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Paris Air Show 2015

Maior salão de aviação do mundo

Com retomada dos negócios e novidades de peso, feira francesa antecipa as principais tendências do transporte aéreo mundial


Os franceses fizeram valer a condição de anfitriões na edição deste ano do Paris Air Show. Ainda que Boeing, Bombardier e Antonov tenham promovido estreias de peso, Airbus e Dassault monopolizaram holofotes na maior feira aeronáutica do mundo com suas novidades. Algumas ausências também chamaram a atenção em Le Bourget, como a do Airbus A320neo na aviação comercial e a dos Lockheed Martin F-35 e Saab Gripen NG na aviação militar. Para o Brasil, além de mais de 100 encomendas, a Embraer se mostrou otimista com a possibilidade de vender jatos para a TAP após a consolidação de sua venda para a Azul.


Mesmo ausente, o A320neo revelou-se a grande estrela da Airbus no evento

Airbus

O recorde de encomendas deste ano coube à Airbus, que anunciou um total de 421 pedidos de aviões, no valor de US$ 57 bilhões. Os acordos incluem 124 encomendas firmes, avaliadas num total de US$ 16,3 bilhões e compromissos para 297 aviões, no valor de US$ 40,7 bilhões. Destaque para as aeronaves de corredor único, com 366 ordens (incluindo 103 encomendas firmes e 263 compromissos) no valor de US$ 41,4 bilhões de dólares para a família A320. Destes pedidos, 323 correspondem ao A320neo, que atinge um total de mais de 4.000 ordens desde o seu lançamento em dezembro de 2010. A maior encomenda surgiu, precisamente, no último dia do salão, com 110 unidades para o A321neo por parte da Wizz Air. No mercado de aviões de grande porte, a Airbus acumulou 55 encomendas e compromissos no valor de US$ 15,6 bilhões, incluindo 31 modelos A350-900, 20 A330 Regional e quatro A330-300.

A Airbus também consolidou as encomendas para o A321neo ao assinar com a Korean Air um memorando de entendimento para a aquisição de 50 aviões de nova geração. O acordo é válido para 30 encomendas firmes e 20 opções, com motores Pratt & Whitney PurePower PW 1100G-JM. O presidente e CEO da Airbus, Fabrice Brégier, lembrou que esta é a primeira compra de aviões da família A320 por parte da Korean Air, “um cliente de longa data, nomeadamente, com os A380 e os A330”. Em paralelo, a companhia de bandeira do Casaquistão foi eleita para ser a lançadora do futuro A321neo LR (Long Range), após ter anunciado a compra de sete aviões da Airbus: dois A320neo, um A321neo e quatro A321neo LR, estes últimos destinados a substituir a frota de Boeing 757 nos voos de longo curso de Astana para Londres e Seul, e de Almaty para Bangkok e Hong Kong, revelou o presidente e CEO da Air Astana, Peter Foster. A compra destes aparelhos será feita pela Air Lease Corporation, cujo CEO, Steven Udvar-Hazy, confirmou a chegada dos primeiros A321neo a partir de abril de 2017.

A Air Asia vai ser o primeiro cliente da Airbus a comprar a nova solução de Flight Electronic Bag, que reduz a quantidade de papel no cockpit (manuais de voo) e, consequentemente, o peso, tornando a operação mais eficiente. O CEO Tony Fernandes confirmou que se trata da compra de um serviço para um total de 250 aviões. A Air Asia é um dos maiores operadores do mundo de aviões da Airbus.

O programa do A350 XWB prossegue de acordo com o calendário de entregas, com um quarto avião (MSN10) a juntar-se à frota de três aviões já em serviço na Qatar Airways. O MSN14 destinado à Vietnam Airlines voou pela primeira vez no dia 1 de junho; o MSN18 para a Finnair entrou na pintura no dia 28 de maio; e os aviões de TAM (MSN24), Singapore Airlines (MSN26) e Cathay Pacific (MSN29) já estão na montagem final. Paralelamente, ficou estabelecida a “definição contratual” do primeiro A350-1000 da Qatar. Este avião terá uma configuração típica para 366 passageiros e um raio de alcance de 8.000 nm (14.816 km), com o máximo de payload.

Boeing

A decolagem do 787-9 causou murmurinho em Le Bourget

A Boeing somou, nos primeiros quatro dias do salão de Paris, um total de 331 encomendas de aviões (entre ordens firmes, compromissos e opções), avaliadas em US$ 50,2 bilhões a preços de tabela. A maior encomenda foi de 100 aviões Boeing 737 MAX, avaliados em US$ 10,7 bilhões, por parte da companhia de leasing AerCap, que conta com uma base de clientes em cerca de 90 países. Outras encomendas incluem mais 100 Boeing 737 MAX, 20 aviões cargueiros Boeing 747-8F, 36 Boeing 787-9 Dreamliner, dois Boeing 737-900ER, cinco Boeing 777 ­Freighter, quatro C-17 ­Globemaster III e o primeiro jato de negócios MAX 9 BBJ.

O maior desafio financeiro hoje da Boeing é alcançar o mais cedo possível o break-even na produção do 787 Dreamliner, cujo programa viveu uma crise de gestão desde o início. Apesar de tudo, o portfólio soma hoje 1.100 encomendas, o que levará a um aumento do ritmo de produção para 12 aparelhos por mês, a partir de 2016. Mas, para Randy Tinseth, vice-presidente para o Marketing da Boeing, 2015 é o ano do 787-10, a maior das três versões do Dreamliner, com capacidade para transportar 320 passageiros numa distância de 7.300 nm (13.200 km). As encomendas firmes para esse avião já somam 142 unidades e as primeiras entregas estão previstas para 2018 “ logo a seguir ao 737-8 MAX e dois anos antes do 777-9X.

Embraer anunciou 103 novos pedidos para as famílias E-Jet E1 e E2

Bombardier CS300
O Bombardier CS300 debutou em show aéreo

Embraer

A Embraer anunciou durante a 51ª edição do Salão Internacional da Aviação de Le Bourget 103 novas encomendas dos E-Jet E1 e E2. Propriedade da província chinesa de Ghizhou, a Colorful Guizhou Airlines encomendou sete modelos E190, o primeiro dos quais será entregue até a final de 2015. As restantes 10 encomendas são opcionais e poderão valer até US$ 834 milhões. Da SkyWest veio a encomenda firme de oito E175 para voarem sob a bandeira da Alaska Airlines, que já havia pedido sete aeronaves do mesmo modelo, sendo que a primeira começará a operar já no próximo mês. Com a United Airlines, a Embraer assinou um contrato para mais 10 encomendas firmes também do E175, no valor de US$ 444 milhões e 18 opcionais, que voarão sob a alçada da United Express. O primeiro deles será entregue em 2016. Novo cliente, a empresa de leasing Aircastle Holding Corporation Limited anunciou uma encomenda firme de 25 E-Jet E2 divididos entre 15 E190-E2 e 10 E195-E2 e, ainda, a mesma quantidade de cada aeronave sob a forma de direitos de aquisição. O início das entregas do E190-E2 está agendado para 2018 e em 2019 começará a entrega dos E195-E2 ao ritmo de sete unidades por ano até ao final de 2021. Com estas encomendas, o total de ordens em carteira para o E2 subiu para 640 unidades (das quais 267 firmes). A Embraer levou a Paris um mock-up melhorado da cabine do E2 que apresentou, no ano passado, em Farnborough (Reino Unido).

O presidente da Embraer Aviação Comercial, Paulo César da Silva, admitiu em Le Bourget a possibilidade de fornecer aviões à TAP Portugal na sequência da aquisição de 61% da companhia aérea portuguesa por David Neeleman, da Azul. “A combinação da TAP com David Neeleman é incrivelmente certeira, tenho a certeza de que ele fará um excelente trabalho em melhorar a TAP e julgo que há muito espaço para aeronaves até 100 lugares. Esperamos ver E-Jets voando brevemente pela TAP”, afirmou Paulo César.

Bombardier

A Bombardier levou, finalmente, seus novos aviões CSeries a um air show, e logo em dose dupla – com o CS100, de 110 lugares, e o CS300, de 135 assentos. Na feira de Farnborough, na Inglaterra, no ano passado, as aeronaves ficaram de fora depois de uma sequência de problemas com 0 motor Pratt & Whitney PW 1500G que levou à suspensão dos testes de voo durante 100 dias. Os aviões do construtor canadense chegaram a Paris com um acréscimo de autonomia de 350 nm, elevando o seu raio de ação para 3300 nm. O CS100, pintado com as cores da companhia aérea Swiss, só ficou em exposição estática nos primeiros dois dias da feira, ­voando depois para Genebra, onde foi apresentado aos seus futuros donos. O CS300 defendeu as cores da Bombardier nos céus de Le Bourget, participando dos shows aéreos diários. As encomendas para os dois modelos somam, atualmente, 243 aeronaves. O novo presidente da Bombardier Commercial Aircraft, Fred Cromer, confirmou que a empresa estuda uma versão alongada, designada CS500: “Sim, estamos sempre pensando em formas de melhorar a família de aviões. É algo que será revisto na altura certa”, frisou. Nos próximos 20 anos, a Bombardier prevê uma procura para 5.700 aviões no segmento de 60 a 100 lugares e de 7.000 aparelhos no segmento entre 100 e 150 lugares.

Sukhoi, Mitsubishi e Comac

O Sukhoi Superjet 100 regressou a Paris numa tentativa para conquistar um segundo cliente ocidental. Até a data, apenas da companhia mexicana Interjet opera este avião de origem russa no ocidente, tendo anunciado no início do ano uma encomenda de mais 10 aparelhos, a somar aos 20 anteriores. Destes, a Interjet já recebeu 17 unidades, a última das quais estava em exposição estática em Le Bourget. De acordo com fontes do setor, as sanções da União Europeia motivadas pelo envolvimento da Rússia no conflito em curso na Ucrânia estariam prejudicando as vendas do SSJ100 e o governo russo já teve de fazer uma injeção de capital para salvar o avião da Sukhoi da ruína financeira.

A Mitsubishi Aircraft ainda não levou a Paris o muito aguardado MRJ (Mitsubishi Regional Jet). À falta de melhor, um filme sobre os primeiros testes de táxi no aeroporto de Nagoya (Japão), no início do mês de junho, celebrados pelos japoneses como se do primeiro voo se tratasse. Este é, agora, esperado para setembro ou outubro. Consideravelmente mais atrasado, o avião chinês Comac C919, com capacidade para 158 passageiros, já está na montagem final em Xangai. Contudo, os analistas do mercado consideram muito duvidoso que a primeira entrega ocorra até 2018 (inicialmente, estava previsto para 2016). A Comac anuncia dispor de uma carteira de encomendas para 507 aviões entre ordens firmes e opções.

Dassault Falcon 8X
Dassault apresentou o Falcon 8X no Paris Air Show

Aviação de negócios

Os jatos de negócios não são predominantes em Le Bourget, mas na França a Dassault não poderia perder a oportunidade de apresentar a sua última criação: o Falcon 8X, uma versão alongada do Falcon 7X, com um raio de alcance de 6.450 nm (11.945 km), capaz de voar sem escalas, com 8 passageiros, de Paris a Manila (Filipinas) ou de Nova York a Tóquio. Na exposição estática, a Dassault revelou um mock-up do Falcon 5X.

Entre os helicópteros, a Airbus Helicopters conquistou um total de 52 encomendas no Paris Air Show 2015, entre as quais, a maior ordem de compra para um só aparelho: 28 encomendas firmes e opções para o H175, o que eleva a carteira de encomendas deste helicóptero para perto de 100 unidades. O H175 foi desenhado para dar resposta à maioria dos requisitos dos operadores da indústria de gás e petróleo, com melhores níveis de conforto e eficiência de custos. Por sua vez, a operadora mexicana Transportes Aéreos Pégaso estabeleceu uma intenção de compra para a aquisição de 10 helicópteros H145, tornando-se o primeiro cliente latino-americano para este aparelho de asa rotativa de quatro toneladas. As Forças Armadas da Argentina assinaram um memorando de entendimento (MoU) para 12 aparelhos H125, tendo em vista a renovação da sua frota de AS315B Lama.

Outro destaque foi o H225M (EC225), que foi apresentado com as cores da Marinha do Brasil. Produzido na linha de montagem da Helibras, em Itajubá (MG), o modelo é um helicóptero multiemprego destinado às forças armadas, podendo realizar uma ampla gama de missões, como busca e salvamento, apoio aéreo, antissubmarino, transporte de tropas e ataque.

O construtor de helicópteros do consórcio europeu Airbus aproveitou o salão aeronáutico de Le Bourget para anunciar o lançamento de uma fase de dois anos para o desenho do conceito do X6. Com uma entrada em serviço antecipada para 2020, o X6 visa inicialmente os trabalhos relacionados com as atividades do gás e do petróleo, mas também será estudado para busca e salvamento e transporte executivo. Como membro da família Airbus, o X6 terá por base o design do recém-divulgado helicóptero H160, apresentado pela primeira vez na Europa sob a forma de um mock-up à escala real. Paralelamente, o H160 deu início à sua campanha de testes de voo, tendo realizado dois, nos dias 13 e 17 de junho, na sua sede em Marignane (França).

Airbus helicóptero conceito X6
Airbus lançou helicóptero conceito X6

Aviação militar

No segmento militar, os pilotos de teste Ignacio “Nacho” Lombo e Tony Flynn foram os responsáveis pelos voos de demonstração do A400M no Paris Air Show. A Airbus Defense & Space continua à espera da decisão das autoridades espanholas para retomar os testes dos aviões produzidos em Sevilha. As restrições foram impostas após um acidente fatal no dia 7 de maio último, que vitimou quatro dos seis tripulantes que seguiam a bordo do voo inaugural do avião MSN23 destinado à Força Aérea da Turquia. Em consequência, seis A400M (cinco para a Royal Air Force, do Reino Unido, e um para a Força Aérea francesa) aguardam pelo seu primeiro voo após a montagem final. Dois outros aviões da RAF – ambos dotados de sistemas defensivos ar-ar – aguardam igualmente a possibilidade de voltarem aos céus. Até lá, a Airbus deixou de receber qualquer pagamento dos clientes destes aviões.

Juntos, Gana e Mali encomendam um total de 11 aviões Super Tucano

A Embraer Defesa & Segurança e os ministérios da Defesa de Gana e Mali assinaram, respectivamente, contratos para a aquisição de cinco e seis aviões turbo-hélice de ataque leve e treinamento avançado A-29 Super Tucano. Os contratos incluem apoio logístico para a operação destas aeronaves, assim como a instalação de sistema de treinamento de pilotos e mecânicos. Os A-29 Super Tucano serão utilizados para missões de treinamento avançado, vigilância de fronteiras e de segurança interna.

Já a Antonov apresentou no primeiro dia de Le Bourget o seu novo avião cargueiro, o An-178. O aparelho, que estará disponível nas versões civil e militar, realizou com sucesso o seu primeiro voo em maio último, um mês após o roll-out (16 de abril de 2015) e apenas três anos depois do anúncio do lançamento. “O An-178 foi desenvolvido em tempo recorde, o que demonstra bem as capacidades da Antonov, agora integrada ao grupo Ukroboronprom”, salientou Dmytro Kiva, responsável pelo design do construtor ucraniano. Ainda que a Ucrânia passe por um período de conflito militar com a Rússia, que levou ao rompimento de todos os programas de cooperação militar entre os dois países, “embora mantendo em atividade outros programas na aviação civil”, esclareceu Kiva, que não deixou de exprimir o desejo de que “a guerra tem de parar imediatamente!”.

concorrente do ­kc-390, Antonov An-178 acaba de iniciar testes em voo

O An-178 é um avião concebido para se posicionar acima dos Airbus Military C-295 e C-27J, abaixo do C-130J-30 e em concorrência direta com o novo cargueiro militar da Embraer, o KC-390, que fez igualmente o seu primeiro voo este ano, no dia 3 de fevereiro. Os dois aparelhos apresentam dimensões praticamente idênticas – 32,23 m de comprimento para o An-178 e 35,20 m para o KC-390; uma envergadura de 30,57 m para o Antonov, contra 35,05 m do Embraer; e uma altura de 9,57 m para o avião ucraniano, versus 11,84 m para o brasileiro –, com vantagem para o Embraer no peso máximo de descolagem (67 t contra 52,4 t) e no payload (23 t contra 18 t). O Antonov tem um teto de operação máximo de 12.200 m, face aos 11.000 do brasileiro, e também pode transportar mais soldados (90 contra 80) e paraquedistas (70 contra 64). Mas o KC-390 é mais rápido: 870 km/h contra 825 km/h do An-178 para um raio de ação máximo de 2.560 km com a carga útil máxima, face aos 2.500 km do seu rival ucraniano em idêntica situação. Além do An-178 e da nova geração do An-132, a Antonov anunciou igualmente o lançamento do An-188, um avião que terá por base o An-70, mas que será dotado de quatro motores de fabricação ­ocidental, assim como de modernos aviônicos. Com um peso máximo à descolagem de 140 toneladas e um ­payload de 40 t, o futuro An-188 deverá posicionar-se acima do C-130J e abaixo do C-17 A. Roman Romanov, presidente da Ukroboronprom, realçou a importância da Antonov para a defesa e desenvolvimento do país, nomeadamente, no apoio aos militares ucranianos ao atual esforço de guerra, mas afirmou que a empresa vai aumentar a produção de aviões e estreitar os laços de cooperação com outros países.

Texto e Fotos Alexandre Coutinho, de Le Bourget
Publicado em 15/07/2015, às 00h00 - Atualizado às 03h21


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