Da aquisição da aeronave aos aplicativos, conheça as diferentes formas de se ingressar na aviação de negócios
O empresário ou profissional que alcançou uma posição financeira mais estável e pode desfrutar de conveniências que só uma aeronave de negócios proporciona deve estar atento às opções que têm no mercado.
Como é muito raro alguém adquirir um avião ou helicóptero sem conhecer o setor, preparamos aqui um guia para mostrar as várias “portas de entrada” para a aviação de negócios e recomendamos fortemente que o candidato a usuário, operador ou futuro proprietário faça uma “degustação” antes da tomada de decisão. Estes são os caminhos sugeridos:
Antes de partir para as modalidades de utilização de uma aeronave, é fundamental para quem pretende ingressar na aviação de negócios determinar com clareza suas necessidades, o perfil de uso, a missão, o tipo de operação e, principalmente, a relação entre custo e valor, pois, se essa análise for superficial, com objetivos não definidos ou dominados por componentes emocionais, há grandes chances de “deixar muito dinheiro sobre a mesa” ou ter muitos aborrecimentos com agenda, indisponibilidade, custos não previstos e assim por diante.
Por outro lado, se bem administrada, uma aeronave pode ser uma excepcional ferramenta multiplicadora de tempo e negócios. Os principais fatores a analisar são:
Podemos ilustrar essa relação entre “custo e valor” com o exemplo real de um proprietário e operador de um jato leve Cessna CJ2 há quase dez anos. Consciente dos custos envolvidos, dos benefícios da aquisição e o valor que o uso de uma aeronave traria para o dia a dia dos negócios, partiu para definição das missões e escolha da aeronave que atenderia à demanda de voos do grupo.
Com os objetivos claramente definidos, ficou estabelecido em um acordo entre os acionistas que a aeronave seria utilizada 100% a trabalho, sempre com ocupação total de passageiros e nenhum dos sócios poderia usar o avião a lazer.
Neste caso em especial, não há exceção às regras de utilização e como eles têm o controle dos custos “na ponta do lápis”, seguem operando regularmente e já fazem planos de troca por uma aeronave de maior porte.
A gestão da aeronave, custos e regras de uso são definidas pelos proprietários. Claro, há outros exemplos em que se permite aos sócios/acionistas realizar voos a lazer, desde que pagando o custo da hora de voo e que a aeronave não tenha missões de negócios na mesma data.
Essa modalidade de uso de aeronaves tem sido a primeira forma de contato para muitos interessados em conhecer a aviação de negócios ou mesmo uma aeronave específica, seja com perfil de trabalho ou lazer. Isso porque, em vez de fretar uma aeronave ou mesmo adquirir uma cota, o usuário pode comprar um assento, em voos com rotas fixas, como São Paulo para Angra dos Reis, Parati ou Ubatuba, e também disponível em outros estados e localidades, e muitos desses usuários têm se tornado frequentes.
Em rotas compartilhadas, há no mercado empresas que contam com mais de uma centena de aeronaves agregadas operadas por dezenas de táxis-aéreos, garantindo a decolagem. Em projetos especiais, com rotas específicas, o usuário pode ter de aguardar a confirmação de ocupação mínima de assentos.
O compartilhamento por aplicativo tem tido um crescimento expressivo no mercado, pois figura como uma excelente opção para quem precisa se deslocar com agilidade e busca uma alternativa econômica ao fretamento, ao compartilhamento ou à compra de uma aeronave executiva.
Outra modalidade que tem conquistado espaço, com crescente demanda no Brasil, são as pernas vazias, mais conhecidas como “empty legs”, que são oferecidas por “brokers” de fretamento, empresas de táxi-aéreo e também pelos aplicativos de compartilhamento, que disponibilizam assentos em aeronaves de negócios, em um trecho vazio de traslado, dando ocupação e rentabilidade a essa “perna”.
Assim como nos projetos especiais do compartilhamento por aplicativo, as empty legs nem sempre garantem a decolagem, mas, ainda assim, pode ser muito vantajoso e econômico para o passageiro aguardar pela confirmação do voo, em vez de fretar o avião todo para uma determinada etapa.
É um serviço disponibilizado tanto por empresas de táxi-aéreo como de propriedade compartilhada e aplicativos. Permite ao usuário comprar um pacote de uso pagando antecipadamente, por exemplo, 20 horas anuais – podendo ser mais ou menos.
Embora tenha um bom apelo comercial para clientes com baixa demanda de voos e dispense da obrigação de pagar pelo reposicionamento da aeronave, ainda não decolou no Brasil em função do reduzido número de aeronaves de um mesmo modelo ou categoria em uma frota, o que, somado às restrições operacionais, acaba por limitar a demanda e o uso dessa modalidade.
Para obter melhores condições negociais, alguns usuários adotam o conceito desse modelo (voos pré-pagos) em fretamentos e compartilhamentos.
Esses serviços são contratados sob demanda, com cotações e planejamentos prévios. Se enquadram com maior frequência no uso corporativo, pois, em geral, paga-se pelo voo fechado, seja para apenas um passageiro ou ocupação total da aeronave.
Um critério restritivo dessa modalidade, mais especificamente para o táxi-aéreo, é a chamada “fatoração”, que, na aviação, assim como na matemática, é uma equação que leva em conta o número de passageiros, a distância, o comprimento de pista, entre outros “fatores”, para mensurar a viabilidade da operação em determinados aeroportos (localidades), fazendo com que algumas vezes o voo contratado não vá exatamente do ponto “A” para o ponto “B”, tendo de alternar o destino.
Como as referências de preço por quilômetro voado no táxi-aéreo podem chegar a duas vezes (ou um pouco mais) o custo real da hora de voo, existe um ponto de equilíbrio entre o mínimo de horas voadas por mês e a viabilidade para fretamento. Preparamos um exemplo prático, tomando como referência o uso de um jato Phenom 100 da Embraer, em dois cenários:
Nota: os valores apresentados no exemplo acima são exemplos, podendo variar dependendo do operador, região, preço do combustível, câmbio do dólar, etc. São apenas para ilustrar o conceito.
Mesmo quando essa diferença entre os dois cenários aumenta, favorecendo numericamente a operação privada, muitos usuários frequentes de táxi-aéreo optam por continuar fretando, pois levam em consideração a imobilização de capital em um ativo, a depreciação do bem e a gestão da aeronave.
Logo, essa é uma decisão muito particular, cabendo ao usuário, dentro da sua realidade e seu perfil de uso, avaliar o momento da transição, que vale a pena e o investimento na aquisição do seu próprio avião ou seguir fretando.
Também conhecida como propriedade compartilhada ou fracionada, envolve a aquisição ou participação fracionada em uma aeronave, de uma empresa que opera ou gerencia frotas na categoria TPX (táxi-aéreo). O operador vendedor oferece uma aeronave de determinado modelo ou várias de uma frota com características semelhantes de operação sob a forma de ações ou participação, em frações que podem começar em 1/3 ou 1/4 até 1/16.
Paga-se uma “luva” de entrada pela “aquisição” da cota, atribuindo um número pré-determinado de horas voadas por ano, digamos, 60 horas de voo. O usuário só é cobrado pelas horas voadas, podendo em alguns casos ter de pagar um “fee” mensal se não utilizar, “ratear” os custos fixos ou pagar pelo reposicionamento da aeronave. Também é requerido que seja feita a requisição da aeronave com uma antecedência pré-determinada – essas políticas podem variar dependendo de cada empresa vendedora/operadora.
O cotista não necessariamente voará sempre na mesma aeronave ou com a mesma tripulação, mas, por contrato, terá uma aeronave na categoria contratada, sempre à disposição. Ainda em benefício dessa modalidade, além de não estar com 100% de capital imobilizado na aeronave, não assume a gestão da operação, manutenção etc., e tem horizonte de saída para revender a posição, deduzidas as taxas administrativas.
Um ponto negativo da propriedade compartilhada no Brasil é que as empresas que operam esse tipo de negócio não têm frotas expressivas de um determinado modelo, como grandes companhias internacionais de “fractional ownership”, que oferecem muitas vezes 30, 40 ou 50 aeronaves numa determinada categoria, somado ao tamanho do nosso país, diferentes perfis de utilização e regiões, aumentando as regras, restrições e condições de uso.
Por exemplo, imagine um cotista que solicite um avião com antecedência, para uma missão partindo de São Paulo para Fortaleza e retornando para São Paulo em dois dias, e tenha um contratempo que o impossibilite de voltar na data combinada. Ele pode se ver obrigado a pagar pernoite e outros adicionais ou ainda ter de arcar com os custos de reposicionamento do avião para São Paulo (vazio), caso outro cliente tenha um agendamento para a data que foi excedida pelo primeiro cotista.
Em contrapartida, essa modalidade experimenta grande sucesso quando falamos de helicópteros, principalmente em grandes centros e capitais, pois, devido ao perfil de utilização para deslocamentos rápidos, entre centros comerciais, aeroportos, campo, fazendas ou praias próximas, o operador do fracionado pode ter uma frota mais reduzida e atender muito bem a um número maior de cotistas num mesmo período, retornando para sua base.
Além da disponibilidade dos equipamentos, a operação e manutenção de helicópteros requer atenção especial, pois tem mais detalhes, intervalos menores de inspeção e custos. Assim, figura como ótima opção ao cliente interessado em ter seu próprio helicóptero, mas não tem a experiência necessária na administração ou não está disposto a assumir a gestão e os custo próprios.
Uma informação muito importante para o interessado em uma das cinco modalidades acima descritas é que as aeronaves disponibilizadas num “pool” de compartilhamento, fracionado ou fretamento, têm de ser operadas por empresas de táxi-aéreo regularmente cadastradas na Anac, o que garante a segurança da operação e dos passageiros. As aeronaves disponibilizadas pelos aplicativos e empresas de fretamento ou compartilhamento vão desde monomotores, passando por turbo-hélices até jatos e helicópteros de negócios.
Aqui entramos em um nível acima na aviação de negócios. Após percorrer os caminhos de familiarização com o setor, suas variáveis e particularidades, chegou a hora de ser proprietário de um avião ou helicóptero.
Uma importante mensagem que queremos sublinhar nesta abordagem é que é possível e acessível ter sua própria aeronave. Você pode começar com um monomotor usado, como Tupi, Corisco, Skyhawlk, que levam três passageiros e um piloto, consumindo mais ou menos 40 litros por hora ou aproximadamente 400 reais de combustível para percorrer 200 a 220 quilômetros em uma hora, investindo a partir de 350 mil reais e contabilizando benefícios imediatos.
Outro ponto de destaque é que bancos de primeira linha oferecem opções de financiamento para aeronaves com entrada de 25% a 30% e saldo entre 36 e 60 meses para pagar. Quanto mais novas as aeronaves, melhores são as condições e taxas das linhas de crédito.
Dos benefícios exclusivos que a aviação de negócios pode proporcionar, temos estes: decidir para onde quer ir e quando fazer isso, mais de 2400 pistas à sua disposição, acessos exclusivos e privativos, sigilo e confidencialidade dos destinos e missões, autonomia e flexibilidade de agenda, ir para duas, três ou quatro localidades no mesmo dia e voltar para casa, segurança pessoal e de deslocamento – é muito mais seguro voar do que ir de carro –, agilidade, privacidade e conforto.
À medida que o proprietário evolui nas categorias de asa fixa ou rotativa (de monomotor a pistão para um bimotor, de um bimotor a pistão para um turbo-hélice ou do turbo-hélice para um jato, ou do helicóptero a pistão para o monoturbina ou do monoturbina para o biturbina), outras vantagens e conveniências são adicionadas à operação, mas a essência da administração permanece a mesma. É possível manter a aeronave com um departamento próprio de aviação, nomeando um gestor interno ou terceirizado para o gerenciamento, mas tendo em mente que todas as decisões envolvendo tripulação, manutenção e operação são de responsabilidade do proprietário.
Em linhas gerais, a aviação de negócios te coloca numa posição privilegiada para gestão e controle do seu tempo. Não existe uma linha de corte, pontuação ou critério específico que credencie um cliente o mudar de categoria de usuário para proprietário, pois cada uma das modalidades apresentadas tem prós e contras.
O momento de cada um é único nas suas motivações, necessidades, objetivos e missões, faixa e disposição para um investimento em aviação. Nesse sentido, para pertencer e usufruir dos benefícios que só as aeronaves privativas entregam, é uma questão de análise, decisão, escolha e ação.
* Cássio Polli é Broker e avaliador de aeronaves,
certificado pela ASA e pela USPAP e colaborador de AERO Magazine.
Por Cássio Polli*
Publicado em 12/07/2023, às 15h01
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