade de ampliar a presença de marcas de embarcações, que acredito que acontecerá em breve”, destacou Picolo.
Quem caminhava pelo evento notou outro ponto curioso, todos os estandes tinham basicamente o mesmo padrão e formato. Além de padronizar visualmente o ambiente, evitando uma poluição visual exagerada, o objetivo foi usar um conceito de menor emissão de carbono. A estrutura de montagem, em aço carbono, é modular e permite ser reutilizada em outros projetos. Além disso, foram adotados vidros e acabamentos também padronizados, reduzindo os custos e o impacto ambiental.
A abertura do evento teve como destaque a assinatura do primeiro contrato para o Gulfstream G700 no Brasil. Ainda que seja incomum a divulgação de acordos na aviação de negócios, esse caso em particular se destacou por envolver a Prime You, empresa de compartilhada de aeronaves, que será o operador do novo avião. Segundo Rodolfo Costa, diretor de aviação da Prime You, o G700 foi oferecido ao mercado em três cotas, de valor idêntico, sendo que duas já estão fechadas e a expectativa é assinar nas próximas semanas a última.
A escolha de uma aeronave do porte do G700 em um modelo de propriedade compartilhada é pouco comum, em especial no Brasil, onde os operadores dessa categoria de avião optam por propriedade exclusiva, garantindo assim maior privacidade e segurança. Entretanto, a Prime You acredita que poderá romper com paradigmas ao oferecer a oportunidade de clientes usufruírem da grande capacidade do G700, com menor custo de investimento inicial e depreciação, assim como redução significativa dos custos fixos mensais. Segundo Costa, cada cotista investiu aproximadamente US$ 32 milhões, prevendo um custo fixo mensal na ordem de US$ 62 mil. Assim, cada proprietário poderá usar o G700 por aproximadamente 110 dias anuais.
A Amaro Aviation também com programa de propriedade compartilhada apresentou seu segundo PC-12 NGX no evento, compartilhando o espaço com a Synerjet, representante oficial da Pilatus na América Latina. Aliás, também esteve presente o novo PC-24, modelo 2024, que agregou uma série de melhorias [leia mais nesta edição]. A Amaro Aviation se destaca por sua frota composta apenas por modelos Pilatus, sendo dois PC-12 NGX e dois PC-24, novos de fábrica.
Ainda que as empresas de compartilhamento no Brasil tenham um modelo de negócios baseado majoritariamente em aeronaves usadas, que já oferecem maior depreciação na compra, a Amaro, assim como a Prime You, optou por um caminho inverso, investindo em modelos novos. “Para nós, é interessante a possibilidade de operar aeronaves novas, principalmente pela questão de os aviões estarem na garantia, e ainda nível tecnológico superior”, destacou Marcos Amaro, CEO da Amaro Aviation.
No lado oposto, a tecnologia estava a Junkers Aircraft, que apresentou o LSA A50 Junior, uma releitura do projeto original dos anos 1920. O avião de canopi aberto foi relançado recentemente e já tem uma unidade no Brasil, que foi justamente exposta, destacando-se por ter mantido o máximo da originalidade do projeto.O senão foi a adoção do motor Rotax de 80 cavalos de potência e da aviônica Garmin G3X.
A escolha do Rotax permitiu manter as características original de pilotagem, aliada a um confiável propulsor, que oferece baixo consumo e conta com uma ampla rede de serviço ao redor do mundo. Ainda assim, para os puristas, a Junkers Aircraft trabalha no relançamento do A50 Heritage, que terá um motor radial, aproximando-se mais do projeto centenário.
O relançamento da Junkers Aicraft ocorreu há poucos anos, ainda como uma iniciativa dentro da marca Rimowa de malas de luxo. Na ocasião, a empresa apoiou o reprojeto do Junkers F-13. O CEO da empresa Dieter Morszeck, piloto e entusiasta da aviação, após vender a marca para o grupo de luxo LVMH, passou a se dedicar ao relançamento de aeronaves clássicas, incluindo a também lendária Waco.
“Em 2018, foi adquirida a Waco, nos Estados Unidos, pensando já na manufatura dos futuros [lançamentos] dos aviões Junkers”, explicou Sergio Barreto, CEO da Junkers Aircraft.
Quem também tem trabalhado em marcas com grande legado é a italiana Leonardo, que no Catarina Aviation Show promoveu os serviços premium da Agusta, a lendária marca de helicópteros há poucos anos completamente absorvida pela Leonardo Helicopters. Ainda que na época a estratégia tenha sido padronizar todos os segmentos da Finmeccanica sob a marca Leonardo, o nome Agusta ainda é bastante aceito entre operadores de helicópteros e agora é promovido como uma espécie de boutique de serviços personalizados.
No evento, a Leonardo Helicopters promoveu seus principais modelos, ainda que estivesse com apenas o AW169 na exposição estática. Coincidentemente, logo atrás, na área operacional, grande parte dos movimentos de asas rotativas no aeroporto, seja transportando visitantes para o evento, ou apenas a operação rotineira, eram realizados justamente com modelos Leonardo.
“O aeroporto é um ponto estratégico para potenciais compradores e o encontro é estratégico para novos negócios, especialmente pelo complemento de mercado que apresenta, que torna o ambiente extremamente agradável – e favorável – para quem investe neste tipo de aquisição”, afirmou Rubens Augusto Cortelazo, diretor comercial da Agusta, uma marca Leonardo. “Conseguimos avançar com alguns acordos, além de gerar novos leads. Foram mais de 20 negócios fechados em menos de três dias”.
A Embraer manteve sua presença sobretudo no setor de jatos leves, com o Phenom 300E, que há vários anos é o mais vendido da categoria e eventualmente lidera as entregas globais de aviões de negócios. A exposição estática também contou com a presença do Praetor 600, que vem ampliando a participação no segmento de jatos supermédios.
Por fim, a Bombardier realizou o lançamento nacional do Global 7500, visando disputar o segmento de aviões de ultralongo alcance, onde rivais como a Gulfstream e Dassault Aviation têm ampliado suas vendas no Brasil. No caso da marca francesa, os dois primeiros Falcon 10X, que serão os aviões de negócios com a maior cabine já lançada, foram vendidos para clientes do Brasil.
“O Catarina Aviation Show se consolidou como o maior e mais importante evento de aviação de negócios do Brasil, pois, além de reunir os principais fabricantes de aeronaves, oferecemos experiências que vão além e surpreendem o público de alta renda com novidades do mercado automotivo, de embarcações, produtos exclusivos”, conta Augusto Martins, CEO da JHSF.
Por Edmundo Ubiratan, de São Roque
Publicado em 14/06/2024, às 12h00
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